O vinho, com sua rica história e complexidade de sabores oriundos de diversas regiões do país, merece ser apreciado com atenção e reverência. Com mais de 70 vinícolas brasileiras, a Expovitis Brasil 2024 - Feira Nacional de Viticultura, Enologia e Enoturismo - demonstra que, apesar de um cenário tradicionalmente dominado por estados do Sul, a produção de vinhos tem se tornado cada vez mais plural no país, incluindo a local, dentro do nosso "quadradinho".
A exposição ocorre até amanhã, no Parque Tecnológico Ivaldo Cenci, mesmo local da AgroBrasília, à margem da BR-251, km 5. O ingresso custa R$ 95 e dá direito a degustar os vinhos expostos. A programação começou ontem, com o painel sobre Tecnologias, Pesquisas e Perspectivas para a Vitivinicultura.
O presidente da Expovitis, Ronaldo Triacca, explica que a feira é uma fonte de conhecimento, tanto para o público quanto para os produtores. "São vinícolas representantes de várias regiões do nosso país, mostrando a qualidade do vinho brasileiro. E, neste momento, também estamos com palestrantes de nível nacional e internacional. Tudo isso para levar o melhor para o consumidor", afirmou.
"É uma feira de conhecimento. Além dos vinhos, podemos apreciar a cultura, com shows musicais de vários artistas. Os melhores vinhos do país podem ser degustados aqui. O caminho é tranquilo, todo asfaltado. E, para nós, é incrível ter a parceria do Correio, um jornal bastante renomado em nossa capital federal", comentou Triacca.
O participante do painel e consultor internacional Rodrigo Laytte citou que o Brasil não é o centro de origem da espécie Vitis vinifera — a videira mais cultivada para a produção de vinho na Europa. No entanto, salientou que as primeiras videiras no país foram trazidas pela expedição colonizadora de Martim Afonso de Sousa, em 1532.
"Tudo que está no nosso país, basicamente, veio por ele, desde o boi até a uva. Martim também trouxe de Portugal para cá castas portuguesas, castas de Vitis vinifera de regiões mediterrâneas, de verão seco e quente", explicou. "Apesar de a viticultura brasileira ter passado por um período de estagnação, motivada pela interdição da coroa portuguesa, conseguimos superar essa fase. Hoje, nossa viticultura prospera graças aos descendentes europeus, especialmente italianos e portugueses. É graças a eles que temos o prazer de consumir nosso brilhante vinho", relembrou Laytte.
O proprietário e enólogo da Vinícola Miolo, Adriano Miolo, explicou que 80% do vinho consumido hoje no Brasil é importado. Para ele, com o surgimento de novas regiões e produtores no país, a tendência é que esse cenário mude, já que 50 novas regiões vitivinícolas foram catalogadas, com a plantação de uvas e a produção de vinhos.
"O futuro do vinho no nosso país passa por esses locais. Isso vai fazer com que o consumidor conheça cada vez mais vinhos diferentes, de variedades diferentes, de terroirs diferentes. O vinho produzido aqui no Centro-Oeste, por exemplo, é surpreendente. Com temperaturas baixas durante a noite e calor durante o dia, temos um terroir exclusivo", explica Miolo. "Todos os produtores do país estão aqui e compartilhando ideias. É um evento que ajuda todos, levando ao consumidor o melhor do vinho", concluiu.
De Norte a Sul
A vasta extensão territorial do país proporciona uma variedade de climas e terroirs que influenciam diretamente as características das uvas. É o que salienta o produtor e empresário de Santa Catarina Everson Suzin. Ele destaca que no Sul, o clima com estações mais definidas do que nas demais regiões favorece a produção de um vinho de alta qualidade.
"O público aqui pode perceber a diferença dos vinhos. Tanto o Sul quanto os demais estados do nosso país produzem vinhos fantásticos, mas cada um com sua peculiaridade. O nosso, por exemplo, é produzido no inverno e em uma região mais alta do Brasil. A nossa região tem uma presença bastante grande de taninos e polifenóis, o que torna os vinhos mais estruturados em comparação com os de outras regiões. Mas a experiência aqui é mostrar às pessoas as diferenças e, apesar de tudo, que todos nós produzimos vinhos de altíssima qualidade", comentou Suzin.
Os vinhedos do Distrito Federal, diferentemente dos de outras regiões do país, passam por uma modificação do ciclo que faz com que as uvas estejam prontas para a colheita no inverno. Com o intuito de transformar a capital federal em uma rota da uva, 10 sócios se juntaram para formar a Vinícola Brasília.
"É um trabalho que fazemos com bastante carinho e dedicação. Há muitas pessoas que sequer imaginam que há produção de vinho aqui na nossa cidade. E, na nossa concepção, temos um dos melhores climas para a produção e cultivo dessas uvas. É uma junção de esforços para colocar a capital federal no caminho dos admiradores do bom vinho", comentou o consultor Abrahão Sampaio.
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