TRADIÇÃO

Rede de artesãos gera renda para comunidades indígenas de todo o país

Além das exposições na Aldeia Multiétnica, povos indígenas contam com uma rede de comércio físico e on-line para as obras

Nesta sexta-feira (19/7), último dia de atrações comandadas por povos indígenas de todo o Brasil, visitantes puderam conhecer mais sobre a medicina e a arte de dezenas de etnias, além de levar um pedaço de cada aldeia para casa. A 16ª edição da Aldeia Multiétnica encerra neste sábado (20/7), com o início do 24º Encontro de Culturas Tradicionais da Chapada dos Veadeiros.

Já é tradição entre os povos que vão para a Aldeia Multiétnica trazer artes locais para vender nas tendas e lençóis espalhados pelo local. Além de ser um momento único de intercâmbio cultural, a venda de artesanato, ervas medicinais, pinturas e outros artigos faz parte da renda das aldeias. 

A paulista Ana Castro, 35, já tinha vontade de participar do evento e, neste ano, recebeu o convite diretamente do povo Alto Xingu. “Olhando de perto, percebemos o quanto isso agrega para todas as comunidades e para nós, visitantes, também", relatou. Para ela, tem sido incrível o aprendizado e a troca de culturas. E, claro, ela não ia deixar de conhecer os artigos produzidos nas comunidades. 

Para ela, o mais impressionante foram as formas de cura que os povos indígenas mostraram. "São vários remédios feitos a partir de plantas. É por isso que eles batalham tanto para manter o território intacto, pois é de lá que extraem esses medicamentos e têm uma autonomia de cura", observou.

Luis Fellype Rodrigues/CB - Ana Castro ficou impressionada com a capacidade de cura que as plantas têm

Arte e significado 

Uma arte que vai além de confeccionar itens e objetos, é como a artesã Tsiktso Rikbaktsa, 35, do povo Rikbaktsa, definiu o artesanato. "Fazem parte da nossa cultura nativa, muitos desses artigos são vestes tradicionais e carregam muita história. Sem contar que é com ele que conseguimos sustento e muitas famílias dependem disso, principalmente as mulheres. Para você ter ideia, na nossa comunidade, cerca de 98% das mulheres trabalham com isso", pontuou.

Tsiktso gostaria que tanto a atividade quanto os artesãos tivessem mais reconhecimento e respeito. "Artesanato não é apenas o momento da venda. Mostramos como é o processo de fabricação, pois, para chegar na banca, o item passa por várias etapas, carregando histórias e dificuldades. Tentamos passar isso para as pessoas. Tudo o que produzimos tem um significado enorme para nós", destacou.

Luis Fellype Rodrigues/CB - Tsiktso Rikbaktsa pediu mais reconhecimento com artesanato

Wetsu Baniwa veio sozinho, mas trouxe consigo representações de 23 etnias que vivem no Alto Rio Negro, próximo à São Gabriel da Cachoeira (AM), unidos também pelo idioma, o Aruak. “Perto do rio Arari tem uma cachoeira bem forte e no meio dela tem um buraco que a gente chama de ‘umbigo do mundo’, para nossa história, foi lá que o mundo surgiu”, conta.

O povo Baniwa é conhecido pelas cestas, balaios e outros artigos feitos de arumã. Segundo Wetsu, essa arte surgiu antes mesmo do povo Baniwa, com os antepassados deles. Foi essa arte popular que ele levou para a Feira de Experiências Sustentáveis do Brasil, que reuniu diversos artistas na Aldeia com obras que representam os biomas brasileiros 

Para ele, o evento é uma chance de mostrar uma arte tão significativa dos Baniwa para outras culturas. “É uma troca de experiências, muitos aprendizados”, afirma. “É muito importante a gente aprender e ouvir a realidade de cada povo de vários estados brasileiros para mim”.

Gabriella Braz/CB - Wetsu Baniwa veio representando 23 etnias que vivem no Alto Rio Negro

A arte fora da Aldeia

A prática de trazer as artes dos povos para a Aldeia Multiétnica, entretanto, sofreu uma paralisação devido à pandemia de covid-19. O que impactou também na subsistência das aldeias.

Com isso, alguns organizadores do encontro, como Leo Porto, coordenador da Rede Multiétnica, que gerencia a comercialização de produtos de variadas etnias, explica que a primeira iniciativa, ainda na pandemia, foi de criar uma ferramenta e-commerce para a venda de produtos das comunidades, que não podiam sair de seus territórios por conta da pandemia.

A ideia era ter uma geração de renda distribuída ao longo de todo o ano. “Observou-se que as comunidades tinham quase os mesmos problemas, que são distanciamento geográfico, falta de acesso ao mercado, dificuldade em precificar os produtos”, explica. Quando alguém compra um produto da Rede, a maior parte do valor vai para o artesão, e outra parte para os custos do projeto, que não tem fins lucrativos.

Atualmente, o projeto conta com lojas em Alto Paraíso de Goiás (GO), Brasília e São Paulo. O DF conta com dois endereços da Rede Multiétnica: na quadra comercial 405 norte e no shopping Casa Park, onde espectadores também podem apreciar uma exposição de obras de diferentes etnias. 

Gabriella Braz/CB -
Luis Fellype Rodrigues/CB -
Luis Fellype Rodrigues/CB -
Luis Fellype Rodrigues/CB -

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