O Distrito Federal conta com um dos maiores potenciais fotovoltaicos do país. Atualmente, 30,9 mil unidades de todas as regiões administrativas têm o sistema instalado — sendo 13.843 em unidades residenciais. Os números são da Neoenergia Brasília, que não tem dados de anos anteriores. Desde 2012, esse modelo energético proporcionou ao DF a atração de R$ 2 bilhões em investimentos, geração de mais de 12 mil empregos e a arrecadação de mais de R$ 600 milhões aos cofres públicos, de acordo com a Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar).
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O potencial do DF se deve à sua irradiação solar, como explica o professor do curso de engenharia elétrica da Universidade Católica de Brasília (UCB) Luciano Duque. "A nossa irradiação equivale a 5,2 watts/hora (w/h) de sol por metro quadrado, sendo que a média nacional é de 2,3 w/h por m². É muito intensa, o que favorece o uso de energia solar", comenta. Por isso, de acordo com a Absolar, Brasília está em primeiro no ranking municipal de potência instalada, com 418,1 megawatts (confira o quadro).
O especialista destaca que o número de unidades residenciais que contam com o sistema está aquém do que pode ser instalado, se comparado à população total do DF. "Mas vale destacar que o custo é alto, o que ainda assusta um pouco. Em uma unidade que consome 350 kw/h, o custo de implementação seria, em média, R$ 23 mil. Apesar de caro, isso seria pago, em média, ao longo de quatro anos", avalia o professor.
Mas o presidente do Conselho de Administração da Absolar, Ronaldo Koloszuk, destaca que o crescimento das instalações de sistemas de energia solar pelos consumidores é reflexo da popularização da tecnologia. "Analistas de mercado apontam que, apenas em 2023, os preços dos painéis solares registraram queda de cerca de 50% no preço médio final, ampliando a atratividade e o acesso por consumidores brasileiros de diferentes perfis", comenta.
Rodrigo Sauaia, CEO da associação, ressalta que o avanço da geração própria de energia solar fortalece a sustentabilidade, alivia o orçamento das famílias e amplia a competitividade dos setores produtivos brasileiros. "Além de contribuir diretamente para geração de emprego e renda, economia no bolso dos consumidores e redução das emissões de poluentes, a tecnologia fotovoltaica na geração própria reduz o uso da infraestrutura de transmissão, aliviando pressões sobre sua operação e diminuindo perdas em longas distâncias, o que contribui para a confiabilidade e a segurança em momentos críticos", explica.
Lucro
Doutor em desenvolvimento sustentável pela Universidade de Brasília (UnB), o ambientalista Christian Della Giustina afirma que os benefícios da energia solar vão muito além da economia. "Ela é importante como uma fonte complementar da nossa matriz energética. Se pudermos hierarquizar, ela estaria, com toda certeza, entre as mais limpas, pois não gera nenhum tipo de impacto para o ambiente", ressalta. "As usinas fósseis geram gás carbônico, que contribuem com o efeito estufa. As hidrelétricas, apesar de serem limpas, impactam na fauna aquática, pois elas barram os rios", aponta.
"Hoje, a energia solar se tornou uma tendência e o mercado de usinas fotovoltaicas, por exemplo, tem crescido bastante", avalia o especialista. Para Della Giustina, a única ressalva fica por conta da segurança energética. "Ela depende da incidência solar para funcionar e, caso tenhamos períodos muito grandes sem sol, poderíamos passar por falhas de abastecimento da rede", aponta o especialista.
Um dos que decidiu instalar o sistema foi o terapeuta Sandro Brito, 52 anos. O morador do Núcleo Bandeirante conta que, há dois anos e meio, solicitou um orçamento, pois a conta de energia estava ficando muito cara. "No início, achei muito caro e decidi adiar. Só que, no fim do ano passado, a conta mensal chegou a R$ 1 mil. Voltei a orçar e o valor havia diminuído e, levando em consideração o que pagava nas contas, valeria a pena instalar", afirma.
