O sobrepeso ou a obesidade acometem de 60% da população do Distrito Federal. O dado foi analisado por Michele Borba, médica endocrinologista, no CB.Saúde — parceria entre o Correio e a TV Brasília. Às jornalistas Carmen Souza e Sibele Negromonte, a especialista destacou, nesta quinta-feira (4/7), que a redução de peso vai além da estética e da beleza, podendo reverter quadros pré-diabéticos e ajudar no controle da hipertensão.
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Qual a realidade do DF em relação à obesidade?
A obesidade vem crescendo ao longo dos anos. A pandemia da covid-19 teve um impacto grande. Hoje, nós temos na população do DF, quando somados sobrepeso e obesidade, 60% nesse quadro. A projeção do DF não será diferente do Brasil. Acreditamos que, para 2030, 50% da população do país vai se encaixar no quadro de sobrepeso e obesidade. Isso é um problema de saúde pública. Nossa população está ganhando peso e precisamos pensar em soluções proativas.
No Congresso Internacional sobre obesidade (ICO 2024) foi proposta outra forma de tratamento em relação à obesidade diferente do índice de massa corporal (IMC). Chamaram de obesidade controlada e reduzida. O que é isso e quais são as vantagens?
Ainda se usa o IMC, mas, por anos, buscou-se o IMC normal como meta de tratamento. Sabemos que, muitas vezes, não é possível. Então, considerou-se uma classificação de meta de tratamento como obesidade em relação ao peso máximo da sua vida. Uma redução de 5% significa obesidade reduzida e uma redução de 10% é uma obesidade controlada, isso não significa que a pessoa não precise perder mais peso. A justificativa é que se eu perco 5% do meu peso máximo, consigo, em alguns casos, reverter um quadro de pré-diabetes. Com 10% de redução de peso, consigo, em alguns casos, reverter um acúmulo acentuado de gordura no fígado, e tenho melhora na hipertensão. O congresso teve um grande foco em falar sobre consequências da obesidade, tratá-la como doença no foco da saúde e não no da beleza.
O Ozempic que, muitas vezes, é usado de forma indiscriminada, foi utilizado inicialmente para tratar diabetes e, posteriormente, para obesidade. Ele funciona?
A resposta é sim, porque ele tem um mecanismo que abrange várias características da doença. Tem como usá-lo de forma segura, mas com orientação do profissional de saúde para que você entenda o remédio e saiba usá-lo corretamente.
Uma das dificuldades é o preço. E o DF é pioneiro em oferecer alguns medicamentos para tratar a obesidade de forma gratuita.
Sim, o DF é pioneiro nisso e está oferecendo a medicação injetável para os pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS). Com alguns critérios, os pacientes podem conseguir acesso à liraglutida — usada para tratar diabetes, e que tem auxilio no tratamento da obesidade. Estamos avançando com tecnologias para o tratamento da obesidade, mas isso ainda não é acessível a todos.
É claro que todas ajudam, mas o que mais conta no processo de emagrecimento? As atividades físicas, alimentação ou cuidado com sono?
O processo de emagrecimento é em 80% alimentação. Então, qual padrão alimentar devo seguir? Não existe a dieta perfeita e prefiro nem falar de dieta, gosto de falar de alimentação. Por anos, fizemos uma espécie de campeonato de dietas, e a mediterrânea — prioriza grãos integrais, frutas, vegetais, legumes, nozes, ervas, entre outros — é a campeã. Se olharmos para uma dieta mais restritiva com zero carboidratos, ela pode resultar em perda rápida de peso nos primeiros meses. No entanto, ao longo de seis meses, todos os padrões alimentares decididos acabam resultando na mesma perda de peso. Portanto, prefiro que o paciente opte por algo que não gere ansiedade e não promova gatilhos para uma alimentação mais compulsiva.
Em relação à obesidade na infância, o que podemos fazer para combatê-la?
A genética na obesidade é importante, então, antes mesmo do nascimento, a forma como os pais vivem e o que fazem influenciam no desenvolvimento genético. Na infância, acredito que é crucial educar essas crianças, pois a prevenção é mais eficaz do que remediar casos graves de obesidade. Quem perde mais peso? Quem passa pela cirurgia bariátrica — um procedimento indicado para casos graves de obesidade. No entanto, existem outras opções antes de chegar a esse ponto, como não permitir que a criança entre em sobrepeso. As escolas precisam ter um papel ativo nesse sentido.
Veja a entrevista completa:
*Estagiário sob a supervisão de Malcia Afonso
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