Podcast do Correio | Rozana Reigota Naves | PROFESSORA UNIVERSITÁRIA

Candidata à reitoria da UnB propõe gestão descentralizada

Rozana Reigota Naves é a segunda convidada da série de entrevistas com as candidatas ao cargo máximo da universidade

 Rozana Reigota Naves, durante entrevista ao Podcast do Correio Braziliense.  -  (crédito:  Reprodução/Correio Braziliense)
Rozana Reigota Naves, durante entrevista ao Podcast do Correio Braziliense. - (crédito: Reprodução/Correio Braziliense)

Uma gestão mais descentralizada e participativa na Universidade de Brasília (UnB) é a proposta da professora Rozana Reigota Naves como candidata a reitora da instituição. Ela foi entrevistada, ontem, no Podcast do Correio pelas jornalistas Adriana Bernardes e Mariana Niederauer. A educadora encabeça a chapa 93 — "Imagine UnB: Participar e transformar" com o professor Márcio Muniz, da Faculdade de Tecnologia (FT), candidato a vice-reitor. Para ela, a universidade da capital federal necessita de várias renovações. Essas mudanças representam desafios que, se for eleita, pretende superar nos próximos quatro anos.

"O que nos traz aqui é a nossa experiência transversal na universidade, no ensino, na pesquisa, na extensão e na inovação. Mas, sobretudo, uma experiência de gestão, que vai do acadêmico ao administrativo", declarou Rozana. 

A senhora compõe uma chapa de oposição. O que precisa mudar na UnB?

Nós nos constituímos como grupo a partir da consulta que abordou vários colegas técnicos e docentes e estudantes. Eles avaliam que a universidade, hoje, passa por um processo de centralização muito grande nas suas práticas internas, na definição das suas políticas de atendimento aos segmentos, e, também, no desenvolvimento das suas políticas de ensino, pesquisa e extensão. As propostas principal e transversal do nosso programa pretendem implementar uma gestão democrática e participativa, em que a universidade funcionará por meio de órgãos colegiados representativos. Hoje, muito pouco tempo tem sido dado às discussões na base. É uma candidatura construída pela base, com participação de mais de 100 pessoas na elaboração do programa e representantes dos quatro campi. Essa mudança de perspectiva é a principal diferenciação que nos coloca na disputa, para além de uma interpretação de prioridades na gestão que gostaríamos de implementar, por meio de ações como orçamento participativo, criação de outras instâncias de participação para além dos colegiados definidos regimentalmente.

Já existem conselhos. Quais seriam essas esferas para tornar a gestão mais participativa? 

A gente vai implementar primeiro as instâncias de escuta ativa da comunidade. Há uma perspectiva de vincular ao gabinete representantes dos segmentos docentes, técnicos e estudantes, que possam garantir essa escuta por meio da participação da comunidade, ou seja, uma reitoria de portas abertas. Outro mecanismo é a implementação e desenvolvimento de fóruns de discussão, audiências públicas, consultas públicas sobre as políticas, que envolvam dois aspectos. Primeiro, um tempo maior para discussão. Esse tempo anda muito exíguo na universidade. E, o outro: pautas sejam trazidas pelos segmentos e não direcionadas pela administração. Esses dois movimentos vão garantir a participação. Além disso, a gente pretende descentralizar esses fóruns. Hoje, até as reuniões de conselho ocorrem, eventualmente, nos campi. Mas a gente entende que a reitoria precisa contar com a participação específica dos três segmentos do campi, in loco, a partir das pautas que eles construam.

Quais as outras propostas da chapa?

O programa se estrutura com um eixo transversal, que é o compromisso com a justiça socioambiental, entendendo que a universidade precisa se tornar referência nesses temas, que são cruciais para um posicionamento nacional e internacional em relação à desigualdade social e à crise ambiental. Os outros quatro eixos dizem respeito à política de gestão de pessoas, hoje também muito centralizada, com pouca valorização, tanto do segmento docente quanto o técnico. Os técnicos têm se queixado muito de uma gestão centralizada, que os escuta pouco e na qual participam pouco. E, também, o eixo da equidade, como sendo um postulado básico dessa universidade intercultural, plural e diversa, que a gente tem por força das políticas afirmativas. Os outros dois eixos são o da excelência acadêmica e em gestão, que tem que constar em qualquer programa de gestão para a reitoria.

Como tem sido o seu diálogo com cada um dos segmentos da universidade?

Os estudantes participaram ativamente na elaboração do programa. A gente tem a participação dos três segmentos. A gente já vem fazendo reuniões com eles desde a pré-campanha. Nós nos constituímos como grupo em fevereiro. Desde então, a gente vem fazendo pequenas reuniões de escuta, levantamento de demandas e diálogo com a comunidade. Durante a campanha seguimos com reuniões, mais estruturadas e institucionalizadas, em que as unidades reúnem os três segmentos e alguns fóruns de debates. Participamos dos debates, que são momentos de discussão democrática muito fortes, em que as pautas vêm e, aí sim, é um processo em que as entidades constroem as pautas de debate conjuntamente. E seguimos com o apoio deles nas atividades de campanha, desde a panfletagem até a organização. O apoio dos técnicos tem sido fundamental, porque eles são o segmento mais mobilizado nos processos de consulta. Mas, pouco a pouco, os docentes também têm se engajado, e o grupo está bastante grande, animado e motivado para a consulta.

