O Desfile Beleza Negra (DBN), referência na capital federal, chega a 19ª edição para homenagear a mulher negra caribenha. Com 43 modelos, o projeto visa reconhecer e celebrar a moda e a beleza negras. O evento será em 26 de julho, no espaço do Panteão da Pátria, e terá entrada gratuita. Entre as novidades deste ano, estão a participação de sete crianças, o lançamento da Revista DBN impressa e a Coleção Denim, de Orivan Baptista.
A inspiração para o tema veio da celebração em torno do Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha e do Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra. Tereza de Benguela foi líder do quilombo de Quariterê, localizado no Mato Grosso. Corajosa, ela construiu e comandou um movimento de resistência à escravidão por duas décadas, lutando pela liberdade do seu povo.
A escolha do Panteão da Pátria, como espaço para o desfile, é simbólica para Dai Schmidt, 38 anos, produtora de moda e idealizadora do DBN, por se tratar de um lugar "de poder", como ela mencionou. "Costumam associar o negro ao espaço de pobreza. Nós, por outro lado, queremos ocupar lugares estratégicos, como esse, para mostrar a força da nossa luta", explicou. A 18ª edição do evento ocorreu na Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF).
Visibilidade
Nas passarelas do DBN, o compromisso não se restringe a destacar corpos negros na indústria da moda. Busca-se redefinir os padrões sociais de beleza e comportamento, promovendo uma visão inclusiva e diversificada da estética. Além disso, outro objetivo é fomentar a economia criativa e estimular processos coletivos de experimentação, inovação e sustentabilidade, contribuindo para o desenvolvimento territorial integrado.
Segundo Dai, mais de 3 mil pessoas se inscreveram para o casting. "Tivemos inscritos de todo o país, devido à grande divulgação nas redes sociais. Isso prova que o projeto está se expandido e chegando a mais pessoas", comemorou. Os selecionados estão passando por oficinas de expressão corporal e ensaios, que também os têm treinado para o mercado de trabalho.
O DBN é realizado pelo Instituto OMNI e tem o apoio do Correio Braziliense e do Governo do Distrito Federal. Este ano, junto a Secretaria de Cultura, o projeto uni-se à campanha "NÃO É NÃO", que visa combater o assédio e promover um ambiente seguro e respeitoso para todos os participantes.
Moda e discurso
Jorge Guerreiro, 41, é ator e sócio da DBN. Responsável por pensar o lado artístico do projeto, ele não esconde a ansiedade para o dia do desfile. "Sempre fico pensando se vamos conseguir comunicar o que pretendemos, pois, além de ser uma arte, moda é discurso e posicionamento", avaliou. Ao Correio, o artista contou que, quando conheceu Dai, se identificou com o sentimento de que havia uma lacuna de pessoas negras em quaisquer eventos do ramo. "A iniciativa dela ganhou proporção e chegou ao Rio de Janeiro, onde, em meados de 2012, eu tentava modelar", recordou.
Segundo Guerreiro, o denim, tecido pensado para esta coleção, está intimamente ligado à história da comunidade negra, sendo usado como uma forma de expressão cultural e declaração de identidade. Devido à durabilidade e à praticidade, o jeans era muito usado por trabalhadores em áreas rurais e urbanas nos Estados Unidos, no século XIX, e em movimentos de resistência negra e de direitos civis. Mais tarde, a peça foi marca registrada de figuras proeminentes da comunidade, como Nina Simone, James Brown e Angela Davis.
"Hoje, o denim continua a ser uma parte essencial do guarda-roupa moderno, e sua conexão com a comunidade negra permanece forte. Marcas de moda dirigidas por pessoas negras, como Sean John, FUBU e Rocawear, ajudaram a popularizar o estilo denim único, inovador, que celebra e veste não só a estética, mas também a herança da cultura negra", resumiu o ator, em texto publicado no blog do DBN.
Carreira
A jovem Lara São José, 20, vai participar do desfile pela quarta vez neste ano. "Esse evento significa muito para mim, não só por conter apenas modelos negros de tons de pele e cabelos diferentes, mas por nos fazer sentir parte de algo que celebra nossos traços e nossa cultura", contou a modela e estudante de jornalismo.
"A primeira vez que vi uma foto minha na capa de um jornal foi graças ao Desfile Beleza Negra que, acredito, alavancou minha carreira e me deu visibilidade como mulher preta. Isso sempre foi o meu sonho", ressaltou.
Para ela, o DBN é a oportunidade que todo jovem preto, que deseja ser modelo, precisa. "Todas as vezes que desfilei, senti que poderia ser eu mesma e que não havia estigmas contra o meu cabelo, minha pele ou contra as meninas que se parecem comigo". O Desfile Beleza Negra é, para Lara, poder, empoderamento, grandiosidade e realização.
Desfile Beleza Negra
26 de julho
A partir das 17h
Panteão da Pátria, Esplanada dos Ministérios
Gratuito