"Honestino Monteiro Guimarães, presente!" Em meio a muita emoção, familiares, amigos, antigos colegas e universitários compareceram à Universidade de Brasília (UnB) na tarde desta sexta-feira (26/7) para a solenidade que concedeu o título de geólogo post mortem ao líder estudantil, desaparecido desde outubro de 1973, após ser preso durante o regime militar.
O desaparecimento de Honestino marcou um período de grande repressão e perseguição a opositores do regime. Décadas após um crime jamais desvendado pela polícia, a UnB reconheceu a trajetória do líder estudantil, desligado da instituição após liderar a expulsão de um falso professor, o que impediu sua formatura.
“A entrega desse título tem uma importância histórica para a UnB. É um resgate da nossa história. A universidade volta a lembrar o período da ditadura militar, quando foi violentada, perdendo vidas de pessoas que defendiam a democracia”, destacou a reitora Márcia Abrahão. “Para mim, é ainda mais significativo. Sou geóloga e tenho muitos colegas aqui na solenidade que respeitam a história de Honestino. É algo que marcou e continua marcando nossa trajetória. Pedimos desculpas à família de Honestino”, ressaltou ao Correio.
Cerimônia
Além de autoridades, como ex-parlamentares e lideranças estudantis, a família de Honestino Guimarães esteve presente na cerimônia, no auditório da Associação dos Docentes da UnB. O primo de Honestino, Sebastião Lopes Neto, recebeu o título das mãos da reitora da universidade. Para ele, foi uma homenagem importante, mas tardia, considerando que o líder estudantil está desaparecido há mais de 50 anos.
“Nossa família foi massacrada e a perda dele é irreparável. Achamos que a homenagem aconteceu tarde, mas que sirva de lição para outras universidades do país seguirem o mesmo caminho. A comissão da anistia deve criar parâmetros para recuperar a história desses estudantes desaparecidos, muitos deles durante a ditadura. É um momento simbólico”, salientou.
Honestino Guimarães foi presidente do Diretório Central dos Estudantes (DCE) da UnB e da União Nacional dos Estudantes (UNE). Nascido em Itaberaí (GO), em 1947, mudou-se com a família para Brasília em 1960. Sua trajetória foi marcada pela defesa da democracia, dos direitos estudantis e da autonomia universitária. “O reconhecimento da universidade é importante. É um pedido de desculpas tardio, mas que traz paz aos nossos corações”, afirmou Lopes Neto à reportagem.
O secretário de Educação Superior do Ministério da Educação, Alexandre Brasil, considerou que o diploma é um reconhecimento à memória de Honestino e a todos os que, como ele, enfrentaram a opressão. "A universidade é um espaço plural, de democracia, de dúvida, contraditório, pesquisa, estudo, extensão, de construção e de defesa da democracia. E é por isso que ela foi tão atacada, e a UnB, na década de 1960, foi violentamente atacada. E recentemente, de novo, a universidade pública brasileira também foi atacada", afirmou.
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