Há adversários que estão na política há algum tempo. Talvez sejam rostos mais conhecidos. Como a senhora lida com isso? 

A campanha tem sido muito rápida, mas, por isso, o momento mais motivador do processo, porque o grupo cresceu muito rápido. Nós saímos de 12 professores, na primeira reunião, para 100 nas seguintes, além de muito motivados a discutir o programa. Isso reforçou bastante a avaliação que a gente tinha feito: de que a comunidade quer participar das discussões sobre um projeto de universidade, quer ver a UnB projetada nos cenários nacional e internacional. Tanto eu quanto o professor Márcio não temos essa trajetória de política partidária, mas a gente sempre teve uma atuação muito forte dentro da universidade. Exerci diversas funções em cargos administrativos da universidade, tanto na gestão acadêmica quanto na administrativa. E participei de muitas comissões, o que me fez conhecer muito a universidade e ser conhecida por vários setores.

Como vai ser a participação do vice em um eventual mandato à frente da Reitoria?

Temos atribuições bastante definidas entre as competências da reitora e as delegações de competência do vice-reitor. Professor Márcio foi diretor da FT, participou bastante de conselhos superiores e entende muito da gestão acadêmica. Hoje, o vice-reitor preside o Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão. Ele está há 38 anos na Universidade de Brasília, é um pesquisador credenciado no CNPQ, foi membro de conselhos de assessoramento das agências de fomento. Então, tem uma vasta experiência para presidir esse conselho. . A gente precisa de manutenção, de reforma, de uma mudança de governança nessa área (de infraestrutura), que nós entendemos ser competência dele. Como engenheiro civil, poderá ajudar muito. O vice-reitor também preside o Comitê de Segurança. São pautas nas quais tem bastante competência. 

As universidades federais têm enfrentado problemas relacionados à escassez de recursos. Como a senhora pretende tratar essa questão?

Por força da nossa política orçamentária, a gente vai seguir buscando verbas adicionais, especialmente para a infraestrutura. Há muita demanda ainda pela construção de novos prédios. Mas a gente tem demandas estruturais nos prédios antigos. Então, pensar em um plano de reforma e manutenção dos prédios antigos é importante, porque são patrimônio histórico da universidade, inclusive o imaterial. É imprescindível lidar com a infraestrutura e a gente vai precisar de recursos adicionais, sem dúvida. Uma ação da nova reitoria em relação ao governo federal, mantendo a autonomia universitária, segue sendo importante. Embora nós não tenhamos filiação partidária, temos bastante articulação no campo político e contamos com um grupo que nos apoia e que também é bastante articulado.

Essas verbas adicionais seriam de emendas parlamentares? 

Atualmente, são, principalmente, de emendas parlamentares. As edificações novas têm sido construídas com apoio de emendas. A grande crítica que a gente faz é que o nosso plano de obras, embora aprovado pelo Conselho de Administração, não conduz a comunidade a uma reflexão sobre quais seriam as prioridades. O pacote de obras vem pronto para o conselho, mas a gente entende que isso pode ser ampliado para uma participação maior da comunidade em torno da definição de prioridades. A gente entende que os recursos do PAC poderiam ter sido direcionados para edificações que envolvem a permanência dos estudantes. Foram dirigidos para mais um prédio acadêmico. Claro que a demanda existe e é importante, mas a gente entende que poderia ter sido usado outro tipo de recurso. Abrir o orçamento participativo, abrir o plano de obras para priorização por parte da comunidade é fundamental para nós, é essencial na nossa proposta. 

O acesso ao ensino superior tem sido ampliado com a políticas públicas voltadas para isso. Como a questão do acolhimento dessa diversidade vai ser tratada se sua chapa for eleita? 

A UnB, por tradição e vanguarda, foi a primeira a implementar as cotas raciais e há bastante tempo implementa a Lei de Cotas com inclusão dos estudantes de escolas públicas, nas suas diversas segmentações, e os vestibulares específicos, como a licenciatura em educação no campo, que atende muitos quilombolas, e o curso de Libras. A construção do programa foi muito feliz, porque a gente conseguiu contar com a representação de todos esses grupos na elaboração das propostas. As políticas de acolhimento passam, primeiro, por ampliar a capacidade operacional das diretorias que foram criadas recentemente, a capacidade de desenvolver ações direcionadas aos estudantes, de acordo com as suas demandas específicas. Mas, passa, também, sobretudo, por uma mudança de cultura institucional. A gente ainda tem situações de preconceito, às vezes até de violência velada ou não em relação à presença desses grupos na universidade, e passa pela capacitação do corpo docente e técnico para lidar com essa diversidade. Muitas de nós temos formação pedagógica suficiente, mas, ainda assim, a diversidade é tão grande que a gente precisa se formar minimamente nesse campo.

Quais suas considerações finais, por favor.

O que nos traz aqui é a nossa experiência transversal na universidade, no ensino, na pesquisa, na extensão e na inovação. Mas, sobretudo, uma experiência de gestão, que vai do acadêmico ao administrativo. A avaliação dos nossos pares tem sido bastante divulgada e referendada a cada debate, a cada adesão à chapa. E imaginar a UnB participando e transformando a realidade é o que a gente gostaria.

Confira a entrevista completa

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postado em 16/08/2024 06:00
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