No dia em que completou mais um ano de vida, Juliana Barboza Soares foi assassinada brutalmente pelo ex-companheiro. O crime ocorreu no meio da rua, na Quadra 3 do Setor Sul do Gama. O velório de Juliana terá início nesta quinta-feira (22/8), às 13h, no Cemitério do Gama, com sepultamento às 16h.
Em um ato de fúria, Wallison Felipe de Oliveira, 29, seguiu a vítima — que comemorava seus 34 anos em família — e atropelou Juliana, a mãe dela, Maria do Socorro Barboza Soares, 60, e uma das filhas dela, de 5 anos. Apesar do golpe violento, avó e neta sobreviveram e seguem hospitalizadas. Na tarde dessa quarta-feira (21/8), Wallison foi preso pela Polícia Militar (PMDF) após um denunciante anônimo informar o paradeiro do criminoso. Ele vai responder por feminicídio.
Por volta das 22h30, Juliana estava acompanhada da mãe e da filha caçula, em uma rua da Quadra 3. As câmeras de segurança colhidas pela Polícia Civil (PCDF) para subsidiar a investigação mostram Wallison na direção de um Corolla preto. O homem aproxima o carro da família, para por alguns segundos. Depois, faz um pequeno retorno, sobe na calçada com o veículo e o joga para cima das três com tudo. Um condutor de um outro carro vê a cena e se desespera. Ele desce do automóvel e corre para prestar socorro, momento em que Wallison surge novamente e, em uma velocidade maior, atropela as mulheres e a criança pela segunda vez.
Uma testemunha de 41 anos disse que o condutor do veículo avançou sobre o meio-fio e realizou manobras agressivas na área da parada de ônibus. "Eu estava entrando no carro quando vi o Corolla pulando o meio-fio. Ele deu a volta na frente da parada de ônibus, manobrou e passou por cima de uma mulher e, depois, de uma criança. A mãe da vítima correu e se jogou sobre o corpo da filha para protegê-la, mas o motorista parou o carro e disse: 'Tá vendo o que você fez?'. Em seguida, ele manobrou novamente e atropelou a senhora", relatou a testemunha, ainda em estado de choque.
Em fuga, o criminoso abandonou o veículo em um outro local após o crime. O carro, que estava com o para-brisa quebrado e com marcas de batida na frente, foi localizado pelos policiais civis da 14ª Delegacia de Polícia (Gama) e encaminhado ao pátio da unidade policial para passar por perícia. A Polícia Civil, no entanto, informou que uma nova inspeção será feita para "acrescentar informações adicionais".
Registro de CAC
Os militares do Corpo de Bombeiros (CBMDF) chegaram ao local por volta das 22h55 e logo constataram a morte de Juliana. A mãe dela foi atendida e estava desorientada, com fraturas no braço direito e precisou ser encaminhada ao Hospital Regional do Gama (HRG). Já a criança foi levada pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) ao Hospital Regional de Santa Maria (HRSM) com leves ferimentos e em estado de choque. Avó e neta não correm risco de morte. Além da menina atropelada, a vítima deixa uma filha de 15 anos.
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Após o crime, a Polícia Civil logo descobriu a identidade do suspeito e elaborou um cartaz de divulgação com a foto e o nome de Wallison. Durante a tarde, uma denúncia anônima entregou o paradeiro do criminoso. O informante disse que o autor estaria no Setor de Chácaras do Setor Leste do Gama, na Quadra 50.
Os policiais militares foram até o endereço informado e, na casa, encontraram o homem. "A prisão foi tranquila, ele obedeceu a todas as ordens de comando. No momento, havia outros parentes na casa", detalhou o tenente Pedro Lima.
O Correio apurou que Walisson tem o registro de Colecionador, Atirador Desportivo e Caçador (CAC). "A PCDF retirou o cofre em que, supostamente, as armas estavam guardadas, na casa do autor do crime. Só que ele confessou à PM que retirou as armas e levou até a casa de um irmão, local onde elas foram apreendidas. Os dois endereços são no Gama", acrescentou o tenente.
O delegado-adjunto da 14ª DP, William Ricardo, explicou a complexidade do caso. "Ele teve um relacionamento extraconjugal com a vítima, mas a esposa do autor descobriu e, há dois meses, eles estavam separados. Ao que consta, o autor do atropelamento mantinha contato com a vítima", relatou.
Comemoração trágica
À reportagem, o pai da criança atropelada, o delegado aposentado Antonio Adonel, compartilhou detalhes do crime bárbaro e sobre o estado de saúde da filha. Juliana e Wallison estavam separados há alguns dias, mas ele continuava frequentando a casa da ex. A vítima estava comemorando o aniversário com a família e amigos quando o criminoso apareceu. "Ontem, foi a festa dela. Ele apareceu, mas não foi convidado, e começou a discutir com ela e com a mãe dela", afirma.
Antonio Adonel foi casado com Juliana durante 11 anos e haviam se separado há quatro. Ele descreveu Juliana como "uma boa pessoa, uma boa mulher, uma boa dona de casa, uma mãe exemplar que fazia tudo de pelas filhas". "Eu só tenho muito a agradecer pelo tempo que nós vivemos juntos, porque ela, como mulher, sempre foi um grande exemplo", relata.
O pai também destacou que a filha, apesar de ter sido atingida, conseguiu correr e evitar ferimentos mais graves. "Ela, com apenas 5 anos, conseguiu correr. Se não fosse isso, com certeza, teria morrido também", disse.
