Embalagens de comida, garrafas plásticas, latas de aerossol, sapatos, isopor e até uma chopeira foram alguns dos itens encontrados nas águas do Lago Paranoá, em especial, na beira do Deck Sul. O Correio foi ao local e encontrou pontos poluídos que geram receio em frequentadores e preocupação em ambientalistas, que apontam para o risco de contaminação e diminuição da biodiversidade local.
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A quantidade de peixes, por exemplo, sofreu uma redução considerável nos últimos anos. Foi o que constatou Cícero Ramos, 64 anos, que costuma pescar na região. Na manhã de ontem, em busca de camarões, o corretor de imóveis disse estar decepcionado com a situação do Deck Sul.
"Percebo que a culpa maior é da própria população, porque não faltam lixeiras disponíveis por aqui. É obrigação de cada um recolher seu lixo", argumentou. A esposa e empreendedora Maria Alves Rodrigues, 54, acrescentou que não basta cobrar do governo local, pois é preciso que a comunidade também faça sua parte. "Não há condições de usar o lago dessa forma", lamentou a moradora do Park Way.
Visando contribuir para a preservação da natureza, Cícero ingressou, há 40 anos, na ONG Patrulha Ecológica, responsável por inúmeras ações de limpeza no Lago. "O movimento começou com jovens descontentes com as agressões ao meio ambiente. De lá para cá, percebemos que a poluição aumentou muito por conta do próprio crescimento da população. Porém, a conscientização também se expandiu, principalmente entre as crianças, que ensinam aos pais onde não se deve jogar lixo", ponderou o ambientalista.
Risco de intoxicação
Além do papel dos frequentadores, que devem depositar seus resíduos nos locais adequados, José Francisco Gonçalves Júnior, professor do Departamento de Ecologia da Universidade de Brasília (UnB), reforçou que cabe ao Governo do Distrito Federal (GDF) cuidar, vistoriar e limpar o Deck Sul, área, considerada por ele, como a mais poluída do Lago Paranoá.
"Vale lembrar que esse lugar (Lago Paranoá) virou ponto de armazenamento de lixo também devido às impurezas oriundas da Foz do Riacho Fundo e do Ribeirão do Gama", destacou o professor e presidente da Aliança Tropical de Pesquisa da Água.
Em um contexto de poluição, como nas águas do Deck Sul, a "piscina de algas verdes", cientificamente chamada de cianobactérias, também chama atenção dos frequentadores. Segundo José Francisco Gonçalves, esses microrganismos produzem toxinas que, em contato com animais ou humanos — por toque ou ingestão — podem provocar intoxicação.
Recentes avaliações feitas pela Companhia de Saneamento Ambiental do Distrito Federal (Caesb) mostraram que estão impróprias para banho e para o consumo as águas próximas às Estações de Tratamento de Esgoto do Lago Norte e do Lago Sul, a área perto do Serviço de Limpeza Urbana (SLU), na Asa Sul, e o piscinão do Lago Norte.
"Dentre os resíduos, o plástico é o que mais apresenta risco a mamíferos, como capivaras, reptéis, anfíbios, e vertebrados aquáticos, pois acaba entupindo suas brânquias e guelras", completou o especialista. Segundo informações da Fiocruz, o plástico demora, em média, 450 anos para se decompor, caso não seja reciclado.
Fiscalização
Questionada sobre os casos de poluição no Deck Sul, a Agência Reguladora de Águas, Energia e Saneamento Básico (Adasa) respondeu que realiza a gestão integrada do Lago Paranoá, monitora mais de dez estações de coleta e análise da qualidade da água e fiscaliza as condições de operação do reservatório.
"Informamos ainda que a Adasa oficiou o SLU determinando que realizasse a substituição das lixeiras danificadas e a catação dos resíduos presentes nas margens do lago na região do Deck Sul, e que a agência solicitou à Novacap que execute a limpeza e manutenção dos dispositivos de drenagem urbana que fazem lançamentos no local", disse a nota.
Em comunicado, o SLU informou que mantém, diariamente, duas equipes de garis fazendo a limpeza e catação de lixo no Deck Norte e no Deck Sul, com trabalho em dois turnos. A autarquia destacou, ainda, que quatro garis fazem a catação e a varrição diariamente na Orla Sul e seis garis na Orla Norte. "O SLU pede a colaboração da população que utiliza esses espaços de lazer para que jogue o lixo nas lixeiras. Recentemente, foram instaladas 18 lixeiras públicas no Deck Sul."
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