Com experiência de oito anos no decanato de Extensão, Olgamir Ferreira, postulante ao cargo máximo da universidade da capital federal, é a última candidata à reitoria a participar da série de entrevistas do Podcast do Correio. Ela representa os que apoiam dar seguimento ao que foi obtido com a gestão da reitora Márcia Abrahão. Olgamir encabeça a chapa 90 — "Pensar e Fazer", com o professor Gustavo Romero, que dirigiu a Faculdade de Medicina e o Hospital Universitário de Brasília (HUB).
"O que nos autoriza a estar aqui nos apresentando é o fato de representarmos um projeto, que é coletivo, um projeto que se revelou, desde 2016 até agora, como um projeto vitorioso que consolidou muitas iniciativas importantes, mas que tem a clareza, a partir da experiência dessa vivência de que muito mais podemos fazer pela universidade", declarou. Ela conversou com as jornalistas Mariana Niederauer e Adriana Bernardes.
A sua chapa é de continuação da gestão atual. Quais foram os principais avanços nesses últimos anos?
Nossa chapa representa esse projeto que foi colocado em movimento, em 2016, com a primeira mulher reitora da UnB, que irá enfrentar desafios imensos que vão desde os cortes orçamentários da ordem de quase 50%, e também muitos ataques e ameaças à autonomia da universidade, associada a isso a pandemia da covid-19. Mesmo nesse contexto, a universidade consegue garantir, por força de uma atuação muito coletiva, muito cuidadosa, as atividades finalísticas. Ensino, pesquisa e extensão se realizam de uma forma destacada. Não é à toa que os indicadores revelam uma situação muito avançada na UnB. Estamos situadas entre as melhores universidades brasileiras. Nós conseguimos enfrentar as dificuldades e ainda deixar a universidade posicionada numa situação de destaque em relação a outras universidades brasileiras e latino-americanas. Isso só foi possível porque houve um movimento no sentido de garantir o desenvolvimento do que é a nossa agenda prioritária: o cuidado com os estudantes, com a produção do conhecimento. Para se ter uma ideia, nós garantimos que os alunos mais vulneráveis pudessem acessar o restaurante universitário desde o primeiro dia. Não havia essa condição. Chegamos a ter 11 mil estudantes que se alimentam três vezes, todos os dias da semana, com custo zero, com 100% de subsídio, e desconto de mais de 60% aos demais estudantes. Isso é um gesto que revela um compromisso e um esforço muito grande, que foi possível ser realizado pela capacidade de interlocução para fora, com outros setores da sociedade, com a bancada do governo, bancada do parlamento do Distrito Federal. Foi algo muito importante porque, por meio do desenvolvimento de projetos de pesquisa, nós conseguimos trazer recursos para além daqueles que estavam sendo aportados pelo Ministério da Educação. Nós ampliamos o nosso espaço orçamentário e trabalhamos muito com algo que é presente na Universidade de Brasília, e que não é recorrente em outras universidades, que é o fato de termos um conjunto de imóveis, que têm sido aprimorados e reformados ao longo desse tempo. E os aluguéis advindos dali contribuíram para que a gente pudesse enfrentar esse momento tão danoso. Eu diria para você que o que teve de muito importante foi essa postura obstinada da gestão de garantir que a universidade enfrentasse esse desafio e cumprisse a sua função social. Isso foi feito num diálogo permanente com as unidades acadêmicas. Não é à toa que a universidade consegue congregar todas as as nossas unidades na construção de um projeto de desenvolvimento das nossas ações. Mas é uma continuidade que deve ser entendida sob a seguinte perspectiva: ao tempo que a gente entende tudo o que aconteceu, os desafios enfrentados, a necessidade é de consolidar essas conquistas. Nós temos clareza de que muito ainda está por vir e que nós temos uma outra realidade em termos de contexto externo à universidade, o que nos permite ousar mais. É uma chapa que vem para dar continuidade, mas para dar o salto de qualidade que a nossa universidade espera e que aponta para um futuro mais promissor para a UnB.
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Sendo eleita a reitora da UnB, qual visão de futuro que vocês têm no sentido de dar continuidade e como seria ousar?
O ousar significa olhar a realidade e ver as possibilidades que essa realidade vai nos apresentando. Nós temos no contexto nacional um espaço mais aberto ao reconhecimento do papel das universidades e da importância delas, e nós precisamos ousar no diálogo com a sociedade, que tem se intensificado muito. Mas nós entendemos que precisa ser ainda mais intensificado para que a gente possa qualificar os processos internos da universidade, ousar com uma política de pesquisa mais estruturada. Nós já avançamos. Nós temos uma gestão da pesquisa bastante consolidada com a criação do decanato de Pesquisa e Inovação. Precisamos de normativas que permitam que a interlocução com a sociedade externa se intensifique. Esse é um espaço de criação, de inovação, extremamente promissor e com múltiplas possibilidades de que isso aconteça. É consolidar a gestão da pesquisa com o aporte de mais pessoas, com estrutura que permita aos pesquisadores realizarem o seu fazer com mais condições. Isso é algo determinante com que a gente se compromete, ao tempo que, por exemplo, garantir bolsas para os pesquisadores. Já temos, hoje, um aporte de recursos próprios. Mas temos que, à luz da nova realidade, intensificar para que os pesquisadores possam, por exemplo, participar de eventos nacionais e internacionais e desenvolver as pesquisas. Tem uma inovação que está em curso, que nós consideramos fundamental, que é termos os laboratórios multiusuários. Isso está na nossa política de inovação, sendo consolidado como uma prática, que é o tempo que você garante estruturas físicas para que todos possam desenvolver as pesquisas. Você oportuniza que essas pesquisas sejam feitas numa perspectiva interdisciplinar, o que mostra uma possibilidade maior de que a pesquisa se vincule às necessidades do território. Isso, para nós, também é algo inovador, é uma experiência que visa romper com o modelo fragmentado das nossas universidades. É algo extremamente avançado e que precisa ser consolidado, porque implica mudança de cultura no ambiente universitário.
