As crianças brasileiras de até cinco anos estão apresentando menos cárie dentária. Ainda assim, são apenas 53% delas sem esse problema, um índice que preocupa. O assunto foi discutido com a odontopediatra Ianara Pinho, no programa CB.Saúde — parceria entre o Correio e a TV Brasília — desta quinta-feira (1º/8). Na entrevista às jornalistas Carmen Souza e Sibele Negromonte, a especialista também destacou o bruxismo, comum em crianças, e a importância do teste da linguinha.
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O governo federal comemora o aumento no número de crianças de até 5 anos sem cárie, um crescimento de 10% em comparação a 10 anos. Cerca de 53% das crianças não têm cárie, mas ainda é um índice alto.
É um índice alarmante, principalmente se tratando do Brasil, onde temos a triste nomenclatura pejorativa de "país dos desdentados". Mas, nos consultórios particulares, a realidade está melhor. O objetivo da odontopediatria é que as crianças tenham zero cárie, ou seja, que não tenham essa experiência em suas vidas.
O que resultou na melhora desse quadro?
O flúor — elemento químico — tanto na água quanto na pasta de dentes. É cientificamente comprovado que o flúor traz benefícios para a saúde bucal de crianças e adultos. Além disso, hoje, existem mais campanhas educativas sobre saúde bucal. As famílias também estão mais atentas a isso, e o acesso ao serviço de saúde melhorou. Embora ainda precise melhorar muito, as pessoas, hoje, têm mais acesso a serviços de saúde odontológica.
Quais são as implicações de uma cárie?
A cárie nunca começa grande. Faço aqui um alerta para os pais: esse problema sempre inicia com uma mancha esbranquiçada no dente. Nem todas as manchas podem ser cáries, mas fica o aviso, pois talvez seja necessária uma consulta com o odontopediatra. Se os hábitos da pessoa não mudarem, o problema dentário vai evoluindo até que o dente precise ser extraído.
É necessária uma rotina de higienização diferente para quem consome alimentos ultraprocessados e com excesso de açúcar?
Com certeza. A cárie é uma doença que chamamos de multifatorial, ou seja, não é apenas um aspecto que está desequilibrado, é uma rotina. E não só os alimentos ultraprocessados, mas também as mamadeiras ricas em açúcares, que geralmente as crianças tomam, favorecem muito o aparecimento de cárie. Estudos recentes mostram que a alimentação é um dos aspectos que têm maior relevância no surgimento de cáries.
Quando os filhos conseguem escovar os dentes sozinhos?
Em geral, a criança consegue adquirir coordenação motora fina para a escovação a partir dos sete anos. Até lá, os pais devem estar presentes durante a escovação.
Quando levar as crianças ao odontopediatra?
Em geral, o surgimento do primeiro dente é o momento em que devemos levá-las ao odontopediatra. Mas, em alguns casos, precisamos levá-las antes. O primeiro dente, geralmente, aparece por volta dos seis meses.
Antigamente, era recomendado o uso de gaze com água filtrada para limpar a boca da criança. Isso ainda é necessário?
Não mais. Estudos recentes mostram que não devemos higienizar a gengiva das crianças que ainda não têm dentes, como era feito antigamente. Existem fatores protetores nas gengivas que são removidos com essa limpeza. É claro que, quando a língua do bebê estiver mais esbranquiçada devido à amamentação, podemos fazer a limpeza uma ou duas vezes por semana.
Outro cuidado é o teste da linguinha.
Temos uma lei que estabelece que o teste da linguinha deve ser realizado sempre que o bebê nasce, ainda na maternidade, nas primeiras 48 horas. Se é detectado que o freio da língua está curto ou duvidoso, é indicada uma consulta com o odontopediatra para uma segunda avaliação desse freio. Se for identificado que ele está curto e dificultando a amamentação, partimos para medidas mais profundas, pois isso pode dificultar algumas funções do bebê.
E quanto ao bruxismo, é comum em crianças?
É muito comum. Os pais chegam aflitos porque as crianças fazem barulho enquanto dormem. Isso traz algumas consequências, como desgastes dos dentes e dores nas articulações. O bruxismo está associado a vários fatores, sendo o primeiro deles as questões respiratórias. Crianças com problemas respiratórios têm maior tendência ao bruxismo. Fatores emocionais também podem influenciar, como quando a criança está passando por uma mudança significativa, como de escola, separação dos pais ou a chegada de um irmão. Esses são fatores que geram estresse e podem desencadear o bruxismo.
*Estagiário sob a supervisão de Malcia Afonso
Veja a entrevista:
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