Foi na sala do gabinete de psicologia da Secretaria de Educação do Distrito Federal, em 20 de agosto de 1964, que nasceu a Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae) Brasília. A escolha da data tinha motivo — a comemoração da 1ª Semana Nacional Excepcional. A associação, que posteriormente passou a se chamar Apae-DF, tornou-se a 153ª a registrar sua filiação junto à Federação Nacional das Apaes.
Em 1994, ainda realizava seus atendimentos no imóvel cedido à Federação Nacional das Apaes pela Companhia Imobiliária de Brasília, na Quadra 508 Sul. Mas em 24 de março do mesmo ano, foi inaugurada a sua sede na Entrequadra 711/911 Norte de Brasília. O Correio conversou com quem trabalha na Apae, familiares e pessoas que são atendidas pela instituição para relatarem a importância dela.
Evolução
"A relação com minha falecida irmã com síndrome de Down foi o que me motivou a trabalhar nessa área", conta a presidente da Apae-DF, Maria Helena Alcântara, 78 anos. Professora da Secretaria de Estado de Educação (SEEDF) durante muito tempo, ela chegou à entidade no fim dos anos 1980. "Sempre soube que era isso que queria fazer. O começo é sempre complicado, pois temos ideias, mas, muitas vezes, faltam recursos. Começamos com atendimentos na nossa antiga sede improvisada na Asa Sul, até conseguirmos criar um convênio e trazer professores para trabalhar nessa frente. Para se ter uma ideia, a instituição ficou 25 anos sem realizar atendimento", lembra.
Maria Helena diz que a instituição prioriza incluir pessoas com deficiência no mercado de trabalho e oferecer a elas melhor qualidade de vida. Hoje, muitos alunos da Apae têm seu espaço em órgãos públicos e participam de diversas oficinas. "Viemos com a ideia de levar essas pessoas para o ambiente de trabalho acompanhadas de instrutores. Foi uma novidade. Conforme vão evoluindo, vamos tirando o instrutor para que elas consigam se virar sozinhas", explica a dirigente, acrescentando que a entidade promove oficinais profissionalizantes e tem alunos em quase todos os tribunais do DF.
Comunicação
Karla Taciano, 46, ministra aulas de artes cênicas na Apae-DF há 21 anos. Muito ligada à música e ao teatro, ela conta que isso foi um divisor de águas para a comunicação com os alunos. "A fala era um problema, então eu comecei a usar a música nesse universo teatral para ter uma maior interação e foi um sucesso", pontuou. A professora relata que ingressou nesse mundo por meio de uma pessoa com deficiência, que a levou onde ela tinha algumas aulas. "Era a antiga sede da Apae na Asa Sul", diz.
"É gratificante acompanhar a evolução dos alunos e ver que seu trabalho está dando frutos", fala Karla. Muitos chegam com dificuldade de se comunicar e hoje fazem parte da banda Baião de Dois, que se apresenta em eventos e recebe cachê. "Conseguimos mostrar que a arte também pode colocar essas pessoas no mercado de trabalho", comenta.
A professora Cecília Muraro, 48, escolheu trabalhar com pessoas com deficiência devido a uma prima com síndrome de Down. "Cheguei na Apae para ser estagiária na área de psicologia em 1998, e no ano seguinte fui requisitada para trabalhar", afirma.
Cecília começou no setor de avaliação psicológica. "Começou comigo mais uma assistente social e foi evoluindo. Foi aumentando o número de alunos, e isso requisitou mais professores. Aconteceu uma parceria com assistência social nessa época e assim conseguimos ampliar os atendimentos. Hoje temos mais de 100 pessoas na fila de espera para atendimento", conta.
"Hoje eu sou professora do programa sócio-ocupacional, e é muito legal, porque ainda tenho como pacientes quem eu atendia quando entrei, criamos uma família" pontua Cecília. A evolução é algo que a motiva. "No começo, a evolução é bem diferente, é um trabalho que demanda mais tempo, mas é muito gratificante ver o quanto o trabalho ajuda essas pessoas", disse.
Gratificante
Leane Brito, 55, é mãe do Luhan Lucas, 32, que tem síndrome de Down e, desde os 14 anos, frequenta a Apae. Leane fala que em pouco tempo ela conseguiu ver a evolução no filho. "Mudou muito na fala, comportamento, ela era totalmente uma criança, teve um amadurecimento muito importante e para uma mãe é muito gratificante ver isso", comemora.
Hoje, Leane trabalha como voluntária na cozinha e conta os motivos para a escolha. "Primeiramente, a dificuldade de locomoção. Eu moro no Gama, então precisava vir buscar ele todos os dias. E outra que fico próximo ao meu filho. Apesar de que muitas vezes não o vejo, devido às atividades que ele faz, temos contato na hora de ir embora", relata.
Wesley Nunes, 28, conta que conheceu a Apae por intermédio da família. "Foi por meio do meu cunhado, que é bancário, e por meio de um atendimento que fiquei sabendo da Apae, isso há 6 anos. Foi quando minha mãe marcou uma visita para conhecer", lembra.
"A minha evolução está sendo ótima, antes não sabia mexer no computador, hoje sei digitalizar e mexer em várias coisas no computador", aponta Wesley. Ele conta o que mais tem aprendido na instituição. "Aprendi a fazer pão, sal, biscoito, a fazer higienização e reparo nos livros. E uma coisa importante é que aprendi a ter respeito pelos professores e alunos", conclui.
*Estagiário sob supervisão de Eduardo Pinho
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