Nos passos da medalhista olímpica

A "fadinha" do skate brasileiro, Rayssa Leal, inspirou jovens atletas e movimentou o comércio especializado do DF abraçando o público feminino

Marcela Santan, Carol Arrulio e Mariana Brito se reuniram na pista Sukata, no Cruzeiro -  (crédito: Minervino Júnior/CB/D.A.Press)
Marcela Santan, Carol Arrulio e Mariana Brito se reuniram na pista Sukata, no Cruzeiro - (crédito: Minervino Júnior/CB/D.A.Press)

Hit do final do século passado, o skate voltou a empolgar os brasileiros após a modalidade conquistar cinco medalhas olímpicas, três em Tóquio (2021) e duas em Paris (2024). O grande estímulo, principalmente para as meninas, é a "fadinha do skate", Rayssa Leal, medalhista olímpica que trouxe uma prata (Tóquio) e um bronze (Paris) para o Brasil. 

Na pista Sukata, localizada no Cruzeiro, a jovem Carolina Arroyo, 15 anos, voava alto nas manobras. Ao lado da prima carioca Mariana Brito, também skatista, ela comentou que iniciou no skate depois de ver vídeos da Rayssa Leal. "Foi a minha principal inspiração. Também acompanhei meu pai, que andava de skate. Depois disso, passei a gostar muito do esporte e pedi um skate para ele", revelou. Carolina disse que, além de Rayssa, também se inspirou na britânica Sky Brown e no brasileiro Gui Khury.

Colecionando várias participações em campeonatos pelo DF, Carolina destacou os momentos marcantes. "No último, ocorrido na semana passada, aqui no Sukata, fiquei em segundo lugar. Mas o mais memorável foi o primeiro campeonato que fiquei em primeiro lugar, também aqui no Sukata. Depois daquele momento, descobri que queria ser skatista profissional", recordou.

Gerente de uma loja que vende produtos de skate na Asa Sul, Célio José, 44, comentou que o aumento das vendas de skate para meninas em Brasília veio após Rayssa Leal ter atuações contundentes nas duas últimas olimpíadas. "Antes das olimpíadas de 2021, nosso público feminino não chegava a 20%. Após os jogos olímpicos de Tóquio, onde Rayssa conquistou a prata, passamos a vender mais skates para meninas do que para meninos", detalhou.

 23/08/2024 Credito: Ed Alves/CB/DA.Press. Cidades. Skate - Na foto Gerente da loja Over Street Celio Silva.
23/08/2024 Credito: Ed Alves/CB/DA.Press. Cidades. Skate - Na foto Gerente da loja Over Street Celio Silva. (foto: Ed Alves/CB/DA.Press)

O exemplo de Rayssa atinge todas as idades. A estudante de pedagogia Marcela Santana tem 29 anos e  relata que começou a andar de skate este ano. "Sempre curti o lifestyle e andei com a turma do skate. Mas só depois de assistir à Fadinha nas olimpíadas que eu decidi me arriscar nas pista. Estou apaixonada pelo esporte", confessa a moradora de Sobradinho.

No ritmo

Algo a se destacar é que muitos dos competidores do skate praticam o esporte escutando música, inclusive Rayssa Leal. Entre os skatistas, esse ato é comum e, muitas vezes, serve como incentivo para tomar coragem e voar nas pistas. Carolina contou que também utiliza a estratégia. "Nas competições, não escuto, mas, para treinar, sempre coloco uma música. Geralmente, a playlist tem funk e pagode", detalhou.

 23/08/2024. Crédito: Minervino Júnior/CB/D.A Press. Brasil.  Brasilia - DF. Pista de skate no Cruzeiro. Carol Arrulio (capacete Branco)
Carolina Arroyo quer seguir os passos de Rayssa e brilhar no skate (foto: Minervino Júnior/CB/D.A.Press)

A jovem disse que, para ela, a música funciona tanto para relaxar quanto para dar energia nos treinos. "Só abriria uma exceção sobre ouvir em competições se fosse em uma final olímpica", ressaltou. "Não sei qual banda seria, mas, com certeza, estaria tocando uma música brasileira no meu fone", brincou Carolina.

Presidente da Federação de Skate do Distrito Federal (FSKTDF), Adolfo Frederico explicou um pouco sobre a relação da música com o skate. "Os dois sempre andaram juntos. Quando não havia pistas, todos os skatistas escutavam músicas, está relacionado ao estilo de vida", avaliou. "Ajuda muito a se concentrar na manobra, ficar focado, perder o medo de arriscar. Ela estimula os sentidos e dá um gás a mais na hora de andar", acrescentou.

Já a playlist que Marcela escuta nas pistas é repleta de rock. "Escuto sempre um metal pesado. Me dá adrenalina o suficiente para esquecer o medo da queda", explica a estudante universitária.

Incentivo e fomento

O presidente da FSKTDF comentou sobre a condição atual das pistas do DF e como isso incentiva a comunidade skatista. "De uns anos para cá, algumas empresas especializadas no ramo de pista vieram para Brasília e o nível das pistas vem melhorando. Depois que o skate virou olímpico, também teve muito mais atenção das autoridades", enfatizou.

Atualmente, o DF conta com nove pistas de skates construídas e subsidiadas pelo Governo do Distrito Federal (GDF) e a Secretaria de Esporte e Lazer (SEL). Esses locais são importantes para incentivar os interessados a andarem de skate em um espaço apropriado. A qualidade e a boa conservação da pista são essenciais para que o skatista continue frequentando e praticando o esporte.

