Grazielly da Silva Barbosa, presa por aplicar preenchimento de glúteos com a substância chamada PMMA (polimetilmetacrilato) na influencer Aline Ferreira, 33 anos, teve a prisão preventiva decretada pela Justiça durante audiência de custódia promovida na tarde desta quinta-feira (4/7), em Goiânia. A mulher responde por exercício ilegal da profissão, execução de serviço de alta periculosidade e indução do consumidor ao erro.
A acusada é proprietária do centro de estética Ame-se, local onde a influencer foi submetida ao procedimento estético. Segundo as investigações, Grazielly se apresentava como biomédica, mas ela apenas frequentou três semestres de medicina no Paraguai, e divulgava inovações e métodos revolucionários estéticos. Nesta quinta, ela passou por audiência de custódia e teve a prisão mantida pela Justiça. Grazielly deve ser encaminhada à Casa de Prisão Provisória (CPP). A informação foi confirmada ao Correio por fontes policiais.
Inaugurada em novembro de 2023, a “clínica” funcionava de maneira irregular, sem alvará nem as licenças devidas. Também ficava em terreno afastado e numa área considerada pouco segura e confiável. O prédio, que é pouco mais do que uma pequena loja, fica ao lado de um terreno baldio. Agora está de portas fechadas e interditado por ausência de documentação e profissional com habilitação técnica.
Sem diploma
Aline saiu de Brasília com uma amiga para ir à Goiânia fazer o procedimento com Grazielly, na tarde de 23 de junho. Em depoimento prestado à polícia, a colega da modelo disse que, em momento algum, a dona do local mencionou sua formação ou detalhou eventuais riscos que a intervenção poderia acarretar. Muito pelo contrário, disse que era algo tranquilo, simples e que tinha feito em outras pacientes.
Sem saber que tratava-se da substância PMMA, Aline fechou um pacote de três sessões para a aplicação de 90ml do gel, no valor de R$ 3 mil — preço três vezes abaixo do cobrado pelo mercado. Na primeira aplicação, em 23 de junho, colocou 30ml.
Segundo os familiares de Aline, a influencer passou mal no mesmo dia do procedimento. Em Brasília, foi internada no Hospital Regional da Asa Norte (Hran), transferida a um hospital particular da Asa Sul e teve complicações após contrair uma infecção generalizada.
Após a morte da modelo, policiais civis da Decon e agentes da Vigilância Sanitária estiveram no centro estético para averiguar possíveis irregularidades e notaram um alto fluxo de pacientes. “Nossa intenção era ver as questões de legalidade do local, até porque não esperávamos encontrá-la lá, porque a família da vítima havia falado que a autuada teria diminuído o contato com os parentes e até desativado as redes sociais”, frisou a delegada-adjunta, Débora Mel.
Os investigadores descobriram que a clínica não tinha alvará de funcionamento e que Grazielly não era formada em nenhum curso superior na área da saúde. A falsa profissional foi questionada sobre a graduação em biomedicina. Segundo ela, fez cursos “livres”. No entanto, não apresentou diploma ou certificado dessas especializações.
Um novo inquérito será aberto para apurar o delito de lesão corporal seguida de morte. “Estamos aguardando o laudo necroscópico, que está sendo feito no IML de Brasília. O resultado preliminar dizia a causa da morte a esclarecer. Precisamos saber se há como comprovar o vínculo do procedimento e a morte”, explicou a delegada.
Ao longo dos dias, os policiais vão colher novos depoimentos e fazer novas diligências. Alguns celulares foram apreendidos, incluindo o de Grazielly. De acordo com a delegada, os aparelhos passarão por perícia e poderão revelar outras pessoas envolvidas. A polícia quer saber onde a falsa biomédica comprava as substâncias e se recebia a ajuda de alguém.
O Correio tentou contato com o advogado que representa Grazielly, mas não obteve retorno até o fechamento desta edição.
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