No Distrito Federal, a quantidade de apreensões de animais de grande porte vítimas de maus-tratos ou abandono quase dobrou no primeiro semestre deste ano, totalizando 257 casos, um aumento de 90% em relação ao mesmo período de 2023. No curral da Secretaria de Agricultura, Abastecimento e Desenvolvimento Rural (Seagri), onde ficam, os bichos são cuidados e, a depender do caso, colocados para adoção, tarefa que fica por conta da Gerência de Apreensão de Animais (Geam). Até junho, 90 animais foram adotados; 15 seguem buscando um novo abrigo.
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Foi assistindo a uma reportagem sobre o tema que Odalvina Rodrigues, 45 anos, tomou conhecimento sobre a possibilidade de adotar cavalos, via Seagri. A produtora rural familiar, que já cria bois, ovelhas, galinhas e porcos, buscava animais que pudessem auxiliá-la a puxar o gado. No início deste ano, entregou a documentação necessária para tentar a adoção dos equinos.
"Fiquei muito comovida com a situação deles, então, decidi pegar os mais debilitados para cuidar e dar carinho. Agora, com certeza, não serão mais maltratados", contou. Um mês após a solicitação, Odalvina levou para casa os cavalos Polo, Apolo e Rockis e a mula Mimosa. O quarteto, que ainda se recupera dos maus-tratos, agora recebe atendimento veterinário e passa por procedimentos de higiene. "Eles só vão me ajudar com o gado quando estiverem totalmente recuperados", completou.
Acolhimento
Animais de grande porte exigem cuidados específicos e, normalmente, caros, fator que pode interferir na quantidade de abandonos e na dificuldade de adoção, segundo a veterinária Daniella Mendes. "Além disso, dados revelam que muitos bichos abandonados são doentes ou já envelhecidos, visto que alguns proprietários não se disponibilizam a cuidar deles nessas circunstâncias", afirmou a também coordenadora do curso de medicina veterinária do Centro Universitário Uniceplac.
O acolhimento e a criação de condições para o bem-estar do animal adotado, considerando as necessidades de cada espécie, é fundamental. "Inicialmente deve-se realizar uma avaliação do estado de saúde, promover o tratamento adequado, se houver a necessidade, e oferecer instalações e alimentação adequadas", completou Daniella.
Quando apreendidos, os animais passam por uma triagem veterinária, cujo foco é o monitoramento de doenças de notificação obrigatória, conforme determinam os programas sanitários do Ministério da Agricultura. Caso necessitem de atendimento clínico de baixa complexidade, são tratados no próprio Geam. Se demandarem intervenções de maior complexidade, são conduzidos ao Hospital Veterinário de Grandes Animais (HVET) da Universidade de Brasília (UnB).
Durante o tempo em que ficam sob custódia da Seagri, os bichos são mantidos em espaço aberto e recebem alimentação adequada, como feno tipo A, água, medicamentos, atendimento e tratamento veterinário. Outros cuidados incluem a realização de exames, o transporte, a manutenção e a segurança da estrutura onde são alocados.
Condição digna
Para o Correio, Odalvina detalhou as sequelas que três dos animais carregam devido aos maus-tratos que sofreram. "Rockis é o mais debilitado. Ficou cego de um olho, que foi furado, e perdeu uma orelha, que foi cortada. Polo era explorado por um carroceiro e estava com a ferradura completamente desgastada. Mimosa desenvolveu uma deficiência na pata, que ficou torta, e estava aguardando por um lar há mais de um ano no curral da Seagri".
Em sua chácara na Fercal, a produtora rural conta com a ajuda dos dois filhos para manter a saúde dos equinos em dia. "Não deixamos de limpar as orelhas, cortar e lixar o casco e aparar os pelos. Depois de seis meses, eles já estão habituados com a rotina da roça; fizeram amizade com os outros animais", contou a tutora dos cavalos e da mula.
Rafael Bueno, secretário da Agricultura, destacou que os interessados em adotar animais de grande porte precisam dispor de um local adequado, como uma chácara ou fazenda, além de recursos para sustentá-los. "É essencial oferecer uma condição digna a esses animais, pois eles merecem uma vida boa, com qualidade, sem maus-tratos ou abandono, como era situação de onde foram resgatados", disse. A quantidade de animais adotados por pessoa varia de acordo com a capacidade de criação e da área que o interessado possui para a finalidade.