Já passavam das 4h da madrugada da última segunda-feira (29/8), quando o locutor Mano Júnior, voz conhecida no movimento junino de Brasília, anunciou a quadrilha Arroxa o Nó, do Paranoá, como a grande campeã do Brasil pela Confederação Nacional de Entidades Juninas (Confebraq). Alegria em dobro para o grupo que, há menos de uma semana, celebrava a vitória no campeonato promovido pela Liga de Quadrilhas Juninas do DF e entorno (LinqDFE). Com o espetáculo “O Segredo do Alto do Moura”, a junina fez uma belíssima homenagem ao saudoso Mestre Vitalino, reconhecido como um dos maiores artistas da arte do barro no Brasil. Em segundo e terceiro lugar ficaram as juninas Amor Caipira, de Roraima, e Lumiar, de Pernambuco, respectivamente.
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Com o título, a Arroxa se consagrou bicampeã do concurso. “Voltar a ganhar o nacional é o reconhecimento de muito esforço e de muito trabalho. Foram várias noites de sono de muitas pessoas. Dedico este título à minha mãe, Dona Lourdes, fundadora do grupo, e ao nosso músico Caeté, que se foram, mas que com certeza devem estar felizes no céu, celebrando o título da nossa quadrilha”, afirmou Wagner Teixeira, marcador do grupo. “Após ganhar o troféu, fomos até a Praça Central do Paranoá celebrar a vitória junto aos nossos amigos e familiares. Eles gritaram ‘ganharam de novo, né? Podem fazer zoada!’, isso foi muito bom! Este foi um ano de perda para a Arroxa e também de vitória. Agradeço imensamente aos dançarinos e a toda a equipe da quadrilha por terem acreditado e por terem abdicado dos sábados e domingos em busca do nosso título”, acrescentou.
“O que Arroxa o Nó entregou foi um espetáculo que traz uma noção forte de pertencimento. Nós trabalhamos em conjunto com a cultura popular nordestina, enraizada em Pernambuco. Vitalino tinha os sertanejos como inspiração para as suas obras. Poder trazer essa nostalgia e esta cultura popular de forma lúdica, mas sem perder a essência do que Vitalino queria retratar em suas obras, foi incrível. Pesquisar e ir a fundo de tudo isso, e acima de tudo, poder criar uma história com a licença poética e passar a verdade ao público foi o nosso maior prêmio. Ter um trabalho reconhecido assim é muito gratificante. A Arroxa o Nó trabalha em grupo e esse coletivo foi o que fez esse resultado chegar a nível nacional”, explicou a projetista da Arroxa, Diana Barreto.
O grupo dedicou o sucesso ao reflexo do apoio e estrutura dada pela administração do Paranoá. “A quadrilha Arroxa o Nó leva o nome da nossa cidade do Paranoá e do nosso Distrito Federal para o cenário federal. Isso nos enche de orgulho. Mostra que aqui tem tradição e não deixa a desejar a nenhum lugar. A gente faz questão de apoiar não só ela, mas todas as manifestações populares, culturais, esportivas e religiosas de nossa cidade. Aqui temos uma tradição muito forte junina e somos palco de grandes festivais com recorde de público. O título de bicampeã é da quadrilha e também de todo o Paranoá, que vive o movimento. A gente vê que as juninas ajudam muito na questão de redução de danos, proporcionando, principalmente aos jovens, a transformação social através da cultura. Quase todas as pessoas daqui já dançaram quadrilha. Isso é uma possibilidade de integrar e faz com que eles não busquem outros caminhos”, reforçou o administrador regional do Paranoá, Wellington Cardoso de Santana, conhecido por Santana.
Amor Caipira, de Roraima, vice-campeã
Com um espetáculo de tirar o fôlego, um mega cenário e efeitos pirotécnicos impressionantes, a quadrilha Amor Caipira, de Roraima, conquistou o vice-campeonato no concurso nacional com o tema “Vem dançar, cantar e se apaixonar com o cordel da Amor Caipira no Arraiá” e levou as arquibancadas ao delírio. A quadrilha entrou no arraial com 84 brincantes e grupo de apoio. “A gente trouxe o nosso próprio cordel, inspirado em quatro cordéis populares. A nossa ideia era homenagear essa literatura popular, trazendo contos de amor dentro do São João e buscando emocionar as pessoas”, declarou o marcador do grupo, Frank Moral.
