A Chapada dos Veadeiros, em Goiás, receberá a 16ª edição da Aldeia Multiétnica e 24º Encontro de Culturas Tradicionais da Chapada dos Veadeiros, ambos entre os dias 12 a 20 de julho. As iniciativas, segundo seus organizadores, buscam promover uma experiência multiétnica em que povos indígenas compartilham conhecimentos e as ampliam a visitantes — em sua maioria turistas vindos de áreas urbanas de diversos pontos do Brasil e até do exterior — que também queiram participar. "É uma oportunidade para não-indígenas conhecerem de perto as culturas tradicionais", diz Ana Paula Rocha, idealizadora das duas reuniões. Ela foi a convidada, ontem, do Podcast do Correio. Às jornalistas Mila Ferreira e Jaqueline Fonseca, Ana Paula contou o que está programado para o evento que ocorrerá em Alto Paraíso de Goiás, a 230 km de Brasília, local cercado de paisagens preservadas de Cerrado, o segundo maior bioma brasileiro.
O que o público pode esperar da programação deste ano?
Há muitos anos este evento faz parte do calendário oficial — eu posso dizer — de Goiás, do Brasil e, até mesmo, internacional. A cada ano, o projeto vem crescendo mais e vai ganhando uma nova dimensão que fortalece as manifestações da cultura popular, de um modo geral. Há 16 anos, além do encontro, iniciamos a aldeia multiétnica em uma chácara, próxima a vila de São Jorge, e assim continua, até hoje, e na vila temos o encontro de culturas. Essas duas ações ocupam 15 dias do calendário de julho. A primeira ação começou no dia 12 e vai até sábado, quando teremos o show do Zeca Baleiro e o Dia da transição que terminamos a aldeia multiétnica e começamos o encontro de culturas tradicionais, na Vila de São Jorge, a partir do dia 21.
Como funciona essa Aldeia? É possível pessoas de fora participarem?
É uma grande vivência e, também, um momento para que nós, pessoas não-indígenas, possamos conhecer um pouco da cultura deles. Por isso, o público é super bem-vindo. Temos pacotes para a pessoa passar a semana toda, para participar de todas as atividades. E existe a opção diária, onde ela vai vivenciar a experiência das cachoeiras, um lugar lindo com uma natureza exuberante. Este ano, teremos nove etnias brasileiras e duas estrangeiras. Receberemos povos do Xingu, do Acre e de diversas regiões brasileiras para que possamos conhecê-los. Eles vão explicar sobre a sua cultura, mostrar sua dança, falar da sua alimentação e, à noite, realizaremos uma grande concentração cultural. Os visitantes podem participar das rodas de prosa com essas lideranças (indígenas), que mostrarão um pouco das dificuldades vividas (por seus povos).
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Como está sendo a recepção do evento pela comunidade da Chapada?
O encontro é extremamente querido pela população. Este projeto contribui para o desenvolvimento econômico e turístico da região, o impacto é muito positivo. Há alguns anos, quando as pessoas chegavam à região, só havia pousadas com poucos serviços. Mas, hoje, você tem é diversos opções que oferecem muito conhecimento. Todo mundo ganha, pois gera renda e entretenimento. A população de São Jorge é muito participativa e se tornou amiga do projeto. São temas diversos que, de forma direta ou indireta, se relacionam com o desenvolvimento e o bem-estar das comunidades tradicionais. É um projeto de fomento à preservação e memória das culturas populares.
Qual a importância do Zeca Baleiro, artista que tem participação importante nesse contexto de valorização da cultura tradicional?
O Zeca fez a trilha sonora do filme De longe, toda a terra é azul, que é uma produção que vai ser exibida neste sábado (amanhã) e trata da vida do indigenista Fernando Schiavini. Ele é um dos idealizadores da Aldeia Multiétnica e esteve conosco desde a criação do projeto, acompanhando e mobilizando as comunidades indígenas a estarem no projeto. O Zeca fez a trilha, como falei, então, é um momento para celebrar. Não necessariamente é comum fazermos um show de grande porte (neste evento). Geralmente, são ações de menor porte, mas em função desse momento, dessa comemoração, vai ser feito.
Conte mais sobre como se dá esse interação do público com as etnias.
Na aldeia multiétnica, nós temos as etnias e, no encontro de culturas tradicionais, temos os grupos de cultura popular, que são a Congada de Niquelândia, a Catira de São João d'Aliança, a Caçada da Rainha de Colinas do Sul e os Kalungas de Cavalcante-Teresina. O público vai ter a oportunidade de, a qualquer momento, conhecer as etnias porque a programação estará disponível durante todo o evento. Cada etnia será responsável por reger o dia, apresentar danças, mostrar sua alimentação. Em São Jorge, na Aldeia Multiétnica, quem recebe são os indígenas.
Quantas pessoas são esperadas nesta edição do evento. As obras de infraestrutura próximas à Vila não prejudicarão o acesso?
Este ano temos um desafio novo. Além da cidade ser pequena, há um tempo observamos o crescimento desse público (visitante), porque o projeto, a cada ano, tem se aprimorado. Estamos esperando uma média de 20 mil pessoas ao longo desses dias (de evento), por isso temos uma programação intensa o dia inteiro. Com relação à questão das obras, foi cogitado, inclusive, de o projeto não acontecer na Vila de São Jorge este ano, mas houve uma grande comoção social. Foi muito bonito ver a população pedir para o encontro não sair da Vila, mesmo com todos os desafios.
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