A senhora considera uma prioridade as pesquisas da universidade dialogarem mais com as necessidades da sociedade ou isso já foi alcançado na sua visão?
É fato que a nossa universidade nasce desafiada a ser diferente das outras, que é a lógica de ser uma universidade que pensa e faz. Por isso, a nossa lógica do pensar e fazer, que produz conhecimento e ciência, mas não é uma ciência diletante, como diria Darcy Ribeiro, mas vinculada às necessidades da sociedade, ao território. Nós temos avançado muito, principalmente, com a ampliação das atividades de extensão, com esse movimento que foi feito pela UnB num contexto adverso, de se espraiar para além do seu território. Hoje, a UnB está presente na comunidade calunga, na Chapada dos Veadeiros, nos nossos campi. Está presente nos polos de extensão no Recanto das Emas e no Paranoá. Essa interação dialógica com a sociedade tem se ampliado, mas nós temos que continuar atuando nesse sentido, investindo cada vez mais para que esse conhecimento produzido cumpra aquilo para existirmos como universidade. Nós existimos para contribuir, para melhorar a vida das pessoas. Avançamos muito, mas temos muito ainda a avançar, porque a universidade é atravessada por muitas dessas marcas que são próprias da colonização. A universidade não está isenta dela e esse é um trabalho permanente, recorrente, com o qual, nós, da chapa 90, nos comprometemos e entendemos que é fundamental, porque ele dialoga, inclusive, com a permanência dos estudantes na nossa universidade, com o sentido de pertencimento dos servidores técnicos.
Como tem sido durante a campanha o seu diálogo com os diferentes segmentos?
O nosso diálogo tem sido bem intenso e muito prazeroso, porque, estando à frente do decanato de Extensão ao longo de quase oito anos, e pelo fato de estar ali acompanhando, a gente acaba conhecendo a universidade por dentro. Penso que é um diferencial importante para quem se coloca para gerir a universidade, porque conhecê-la é fundamental. Mas eu diria que esse momento permite que a gente se aproxime mais um pouco das demandas de cada um dos segmentos. Eu venho do movimento estudantil e a relação com os estudantes tem sido extremamente avançada. Eu venho da educação básica. Fui professora por 30 anos na Secretaria de Educação e conheço de perto o perfil dos estudantes da nossa universidade. Isso que me faz, por exemplo, entender que hoje é garantir a retomada do intercampi, entendido não como apenas um aspecto de mobilidade, mas também como uma possibilidade de que o estudante vivencie a universidade plenamente, cumprindo componentes curriculares, mas também tendo experiências culturais, artísticas, esportivas, conhecendo a universidade em sua totalidade. Ou seja, a possibilidade de um estudante do Darcy Ribeiro ir a Planaltina ou ao Gama, ou do estudante do Gama ir a Planaltina e ao Darcy. Assim, a retomada do intercampi, como uma possibilidade de que esses estudantes vivam a universidade em plenitude, está no nosso radar como algo a ser implementado, para evitar a evasão e para garantir que esse viver a UnB, num contexto que a universidade muitas vezes, não está colocada na mira do estudante como algo possível. Essa aproximação é fundamental, essa facilitação do deslocamento para experienciar, por exemplo, uma atividade cultural. Nós temos arte permeando o território da UnB, em todos os nossos campi. Viver isso é importante para o estudante não só ter uma formação mais ampla, mas que permita a ele fazer outras leituras do mundo para além da sua formação específica. Porque o que a universidade se desafia, todo dia, é fazer para além da formação técnica, (é contribuir) também à formação ética e à estética.
Por favor, suas considerações finais.
Quem vai dizer se eu e o professor Gustavo merecemos ser os próximos dirigentes da UnB é a nossa comunidade, que eu tenho certeza que na terça e na quarta irão colocar 90 nas urnas. O que nos autoriza a nos apresentarmos é o fato de representarmos um projeto que é coletivo, um projeto que se revelou, desde 2016 até agora, vitorioso que consolidou muitas iniciativas importantes, mas que tem a clareza, a partir da experiência, dessa vivência, de que muito mais podemos fazer pela universidade e que não dá para corrermos o risco de retrocessos. Não dá também para a gente pensar que estamos em um outro momento que é positivo, mas que fez todas as mudanças necessárias para isso.
Confira a entrevista completa
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