O governo Lula manifestou interesse em recuperar um terreno de 4,2 milhões de m² na região da antiga rodoferroviária. O lote foi doado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) ao Exército Brasileiro em 2020, que o cedeu ao Governo do Distrito Federal (GDF) para a construção de um novo bairro, chamado Setor Oeste.
Conforme apurado pela reportagem do Correio, o desejo do governo federal é recuperar todo o espaço e, em parte dele, abrir uma estação do Veículo Leve sobre Trilhos (VLT), que ligará as cidades de Brasília e Luziânia (GO). É esperado que, nos próximos dias, o Ministério dos Transportes inicie um diálogo com o Exército e com o GDF para avançar no objetivo, cancelando as doações anteriores.
Uma indicação do interesse do Planalto sobre o espaço é a publicação no Diário Oficial da União (DOU) em 24 de julho do Acordo de Cooperação Técnica (ACT) entre a União, a Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU) e o Governo de Goiás. O levantamento em que o governo federal empenhou R$ 8,4 milhões prevê estudos, projetos, aquisições, implantação e operação do sistema de transporte de passageiros utilizando o VLT entre as duas cidades.
A área cedida por Bolsonaro em 2020 ao Exército abrange 11 lotes, sendo que três já estão ocupados. Interlocutores do Palácio do Buriti alegam que a intenção do Planalto em reaver todo o terreno cedido pela força armada não é justa, pois há espaço suficiente em outros lotes para o projeto do governo federal.
Já enquanto a situação não se define, o Executivo local trabalha com a expectativa de que a área receba 65 mil moradores em 21 mil imóveis. O novo empreendimento já conta com todos os estudos e projetos aprovados por entidades, como pareceres do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).
Para que o espaço pudesse receber habitações, o governo distrital conseguiu a atualização da lei de parcelamento do solo em um projeto de lei encaminhado à Câmara Legislativa (CLDF) e aprovado no fim do ano.
VLT
Os custos para a implantação do VLT que ligará as cidades de Brasília e Luziânia (GO) são estimados em R$ 500 milhões. Em audiência pública da Comissão de Desenvolvimento Urbano da Câmara dos Deputados em junho, os engenheiros da CBTU explicaram que o estado de conservação dos trilhos que ligam as duas cidades não atende plenamente as condições de operação de passageiros, necessitando de reformas.
“Consideramos a rodovia, hoje, ociosa. A grade de interesse do passageiro é os horários de pico e, se for assim, não teríamos conflito com a circulação de trens de carga, mas é necessária uma infraestrutura melhor”, explicou o engenheiro André Jóia.
“Notamos que há um ponto de cruzamento entre as linhas do VLT e do Metrô-DF. Pela capacidade de transporte, estamos propondo no estudo de operação uma composição de 1,2 mil passageiros em dois VLTs acoplados. Para se deslocar ao Plano Piloto, poderia ser feita uma composição com o metrô ou com a estação terminal na Rodoferroviária”, explicou Jóia, no estudo apresentado a pedido de deputados federais.
De acordo com o projeto apresentado, seriam 10 VLTs (5 composições). A velocidade máxima seria de 80 km/h e a média de 40 km/h. O tempo de parada nas estações seria de 0,5 minutos e o horário de operação das 5h20 às 21h. O percurso total duraria 92 minutos, com headway (intervalo) no horário de pico de 35 minutos entre cada VLT.
O estudo da CBTU elenca que a capacidade máxima de pessoas, por hora, é de 2.240, sendo possível a capacidade total, por dia, de 24.640 passageiros. Serão 22 viagens por dia, sendo 14 no horário de pico e 8 durante o dia.
“Em um cenário um pouco mais otimista, poderíamos conseguir do Jardim Ingá até a Rodoferroviária um tempo de percurso de 72 minutos. Já de Valparaíso até a Rodoferroviária, de 50 minutos”, completou o engenheiro Daniel Freitas.
A tarifa do VLT seria de R$ 6. De acordo com a CBTU, os maiores custos seriam a compra dos trens, já que existe uma estrutura pré-existente nos locais. A empresa é responsável por administrar os sistemas ferroviários de passageiros em João Pessoa, Maceió, Natal e Recife.
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