Um dos pontos mais altos da encenação foi a guerra entre os cangaceiros e o dragão no alto do castelo. Enquanto o monstro cuspia fogo, os quadrilheiros contra-atacavam com ‘tiros’ de espingardas. A expressão dos brincantes e os efeitos prenderam a atenção dos espectadores. “Demorou muito para a gente mentalizar e construir esse tema. Uma semente se transformou em tudo o que viram aqui. Desde o início, dissemos que não iríamos pensar baixo e fomos com tudo este ano. Queríamos levar algo grandioso e deu tudo certo. O projeto começou em novembro de 2023. Na produção, tivemos o envolvimento de um grande grupo, mobilizamos amigos e familiares. Tudo para entregar um trabalho lindo para o grupo. Esse resultado representa muito para a gente”, afirmou o presidente Gabriel Mangabeira.
De acordo com o grupo, o movimento junino de Roraima se mobilizou em campanha pela vitória. “Foi uma das melhores apresentações da minha vida. Foram meses de ensaio e ver esse trabalho sendo reconhecido bate uma felicidade enorme. Este ano foi muito especial para nós. Toda Roraima estava torcendo para que a gente tivesse um bom resultado”, comentou a quadrilheira Ketley Ventura. “Ter o reconhecimento do público foi incrível. Foi em Brasília, viemos de longe, e ver isso foi emocionante. Estou na Amor Caipira desde 2008 e fazer parte desta história foi lindo. Esta vitória representa muito para a gente. É o reconhecimento do nosso trabalho”, expressou o brincante Júnior Nascimento.
Esta foi a segunda vez que a Amor Caipira disputou no Concurso Nacional da Confebraq. “Foi a nossa estreia no concurso. Vimos duas ou três pessoas com bandeiras nas arquibancadas, mas no final todos estavam torcendo, e isso foi emocionante. A gente se segura na emoção para levar a apresentação até o final, por estar sendo julgado, mas no final, não seguramos e choramos muito. Foi um sonho. Lutamos há muito tempo e só temos a agradecer”, acrescentou Frank.
Lumiar, de Pernambuco, entre as três campeãs
A Junina Lumiar, de Pernambuco, conquistou o terceiro lugar com o tema “Cheirosas”. O espetáculo fez uma homenagem à tradição do banho de cheiro do Pará e também ao Boi da Pavulagem, grande bloco junino da região. O grupo transportou o grande público até o Ver-o-Peso, um dos mercados públicos mais antigos do Brasil. “Enaltecemos a tradição do banho de cheiro de São João, que é feito com ervas maceradas entre o dia 23 e o dia 24. Esse banho fica no sereno, pegando a energia da natureza. É um costume do Pará, uma tradição familiar que vem passando de geração em geração. Mostramos também várias culturas populares e falamos sobre os ritmos e as danças que existem na cultura paraense”, afirmou a vice-presidente da Lumiar, Cleo Henry.
Mesmo sendo conhecida em todo o Brasil, esta foi a primeira vez que a quadrilha competiu em um concurso nacional da Confebraq. “A gente já teve outras oportunidades em outras edições, mas acabamos não topando porque na época não tínhamos estrutura para realizar a logística de deslocamento, diferente deste ano, em que já vínhamos nos programando caso existisse a possibilidade. É uma missão bem difícil. O grupo passou por algumas modificações e transformações porque muita gente não conseguiu ir, por conta de trabalho e folgas. Então fizemos algumas substituições e ensaiamos bastante”, explicou o presidente e marcador do grupo, Fábio Andrade.
A Lumiar entrou em cena com 150 pessoas, entre elenco de casamento, grupo de dança, brincantes e equipe técnica de produção, e foi recepcionada por uma torcida de apaixonados vindos de outros estados. “Muita gente saiu de outros lugares para nos assistir e ficamos bastante emocionados. Fizemos o máximo para que essas pessoas se sentissem realizadas e felizes em nos ver pessoalmente. Fizemos uma mobilização para levar toda a estrutura. Conseguimos suporte para o ônibus, mas faltou o caminhão. Chegamos aqui devendo, para pagar depois, mas precisávamos fazer isso. Precisávamos apresentar o espetáculo realmente completo. A luta foi tão grande que só ter chegado aqui já foi uma grande vitória”, concluiu Fábio.
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