Com o tema O Segredo do Alto do Moura, a quadrilha Arroxa o Nó, do Paranoá, levou a melhor e se consagrou campeã do Distrito Federal de 2024 pela Liga de Quadrilhas Juninas do Distrito Federal e Entorno (LinqDFE). A final do circuito ocorreu no último final de semana, dias 20, 21 e 22, no estacionamento do Estádio Serejão, em Taguatinga, e contou com a participação de mais de 20 grupos. O espetáculo da campeã homenageou a obra do saudoso Mestre Vitalino, considerado um dos maiores artistas da arte do barro no Brasil. Em segundo e terceiro lugar ficaram as juninas Formiga da Roça, de São Sebastião, e Ribuliço, da Ceilândia, respectivamente. Já no Grupo de Acesso, foi a junina Vai mas Não Vai que levou, de Luziânia, que conquistou o primeiro lugar, seguida das quadrilhas Tico Tico no Fubá, de Águas Lindas de Goiás (GO), e Espalha Brasa, do Paranoá, em segundo e terceiro, respectivamente. As campeãs do especial agora se preparam para representar a Capital Federal nos concursos nacionais.
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“Ser campeão da Liga com esta temática do Mestre Vitalino, representando Pernambuco, lugar da minha mãezinha querida, que deve estar muito feliz lá em cima ao lado do meu amigo Caeté, que se foi também e que estaria comemorando com a gente, é inexplicável”, afirmou o marcador e fundador da Arroxa o Nó, Wagner Teixeira, o Waguinho. “Gratidão imensa a cada bonequinho que fez parte deste ano. Esses bonequinhos são pessoas que se dedicaram, que saíram de casa nos finais de semana, deixaram de estar em comemorações de família, de aniversário e de casamento para se dedicar à quadrilha. Gente que acreditou no projeto e viveu cada segundo”, acrescentou.
Em cena, mais de 80 brincantes emprestaram seus respectivos corpos para dar vida aos bonecos do Mestre Vitalino. A proposta cênica foi elaborada e defendida entre os meses de outubro e novembro de 2023 pela pesquisadora Diana Barreto e os coreógrafos Jharles Barbosa e João Lucas de Souza. “Eu lembro que quando eu conversei com os meninos para tentar fazer a temática de 2024 e me dispus a estudar 32 possíveis temas. Dos 32, fiquei arrepiada quando chegou no Mestre Vitalino. Senti uma energia forte. Quando levamos a proposta para o grupo de trabalho, eles ficaram encantados com as ideias e aceitaram realizar o projeto. Foi um trabalho dentro e fora de quadra. Essa união torna qualquer trabalho forte. Vitalino tocou o meu coração e a minha alma de artista. Este tema chegou como um presente. Deu certo e acabou que conquistamos o título de 2024”, comentou Diana.
As coreografias do grupo contaram com elementos dos ritmos da cultura popular nordestina. Entre as danças, estiveram presentes coco, xaxado, maracatu, cavalo marinho, xote, baião, ciranda, caboclinho e frevo. Montagem assinada pelos bailarinos Jharles Barbosa e João Lucas de Souza.
"A preparação da Arroxa o Nó em 2024 foi uma verdadeira batalha. Formamos uma equipe coesa e companheira. Desde o primeiro ensaio e primeiro contato com a coreografia em setembro, entre noites, insônias e dias dedicados a longas horas de trabalho. Ao olhar para trás, posso afirmar que todo esforço valeu a pena. Somos uma família e, como qualquer outra, temos nossas diferenças, mas são essas diferenças que nos fortalecem e, nos momentos mais cruciais, nós nos unimos e mostramos o nosso verdadeiro valor. Foi um projeto emocionante", destacou o coreógrafo e bailarino Jharles Barbosa.
Cada detalhe foi minuciosamente pensado pelo grupo, mas nem tudo foram flores no processo de construção do espetáculo. Waguinho revela que a Arroxa enfrentou bastante dificuldade no percurso, principalmente na elaboração do figurino. "A gente sabe a dificuldade que foi colocar este tema em quadra, principalmente pela dificuldade do figurino. Até o momento, as quadrilhas que falaram do Mestre Vitalino, falaram sobre a vida do mestre e não só sobre os bonecos. Enfrentamos uma dificuldade enorme para achar o tom de barro, principalmente para as roupas".
Destaque para os noivos
Um dos grandes destaques da apresentação foram os bonecos Zé do Barro e Maria Fulô, interpretados pelos noivos da Arroxa, Walter José da Silva e Ingrid Lohani. “Interpretar a boneca de barro me fez enxergar tudo como 'novo', como um bebê conhecendo a vida, conhecendo o corpo, movimentos, sentimentos, pessoas e lugares. Totalmente diferente da minha personagem da temporada passada, essa me fez pensar muito em como é 'conhecer a vida novamente'. Foi lindo viver Maria Fulô e tenho a certeza de que vai ser uma personagem que vou lembrar sempre com muito carinho. Ser a noiva da Arroxa é uma responsabilidade gigantesca, estar à frente de um grupo com tanta experiência é bem desafiador, mas a cada dia que passa aprendo mais aqui e a me posicionar diante do grupo dentro do que represento a ele. A cada temporada vem um aprendizado novo”, ressaltou a noiva da Arroxa, Ingrid Lohani.