Além da economia, o terapeuta destaca que sempre teve uma visão sustentável. "Acredito que, se puder diminuir o impacto ambiental de alguma maneira, esta seria uma delas", observa. O investimento, segundo Brito, foi de R$ 23 mil, que deve se pagar em pouco menos de dois anos, de acordo com ele. "Minha última conta sem a geração fotovoltaica foi de R$ 840 e a nova conta de energia, com geração solar, foi de R$ 80", calcula.
O morador do Núcleo Bandeirante lista algumas vantagens. "Vão desde a diminuição do impacto ao meio ambiente, passando pela economia propriamente dita, até o projeto de ter uma casa inteligente, onde não haverá consumo de gás de cozinha (adoção de fogão elétrico) e de abastecimento com combustíveis fósseis, com a aquisição de veículos elétricos", destaca.
Em Águas Claras, Román Cuattrin, 52, é síndico de um condomínio e decidiu, há mais de dois anos, adotar o sistema para o local, pois a conta estava subindo muito. "O mais difícil foi convencer os condôminos, em assembleia. Muitos se assustaram com os valores. Tive que mostrar aos moradores que o investimento se pagaria em um curtíssimo prazo de tempo", comenta. "Fizemos um empréstimo de R$ 200 mil, em que a parcela ficou no mesmo valor da conta de luz. Depois que terminarmos de pagar, esse dinheiro se tornará lucro para o condomínio, pois a conta caiu 90% após a instalação do sistema", afirma Cuattrin.
De acordo com o síndico, a ideia é que ela zere todos os meses. "Nosso consumo está em 6,5 mil kw/h, o que daria R$ 6,5 mil em conta, caso não tivéssemos os painéis. Depois da instalação, passamos a pagar basicamente as taxas de iluminação pública e de energia mínima", detalha.
De acordo com o professor do curso de engenharia elétrica da UCB Luciano Duque, para alavancar mais o uso de energia fotovoltaica no DF, é necessário criar políticas de incentivo. "Além disso, a redução de impostos e a abertura de créditos, intensificados com taxas de juros menores, incentivariam a população a aderir ao sistema de geração de energia solar", avalia.
Confiança
Sócio de uma empresa que trabalha com a instalação de painéis solares, Hugo Leonardo Araújo, 41, destaca que a energia fotovoltaica é muito viável. "Ela não traz benefícios só para a conta de energia. Além disso, é um ramo que está em grande crescimento, pois temos mais pessoas confiando na tecnologia", avalia. "Muitos clientes nos procuram, mesmo que pela curiosidade e, depois, acabam investindo, por causa das condições oferecidas. Fazemos uma média de quatro instalações mensais", detalha o empresário.
Hugo Leonardo dá dicas para quem está pensando em aderir ao sistema. "É fazer contas. Para quem precisar de um financiamento, pelo custo alto, o ideal é procurar por parcelas que fiquem abaixo do valor que está pagando na conta de luz, no máximo igual", observa. "Isso porque, após o término do pagamento do empréstimo, o valor que era pago na conta, ficará de lucro para a pessoa", argumenta.
Sobre a manutenção, o empresário destaca que o valor da manutenção é baixo e feita, basicamente, com água e pano. "Nada de sabão. É preciso fazer a limpeza constantemente, para evitar a diminuição do contato da luz solar com as células do painel, por causa da poeira", comenta. "Não é preciso um especialista para fazer essa limpeza, qualquer um pode realizá-la, desde que tome cuidado para não pisar nas placas", alerta.
Potência instalada (em MW)
1º Brasília - 418,1
2º Cuiabá - 312,6
3º Campo Grande - 286,3
4º Teresina - 258,3
5º Rio de Janeiro - 239,5
Fonte: ABSOLAR
Usina Pública
O Governo do Distrito Federal, por meio do Instituto Brasília Ambiental (Ibram), inaugurou, em junho, a primeira Usina Pública de Energia Solar Fotovoltaica, que conta com 1.310 placas solares, e foi criada para atender 80 prédios do setor público. Localizada no Parque Ecológico de Águas Claras. A usina deve gerar um total de 962,77 MW/h por ano, o que equivale a uma economia de aproximadamente R$ 1 milhão, de acordo com o GDF. O investimento foi de R$ 4,3 milhões.
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