Adonel enaltece o atendimento que a criança recebeu no HRSM, onde foi internada com fraturas na perna e na pélvis, além de problemas no pulmão. "O tratamento que ela está recebendo é exemplar, e espero ter a minha filha de volta", afirma. Ele ainda expressou o seu desejo por justiça. "Espero que a justiça continue agindo como já está, para que esse crime bárbaro não fique impune", enfatiza. A criança não tem previsão de alta, mas foi descartada a hipótese de cirurgia.
Nos dados da Polícia Civil não há ocorrências registradas por Juliana contra Wallison. "Por isso, precisamos aprofundar algumas questões. Quanto à avó, também atropelada, vamos ouvi-la quando ela tiver condições", frisou o delegado.
Saudade
"Ela era uma pessoa incrível, estava sempre com um sorriso no rosto". É assim que o motorista de transporte escolar Clayton Carlos Araújo, 47, descreve Juliana. O amigo da vítima usou as redes sociais para lamentar a morte. "Descanse em paz, minha amiga, ontem te vi tão feliz com sua filhinha e amigos comemorando seu aniversário. Infelizmente, um covarde lhe tirou a vida. Você era a alegria em pessoa. Pena de morte para assassino de mulheres", escreveu.
Ao Correio, Clayton contou que era o responsável por levar e buscar a filha de Juliana na escola. "Ontem (terça-feira), quando a vi no fim da tarde, a abracei e desejei tudo de melhor. Se soubesse que ia acontecer essa tragédia, teria abraçado mais e mais forte", desabafou.
A reportagem não localizou a defesa de Wallison. O espaço segue aberto para manifestações.
*Estagiário sob a supervisão de Patrick Selvatti
Saiba Mais
Como e onde pedir ajuda
» Ligue 190: Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF). Uma viatura é enviada imediatamente até o local. Serviço disponível 24h por dia. Ligação gratuita.
» Ligue 197: Polícia Civil do DF (PCDF)
E-mail: denuncia197
@pcdf.df.gov.br
WhatsApp: (61) 98626-1197
Site: https://www.pcdf.df.gov.br/servicos/197/violencia-
contra-mulher
» Ligue 180: Central de Atendimento à Mulher, canal da Secretaria Nacional de Políticas para as Mulheres. Serviço registra e encaminha denúncias de violência contra a mulher aos órgãos competentes, além de reclamações, sugestões e elogios sobre o funcionamento dos serviços de atendimento. A denúncia pode ser feita de forma anônima, 24h por dia, todos os dias. Ligação gratuita.
» Delegacias Especiais de Atendimento à Mulher (Deam): funcionamento 24h por dia, todos os dias.
Deam 1: previne, reprime e investiga os crimes praticados contra a mulher em todo o DF, à exceção de Ceilândia.
Endereço: EQS 204/205, Asa Sul.
Telefones: 3207-6172 / 3207-6195 / 98362-5673
E-mail: deam_sa@pcdf.df.gov.br
Deam 2: previne, reprime e investiga crimes contra a mulher praticados em Ceilândia.
Endereço: St. M QNM 2, Ceilândia
Telefoes: 3207-7391 / 3207-7408 / 3207-7438
» Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos
Whatsapp: (61) 99656-5008 - Canal 24h
» Secretaria da Mulher do DF
Whatsapp: (61) 99415-0635
» Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT)
Promotorias nas regiões administrativas do DF
https://www.mpdft.mp.br/portal/index.php/promotorias-de-justica-nas-cidades
Núcleo de Gênero
Endereço: Eixo Monumental, Praça do Buriti, Lote 2, Sala 144, Sede do MPDFT
Telefones: 3343-6086 e 3343-9625
E-mail: pro-mulher@mpdft.mp.br
» Defensoria Pública do DF
Núcleo de Assistência Jurídica de Defesa da Mulher (Nudem)
Endereço: Fórum José Júlio Leal Fagundes, Setor de Múltiplas Atividades Sul, Trecho 3, Lotes 4/6, BL 4 Telefones: (061) 3103-1926 / 3103-1928 / 3103-1765
WhatsApp (61) 999359-0032
E-mail:
najmulher@defensoria.df.gov.br - http://www.defensoria.df.gov.br/nucleos-de-assistencia-juridica/
Núcleos do Pró-Vítima
Ceilândia
End.: Shopping Popular de Ceilândia – Espaço na Hora
(61) 9 8314-0620 - Horário: 8h às 17h
Guará
End.: Lúcio Costa QELC Alpendre dos Jovens – Lúcio Costa
(61) 9 8314-0619 - Horário 08:00 às 17:00
Paranoá
End.: Quadra 05, Conjunto 03, Área Especial D –
Parque de Obras
(61) 9 8314-0622 -
Horário: 8h às 17h
Planaltina
End.: Fórum Desembargador Lúcio Batista Arantes, 1º Andar, Salas 111/114
(61) 9 8314-0611 /3103-2405 - Horário: 12h às 19h
Recanto das Emas
End.: Estação da Cidadania – Céu das Artes, Quadra 113,
Área Especial 01
61) 9 8314- 0613
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Rodoferroviária
End: Estação Rodoferroviária, Ala Norte, Sala 04 – Brasília/DF
(61) 98314-0626 /
2104-4288 / 4289
Itapõa
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(61) 9 8314-0632 - Horário: 8h às 17h
Taguatinga
End.: Administração Regional de Taguatinga – Espaço da Mulher – Praça do Relógio
(061) 98314-0631
Site: https://www.sejus.df.gov.br/pro-vitima/
Além disso, a Secretaria de Justiça e Cidadania (Sejus-DF), implantou um novo número, o 125, para receber denúncias de violação de direitos de crianças e adolescentes no Distrito Federal. A ligação é gratuita e o serviço é realizado pela Coordenação do Sistema de Denúncias de Violação dos Direitos da Criança e do Adolescente (Cisdeca).
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