Na história, o Zé do Barro é derrubado, se quebra, mas é restaurado pelo criador Vitalino e surge sorrindo em cima de um cavalo, fazendo o grande público refletir sobre a capacidade de criar e recriar, mesmo diante das adversidades. “Interpretar o João de Barro me tirou da zona de conforto. Saí de um personagem que tinha uma identidade próxima à minha, que foi o João Comprido, no espetáculo do ano passado, que era vaqueiro, com dança forte e expressiva para dar vida ao molde do boneco de barro. Não foi fácil. Por diversos momentos, achei que não fosse conseguir. Foi muito difícil! Eu chorei, me esforcei e por diversas noites fiquei acordado até tarde estudando. Me dedicando e ensaiando até sozinho para conseguir levar o Zé para o arraiá e, graças a Deus, ele veio com sua essência, com seu jeito de dançar, amoroso, tímido e apaixonado. Hoje eu sei que eu posso interpretar várias coisas, outros personagens e dar vida a outras obras.”, relatou o brincante Walter Júnior, noivo da Arroxa o Nó.
História
A Arroxa o Nó foi fundada em 1999 pela pernambucana Maria de Lourdes Teixeira Lima, costureira radicada no Paranoá. Após o falecimento da fundadora, em novembro de 2019, o filho dela, Wagner Teixeira, o Waguinho, marcador do grupo, continuou os passos da mãe. Com esta vitória, a Arroxa se consagrou tricampeã da LinqDFE. A junina também já conquistou o Nacional da Confebraq em 2017 e foi campeã do Arraiá Brasil, em 2023. A sede do grupo está localizada na Casa Lourdes, na Quadra 06, do Paranoá.
Formiga da Roça vice-campeã
Com o espetáculo Ser-tão: o clássico em forma de cordel, a Formiga da Roça, de São Sebastião, obteve um excelente desempenho e empatou no ranking geral com a Arroxa o Nó, mas por critérios técnicos de desempate, ficou em segundo lugar. No regulamento, foram utilizados os pontos do melhor marcador para coroar a campeã.
“O ciclo da Formiga da Roça vai ficar marcado e memorável no movimento junino do Distrito Federal. Todo mundo que teve a oportunidade de prestigiar o trabalho da Formiga viu que foi algo muito impactante, relevante e que despertou a atenção dos espectadores. O espetáculo foi muito bem aceito pela comunidade e pelas arquibancadas. Um trabalho que foi ousado, único e exclusivo e acredito que foi um dos melhores trabalhos. É óbvio que a gente não pode deixar de reconhecer a quadrilha que levou o mérito de campeã. Foi campeã por critério técnico, porque as duas quadrilhas ficaram empatadas, mas o grupo concorrente sobressaiu por desempate. A gente acredita que para você ser campeão com dignidade, você tem que saber perder. Por critério técnico, nós perdemos desta vez”, contou o produtor cultural e presidente da Formiga, Patrese Ricardo.
A encenação da Formiga deste ano fez o público viajar até o universo lúdico do Mágico de Oz adaptado ao sertão brasileiro. Mesmo em segundo lugar, a quadrilha terá a oportunidade de disputar o nacional da Confebraq.
Ribuliço conquista terceiro lugar
A Ribuliço, da Ceilândia, conquistou o terceiro lugar. Este ano, o grupo repetiu a dose do tema de 2023 intitulado Quatro fases, quatro histórias da lua do meu São João. Mesmo com a mesma temática, a quadrilha potencializou o espetáculo com novo figurino, inclusão de trilhas sonoras e outros detalhes.
"A Ribuliço de 2024 desafiou a gente a viver a nossa maior alegria, mostrando que o São João pode ser a maior e mais alegre festa, desde que se entregue o melhor da sua arte, e foi isso que conquistamos este ano. Tivemos o prazer de ver nossos parentes e amigos torcendo por nós e acreditando que o nosso trabalho é lindo, valorizando-nos enquanto artistas. Este ciclo nos trouxe alegria, valorização e muito aprendizado. Como sempre dizemos: na Ribu, nada é fácil e nada é simples, mas no final, tudo acontece como tem que ser. Tudo tem o seu tempo e a sua hora de chegar. Chegamos mais uma vez ao pódio e estamos em êxtase por isso", relatou a vice-presidente e fundadora da Ribuliço, Poliana Santos.
Campeãs irão representar o DF em concursos nacionais
A Arroxa e a Formiga irão representar Brasília no Concurso Nacional da Confederação Brasileira de Entidades Juninas (Confebraq), que será realizado no próximo final de semana, dias 27 e 28, no Estádio Serejão, em Taguatinga. Já a Ribuliço irá representar a Capital Federal no Arraiá Brasil, nos dias 3 e 4 de agosto, em Aparecida de Goiânia, em Goiás.
