Lucilene Sales, 52 anos, é mãe de Luís Antônio, deficiente auditivo de 12 anos, que inicialmente estudava em escola particular, mas, diante do despreparo identificado por ela em promover a inclusão do aluno, o matriculou na escola pública, no CEF 03 de Sobradinho. "Aqui, ele recebeu acolhimento e foi ensinado cautelosamente", afirmou.
A Secretaria da Educação do Distrito Federal (SEEDF) tem, atualmente, 301 unidades escolares públicas que contam com espaço pedagógico para atender os 882 alunos deficientes auditivos da rede, de acordo com dados do censo escolar de 2023. O Correio conversou com profissionais e estudantes para entender como eles são educados e se há alguma carência.
O professor surdo e licenciado em Libras do Instituto de Letras (IL) da Universidade de Brasília (UnB) Glaucio de Castro, explica que o aluno com deficiência auditiva passa por alguns obstáculos ao ingressar em uma escola. Segundo ele, muitos colégios não possuem professores qualificados em Libras ou com formação específica para o ensino desses alunos e, mesmo quando há intérpretes, o número é insuficiente para atender a demanda. Ainda segundo o especialista, faltam adaptações necessárias para garantir acessibilidade e comunicação eficaz e recursos visuais apropriados e tecnologias que facilitem o aprendizado deste aluno .
O especialista enaltece a atuação da rede pública do DF nesse sentido, afirmando é possível atender plenamente alunos com deficiência auditiva, desde que o governo tome medidas para aprimorar a área — um processo que, segundo ele, envolve a implantação de mais escolas bilíngues especializadas, uma educação competente, além da disponibilização de recursos didáticos adaptados. "É crucial assegurar a presença de intérpretes de Libras em todas as etapas do ensino. Políticas públicas eficazes e uma infraestrutura escolar acessível também são primordiais para garantir uma educação inclusiva e de qualidade", afirmou.
Para atender a esses requisitos, os professores passam por um processo de aptidão que consiste em análise documental e entrevista. Além disso, conforme a Secretaria, eles são encaminhados para a Sala de Recursos Específica (SRE) — espaço no qual os deficientes auditivos recebem atendimento especializado com profissionais adaptados e intérpretes e são atendidos em todas as etapas da educação básica.
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Dificuldades
O aluno Luís Antônio, filho de Lucilene, está ciente de suas dificuldades no aprendizado e se esforça para superar os obstáculos da vida acadêmica. "Na sala de recursos tem um professor que só ensina Libras. Sinto que estou aprendendo mais aqui e todos os professores me ajudam a entender o conteúdo. O que atrapalha um pouco, às vezes, são alguns professores que faltam em áreas como de artes e de história", argumentou.
O presidente da Comissão dos Direitos da Pessoa com Deficiência (CDPD) da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Gerson Wilder, evidenciou que as escolas públicas do DF que atendem os alunos deficientes auditivos demandam profissionais qualificados e mais financiamento nessa área. "A qualificação desses professores e dos intérpretes de libras são essenciais, assim como um material assertivo e formas educacionais que cada vez mais incluam eles", observou.
Cristiane de Araújo, professora do CEF 03 de Sobradinho, explicou que, na unidade onde leciona, faltam alguns materiais didáticos e tecnologia para estimular o processo de aprendizagem. "As coisas básicas como mesas, cadeiras, armários, materiais pedagógicos, isso tudo é escasso. Trabalhamos com o mínimo possível para fazer mais do que é possível", enfatizou.
Em resposta, a SEDF informou que a carência de profissionais estaria suprida, uma vez que as vagas previstas no concurso, incluindo as do cadastro de reserva, foram preenchidas. As 301 instituições públicas que atendem os deficientes auditivos, hoje contam com 598 professores habilitados e com aptidão para atuar com estudantes surdos/deficientes auditivos. O órgão reforçou que trabalha na ampliação dos materiais didáticos em razão da quantidade de alunos matriculados.
Superando desafios
Com o ensino médio concluído na Escola Bilíngue Libras e Português Escrito de Taguatinga, Lucas Nathanael, 22, foi acolhido por essa instituição quando tinha 12 anos. Antes de ser transferido pela mãe, Mônica Rodrigues, ao colégio especializado de Taguatinga, ele tinha dificuldades no seu aprendizado e não queria mais somente montar quebra-cabeças e colorir desenhos, o que se tornou maçante devido à constância dessas atividades.
Na Escola Bilíngue Libras e Português Escrito de Taguatinga, Lucas desempenhou na comunicação com libras, o que foi essencial para impulsionar seu aprendizado, conseguiu compreender as coisas básicas com os ensinamentos, desenvolveu seu senso de socialização. "Foi ótimo, aprendi a ler e interpretar, olhar a hora ler o calendário, aprendi muito sobre História do Brasil. Compreendi como me comunicar em Libras, me senti bastante incluído na comunidade", enumerou o estudante.
Mais unidades
Atualmente, o DF conta com apenas uma Escola Bilíngue, localizada em Taguatinga, especializada no ensino para deficientes auditivos e referência para a educação deles. O Governo do Distrito Federal (GDF) está construindo a segunda escola pública integral bilíngue Libras e português do DF, no antigo Clube da Associação de Assistência aos Trabalhadores em Educação do DF (Asefe), na 912 Sul. A inauguração dessa instituição será no segundo semestre de 2024, segundo a SEDF.
*Estagiário sob a supervisão de Patrick Selvatti
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