RESISTÊNCIA

Indígenas levam esporte tradicional e rituais para a Aldeia Multiétnica

A celebração, comandada por povos de todo o país, ocorre na Chapada dos Veadeiros até sábado (20/7)

Anualmente, comunidades indígenas de todo o Brasil se unem na Chapada dos Veadeiros para celebrar o que cada uma tem de melhor. A arte, a dança, a música e o artesanato fazem parte de uma semana intensa de apresentações na XVI Aldeia Multiétnica.

Na celebração, que acontece próxima a Alto Paraíso de Goiás (GO), os indígenas comandam toda a programação. Participam desta edição os povos do Alto, Xingu, os Fulni-ô, Guarani Mbyá, Kariri-Xocó, Kayapó Mebêngôkré, Krahô e Xavante.

Desde a apresentação do evento, a escolha das atrações, os artistas e a ordem dos espetáculos, em cada dia, uma etnia comanda a festa. Nesta quinta-feira (18/7), os anfitriões foram os povos do Alto Xingu.  

A programação, guiada pela etnia Yawalapiti, contou com um momento significativo para todas as comunidades do local, um ponto alto do Kwarup, principal cerimônia das aldeias do Xingu. Nessa etapa, acontece um rito de passagem chamado de sangria ou arranhaduras, onde um profissional da aldeia passa uma espécie de pente feito com dentes de peixe na pele da pessoa.

Esse ritual marca a passagem do menino ou menina para a vida adulta. Na arranhadura, os xinguanos explicam que o cansaço é retirado do corpo do jovem. Em seguida, são passadas ervas sobre os arranhões.

Gabriella Braz/CB - XVI Aldeia Multiétnica: o processo de arranhadura representa uma passagem para a vida adulta

Amarü Yawalapiti, liderança indígena que apresentou os encontros, explica que a preparação para a sangria exige um período de reclusão de, pelo menos, um ano. “Assim como vocês não-indígenas buscam se formar, trabalhar, é assim que a gente se prepara para a vida adulta”, explica. “A gente tenta buscar ser um campeão”.

Além de ser um ritual de passagem, a arranhadura também pode ser utilizada para tratar doenças.

Ritual

Após descobrir que os povos xinguanos tinham o hábito de se arranharem para aumentar a força, os músculos e retirar o cansaço, o escritor André Shibuya, 37, passou a se interessar pelo ritual e na primeira oportunidade resolveu participar. "No meu caso, o que eu almejo são os músculos. Todos os integrantes da aldeia têm corpos atléticos e grandes, e eu busco o mesmo", explicou.

Luis Fellype Rodrigues/CB - André Shibuya participou do ritual para adquirir um corpo mais atlético

André contou que o ritual é bastante doloroso, mas revigorante. "Meu corpo está ardendo. Quando passaram o medicamento nos arranhões, senti como se eu estivesse em chamas. A sensação é que algo está sendo drenado de mim", observou.

Quem esteve na Aldeia nesta quinta também pôde prestigiar um esporte tradicional do Alto Xingu, a luta Huka Huka. O objetivo do combate é tocar a coxa do adversário ou derrubá-lo segurando a perna dele. Mas o clima de rivalidade não tem vez. Logo após a luta, os indígenas trocam abraços, sorriem e alguns até mesmo se presentearam com faixas utilizadas na cintura.   

Gabriella Braz/CB -
Gabriella Braz/CB -
Gabriella Braz/CB -
Gabriella Braz/CB -
Gabriella Braz/CB -

“É um momento único”, destaca a liderança Yawalapiti, que vê na Aldeia Multiétnica a oportunidade de reunir o que classifica como uma grande família espalhada por todo o país.

Na sexta-feira (19/7), os povos do Alto Xingu passam o papel de anfitriões para os Fulni-ô. No sábado, um show com a presença do artista Zeca Baleiro marca o final da 16ª edição, mas segue com o 24ª Encontro de Culturas Tradicionais da Chapada dos Veadeiros, na Vila de São Jorge. A Aldeia Multiétnica é organizada pela Casa de Cultura Cavaleiro de Jorge, em parceria com o Centro de Estudos Universais.

*Estagiário sob supervisão de Mariana Niederauer

Gabriella Braz/CB - XVI Aldeia Multiétnica - Casa do povo do Alto Xingu na Chapada

 

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