“Para o nacional, podem esperar uma apresentação leve, feliz e solta, porque a sensação é que já fizemos a nossa parte. Mas vamos ao Nacional com muito respeito às outras quadrilhas, com uma temática muito forte, que representa a dança das quadrilhas juninas. A Arroxa o Nó sempre foi muita dança”, afirmou Waguinho.
“A expectativa é muito boa para a Formiga no Nacional. O horário pode não ajudar muito, mas estamos confiantes de que teremos uma boa colocação, afinal, estamos representando Brasília também. Ano passado, fomos campeãs de Brasília e vice-campeãs nacionais, então isso já tem um peso para a gente tentar se manter entre as melhores quadrilhas, mas a nível nacional, é sempre uma surpresa”, comentou Patrese Ricardo.
"Conquistar essa oportunidade de estar no Arraiá Brasil e representar o Distrito Federal deixa a gente com o coração aquecido. Agora, iremos encerrar o ciclo e fechar o que ficou aberto no ano passado. Participamos no ano passado, mas não tivemos um bom desfecho. Este ano pode ser diferente. Temos uma nova oportunidade de fazer uma nova história. Muita gente acredita que segundas chances não existem, mas na Ribu tudo é diferente, e vamos agarrar essa oportunidade com toda a garra e força, e vai ser linda a entrega", declarou Poliana Santos, da Ribuliço.
'Vai Mas Não Vai' campeã do Acesso
No grupo de Acesso, a quadrilha Vai Mas Não Vai, de Luziânia (GO), levou a melhor na disputa e conquistou o primeiro lugar. Este ano, o grupo apresentou o espetáculo São João de Bom Conselho, a festa do povo para o povo, que contou a história de duas famílias rivais e devotas de São José. Elas disputam tudo: terras, política, e desta vez, quem iria fazer o São João da Paróquia. A trama se passa no Agreste de Pernambuco e é inspirada em fatos reais.
“Esse momento é único para todos nós! É o reconhecimento de um trabalho que há anos vem sendo realizado em nossa comunidade. São meses de ensaios, noites em claro, tudo em prol de um único objetivo. Tudo é feito com muito carinho e dedicação. Cada figurino, cada acessório feito por nossas próprias mãos transmite um pouco do amor que sentimos pelo movimento para o nosso público. Não posso deixar de agradecer também aos donos dessa festa, os nossos brincantes, que muitas vezes deixaram o convívio familiar para se dedicar à nossa junina. Esse é o verdadeiro segredo: união e doação em prol de um objetivo”, ressaltou Rony Lopes, presidente e noivo da Vai Mas Não Vai.
Em segundo e terceiro lugar ficaram as juninas Tico Tico no Fubá, de Águas Lindas de Goiás, e Espalha Brasa, do Paranoá. As três subiram e irão disputar no grupo especial em 2025. "Estamos muito felizes com o nosso resultado. Era algo que a gente sempre acreditou que conquistaria pelo esforço, pela dedicação, e por tudo que planejamos, essa vitória foi toda por mérito da junina! Valeu muito a pena tudo que passamos. Sempre trabalhamos em cima daquilo que estava nos prejudicando. Foram muitos ensaios para chegar neste resultado. Saímos de 5º para o grupo das campeãs. Isso é uma evolução imensa. Só felicidade!", conta Janaína Borges, noiva da Tico Tico.
“Estaremos completando 15 anos de história e nosso primeiro ano no módulo especial da Liga. Agora é lutar para permanecer na categoria. Vamos honrar, ensaiar, montar um elenco de campeões e escrever aquele tema que arrepia os braços e pernas. Esperamos que seja muito semelhante a esse ano, um ano de alegria, dançando com um sorriso tão grande no rosto de saber que concluímos nosso dever”, disse Pablo Félix, marcador da junina Espalha Brasa.
Confira o ranking geral do Circuito da LinqDFE 2024
Grupo especial
1. Arroxa o Nó - 839,1* (desempate - Melhor Marcador)
2. Formiga da Roça - 839,1*
3. Ribuliço - 836,9
4. Xamegar - 833,9
5. Mala Veia - 831,9
6. Rasga o Fole - 831,8
7. Caipirada - 831,4
8. Eita Bagaceira - 830,9
9. Amor Junino - 830,8
10. Arraiá dos Matutos - 830,2
11. Pinga em Mim - 829,9
12. Coisas da Roça - 829,6
13. Fornalha - 826,4
14. Xique Xique - 822,1
15. Xem Nhem Nhem - 817,6
Grupo de Acesso
1. Vai mas Não Vai - 1.185,1
2. Tico Tico no Fubá - 1.178,0
3. Espalha Brasa 1.173,1
4. Os Caboclos do Sertão - 1.172,8
5. Matingueiros do Sertão - 1.166,9
6. Chinelo de Couro - 885,3
7. Bamboleá - 865,0
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