 23/08/2024. Crédito: Minervino Júnior/CB/D.A Press. Brasil.  Brasilia - DF. Pista de skate no Cruzeiro. Carol Arrulio (capacete Branco)
O desempenho dos brasileiros tem inspirado jovens a seguir no esporte (foto: Minervino Júnior/CB/D.A.Press)

Para incentivar a meninada a competir e colocá-las na trilha do sucesso, a FSKTDF promove eventos visando identificar os talentos femininos de Brasília. "O que deu visibilidade ao esporte foi ter feito, por três anos seguidos, o circuito feminino de skate brasiliense que ranqueava atletas femininas de Brasília para participar dos campeonatos nacionais", ressaltou Frederico.

Carolina Arroyo comentou que, em duas oportunidades, "se machucou feio" tentando realizar manobras. "Em uma delas, cheguei a romper ligamentos. Durante um tempo, fiquei traumatizada, mas recuperei a confiança e voltei a andar de skate", afirmou. "Andando de skate, foco só naquele momento e todos problemas acabam 'sumindo'. É como se fosse um refúgio", acrescentou a jovem. Mãe da jovem, Mariana Arroyo, 49, disse que só quer ver a filha feliz. "(O futuro dela) não é uma coisa que eu me preocupe agora. Apoio aquilo que faça bem a ela", destacou.

Fora do Plano

No skate há cerca de um ano, a jovem Gisele Neves, 21, observava alguns parentes que curtiam o esporte, mas a verdadeira influência foi uma amiga próxima que também pratica a modalidade. 

Gisele Neves
Gisele Neves (foto: Eduardo Santos/Reprodução)

Apesar de não ter sofrido grandes problemas por ser mulher, ela comenta que alguns pequenos incômodos ainda são presentes, como a ignorância de alguns homens que querem sempre chamar atenção ou ensinar uma "trick" sem serem requisitados. Para Gisele, atualmente, as principais dificuldades estão relacionadas à falta de valorização e investimento no esporte, principalmente fora do Plano Piloto. 

Moradora de Ceilândia, ela se aventura pelas pistas da cidade, mas frequenta, assim como a maioria dos skatistas brasilienses, os points do Deck Sul, Sukata e Bancários. "Assim como todo e qualquer espaço público, os melhores e com mais investimento são no Plano e esses são os lugares que os skatistas do DF vão e desejam que as pistas locais fossem tão bem cuidadas quanto", comenta. 

Uma das coisas que Gisele acredita serem essenciais para o skate — e outros esportes — é o investimento público. Para ela, esse cuidado com o lazer de crianças, jovens e adultos de regiões periféricas é essencial para o bem-estar e também para que o Brasil e Brasília recebam ainda mais destaque nas competições mundiais, dando oportunidades para que esses talentos sejam trabalhados e revelados. 

"Gostaria que olhassem mais para outras regiões além de Brasília. Antes mesmo das Olimpíadas, o skate vem salvando milhares de pessoas pelos simples momentos de bem-estar que nos são proporcionados", ressalta. 

Além disso, Gisele acredita que falta uma força maior das federações, bem como gestões mais justas, respeitosas e igualitárias. "O skate do DF é muito potente, porém, precisamos de mais mulheres e homens que entendam do esporte e que também tenham a intenção de somar na cena", pontua. 

Para ela, o skate é um momento de prazer. Diferentemente dos skatistas brasileiros nas Olimpíadas, ela não escuta música enquanto pratica. Seu ritual consiste em se alongar e beber muita água. Cada uma na sua, mas sempre com muita adrenalina sobre rodinhas nas pistas. 

* Estagiários sob a supervisão de Patrick Selvatti

 

Diferencie

Street — modalidade em que compete Raissa Leal, ela é realizada em um circuito que lembra um ambiente urbano. Há obstáculos com escadas, corrimão e coisas que você encontraria nas ruas. A competição é dividida em duas partes. Primeiro, cada skatista tem duas voltas de 45 segundos no percurso para fazer quantas manobras conseguirem. A melhor nota é a que conta. Na segunda, os atletas têm cinco tentativas para realizar sua melhor manobra. As duas maiores pontuações são somadas às da primeira parte para dar a nota final;

Park — é bem diferente da primeira: a pista lembra uma “tigela” e é construída pensando nas manobras que podem ser feitas. As regras também mudam: são três voltas de 45 segundos cada para cada skatista. A maior nota é considerada como a pontuação final. Em caso de igualdade, a segunda melhor volta é usada para desempatar.

  • Carolina Arroyo quer seguir 
os passos de Rayssa e brilhar no skate
    Carolina Arroyo quer seguir os passos de Rayssa e brilhar no skate Foto: Minervino Júnior/CB/D.A.Press
  • O desempenho dos brasileiros tem inspirado jovens a seguir no esporte
    O desempenho dos brasileiros tem inspirado jovens a seguir no esporte Foto: Minervino Júnior/CB/D.A.Press
  •  23/08/2024 Credito: Ed Alves/CB/DA.Press. Cidades. Skate - Na foto Gerente da loja Over Street Celio Silva.
    23/08/2024 Credito: Ed Alves/CB/DA.Press. Cidades. Skate - Na foto Gerente da loja Over Street Celio Silva. Foto: Ed Alves/CB/DA.Press
  • Gisele Neves
    Gisele Neves Foto: Arquivo pessoal
  • Gisele Neves
    Gisele Neves Foto: Eduardo Santos/Reprodução
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postado em 25/08/2024 00:01 / atualizado em 25/08/2024 11:44
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