Obituário

Ao som de suas composições, Clodo Ferreira, músico e professor da UnB, é sepultado

O artista estava internado com câncer e morreu na manhã dessa terça-feira (16/7), no Hospital Brasília. Mais de 100 pessoas compareceram ao funeral, que ocorreu no Cemitério Campo da Esperança, na Asa Sul

Na manhã desta quarta-feira (17/7), familiares, amigos e ex-alunos despediram-se de Clodo Ferreira, Compositor, instrumentista, poeta e professor de Universidade de Brasília (UnB). Ele morreu na manhã dessa terça-feira (16/7), aos 72 anos, no Hospital de Brasília. Clodo estava internado para o tratamento de seis tipos de câncer.

A cerimônia, iniciada às 8h30, foi marcada por emoção, lágrimas e diálogos entre os presentes, que fizeram questão de relembrar e enaltecer a memória de Clodo. Mais de 300 pessoas compareceram ao funeral e participaram do cortejo até o sepultamento, que ocorreu às 11h.

Pedro Ferreira, 45 anos, o mais velho dos dois filhos de Clodo, disse ao Correio que, apesar da tristeza pela perda, a família se sente grata pelo privilégio de poder ter convivido e colecionado boas memórias, em vida, ao lado do professor e artista. “Tivemos a oportunidade de homenageá-lo em vida e nós vamos, sim, continuar homenageando ele. Eu sou músico, meu irmão (João Ferreira, 43) é músico e nós temos um orgulho danado da obra do nosso pai e, além de todo ensinamento que ele deixou com pai e  professor, nós vamos disseminar o que ele deixou de arte para valorizar e honrar a memória dele”, declarou.

Lembranças e memória

“Figura maravilhosa”, foi assim que o jornalista e publicitário Omar Abbud, 71 anos, descreveu o compositor e poeta. Amigos de longa data, se conheceram na faculdade e, mais tarde, trabalharam juntos. Orgulhoso, Omar contou que Clodo foi, também, professor de sua filha, na Faculdade de Comunicação da Universidade de Brasília (UnB). “O Clodo era uma pessoa extremamente cativante e um professor nato. Ele tinha uma mansidão, um jeito de falar com as pessoas, uma calma pra explicar as coisas. E há ainda, a admiração dele como artista, como compositor, do talento que ele foi, né? Ele é uma figura maravilhosa”, disse.

No momento do sepultamento, as composições de Clodo ecoaram por toda a extensão do Cemitério Campo da Esperança, na Asa Sul. Em meio às lágrimas e aos sorrisos, os familiares e amigos cantaram as composições renomadas do compositor.

A violinista amiga próxima Liliana Gayozo, 58, lembrou, emocionada, dos momentos que compartilhou com Clodo. “Ele lutou bastante, mas vai deixar em nossos corações a memória dessa pessoa linda que ele era.… apenas coisas boas”, finalizou

Trajetória

Clodo tocava contrabaixo e guitarra e era conhecido pelas parcerias com Fagner em canções como Ave Coração e Corda de Aço. Fagner também gravou Revelação, composta por Clodo e pelos irmãos, Clésio e Climério, com quem dividiu várias parcerias. Petrúcio Maia, com quem compôs Cebola cortada, e Rodger Rogério, com quem divide a criação de Ponta de lápis, eram outros parceiros constantes.

Nasceu em Teresina (PI), mas começou a vida musical em Brasília, para onde se mudou ainda garoto. Aos 15 anos, em 1965, entrou para a banda Os Geniais e, mais tarde, para Os quadradões, ambas conhecidas por animar os bailes de uma Brasília que acabava de nascer. Taguatinga era a base da turma de Clodo, um centro roqueiro que irradiava música e cultura para o DF.

Em parceria com os irmãos Climério e Clésio, Clodo gravou o primeiro disco em 1977. São Piauí teve produção do compositor cearense Ednardo e participação de nomes como Robertinho do Recife, Roberto Sion, Heraldo do Monte e Amelinha. O segundo disco, Chapada do Corisco, veio dois anos depois, em 1979. Em 1981, em mais uma parceria com os irmãos, Ferreira foi idealizado por Fagner e gravado no estúdio de Dominguinhos. Em 2002 veio o disco Gravura e depois Sinhô. O mais recente, Calendário, tem 14 faixas compostas para trio de sopros e gravadas pelo grupo Nós na Madeira. O disco foi lançado em março deste ano. Além disso, ele teve músicas interpretadas por artistas como Nara Leão, Milton Nascimento, MPB-4, Ângela Maria, Ney Matogrosso, Zizi Possi e Dominguinhos.

Na UnB, Clodo Ferreira dava aulas na Faculdade de Comunicação (FAC), na qual ministrou disciplinas como Comunicação e Música e Criatividade.

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