Em entrevista ao CB.Poder — parceria entre o Correio e a TV Brasília — de ontem, a secretária de Saúde do Distrito Federal, Lucilene Florêncio, falou da estratégia da pasta para acelerar a fila de espera de pacientes aguardando cirurgias eletivas. A contratação, via pessoa jurídica, para o provimento de anestesiologistas, especialidade em falta na rede pública de saúde, tem sido o método escolhido pela secretaria, pois há baixa adesão nos concursos públicos para a especialidade.
"Temos três empresas no DF trazendo anestesiologistas. Temos, efetivamente, nos hospitais, 42 médicos, e, em cinco dias, fizemos 190 cirurgias. Hoje, nós temos oito hospitais fazendo as cirurgias eletivas", detalha a secretária. Segundo ela, a previsão é que sejam feitas 120 cirurgias diariamente. A demanda reprimida pela pandemia da covid-19 seria uma das principais causas para a fila de 32,5 mil pacientes aguardando cirurgia.
Aos jornalistas Sibele Negromonte e Roberto Fonseca, Lucilene também falou da dificuldade de contratar pediatras para a rede pública. O deficit é de 170 médicos da especialidade. "Da mesma forma que seguimos as etapas da anestesiologia, temos um concurso vigente e chamamos todos os pediatras. Na última chamada, há cerca de 20 dias, o governador nomeou 20 pediatras, dos quais apenas dois tomaram posse. Temos uma baixa adesão", diz Lucilene, admitindo que a situação ainda não é satisfatória.
Sobre a dengue, ela destaca que diferentes secretarias do Governo do DF (GDF) se preparam para os primeiros casos, em outubro deste ano, e para o pico do ano que vem. A vacinação continua para crianças e adolescentes de 10 a 14 anos.
Vocês estão começando a resolver esse imbróglio da falta de anestesistas e a fila para cirurgias está começando a andar. O que está acontecendo agora?
O DF tem, hoje, uma fila de cirurgias eletivas e essa demanda reprimida foi se acumulando, primeiramente pela covid, e também pela anestesiologia ser uma especialidade de difícil provimento. Fizemos o concurso, chamamos todos os anestesiologistas, ampliamos a carga horária dos que desejavam passar de 20 horas para 40 horas semanais, mas, mesmo assim, não foi suficiente. Caminhamos para uma modalidade de contratação por meio de pessoa jurídica. Temos três empresas no DF trazendo anestesiologistas. Temos, efetivamente, nos hospitais, 42, e, em cinco dias, fizemos 190 cirurgias. Hoje, nós temos oito hospitais fazendo as cirurgias eletivas. Carecíamos desses profissionais e hoje podemos celebrar esse movimento de enfrentamento da fila de cirurgias, que não se resume à contratação de anestesiologista. Tivemos toda uma preparação: a revitalização dos hospitais, dos centros cirúrgicos e das enfermarias. Cuidamos das cozinhas e dos refeitórios para bem cuidar, tanto dos pacientes quanto dos servidores. Também passamos pela aquisição de equipamentos, como de carrinhos de anestesia. Hoje, nós temos o que há de melhor no mercado em termos de aparelho de anestesia. Então, foi um conjunto de ações.
Há previsões de avançar para novos hospitais? Se sim, qual a capacidade de cirurgias diárias na rede pública?
O primeiro ponto é que são 10 hospitais com centro cirúrgico. O segundo ponto é que dessas três empresas que trazem esses anestesiologistas, a contratação é por 12 meses, com previsão de realização de 26 mil cirurgias. Nós temos 78 salas cirúrgicas na nossa rede. A previsão é que estejamos realizando, diariamente, em torno de 120 cirurgias. A fila é dinâmica e estamos sempre construindo avanços para que o nosso usuário espere o menor tempo possível por uma cirurgia eletiva.
Quantas pessoas estão na fila esperando? E quais são os principais tipos de cirurgias contemplados?
Nós temos uma fila de aproximadamente 32,5 mil pacientes aguardando cirurgia. As com maiores demandas são as colecistectomias (remoção de vesícula biliar); as ginecológicas, que são as histerectomias (remoção do útero); as ortopédicas, que tem uma demanda muito grande e estávamos fazendo as urgências e emergências e as eletivas estavam bastante dificultadas; oftalmologia, otorrino; cabeça e pescoço; e vascular. Esses pacientes estão no complexo regulador, são encaminhados conforme o fluxo para os hospitais regionais, que fazem a checagem de pré-operatório. A partir do que está pronto, eles começam a compor o mapa cirúrgico. Nós temos conversado com todos os gestores para que priorizem os ambulatórios para a atualização dos exames dos pacientes. É uma força conjunta, todos estão absolutamente focados nesse tema para que a gente vença essa demanda.
Essa demanda de 32,5 mil pacientes aguardando cirurgia ainda é reflexo da pandemia?
Sem dúvida, ela é reflexo da covid, em especial, e também do aumento de atendimento na rede. A partir do momento que ampliamos a atenção primária, com 633 equipes de estratégia, nós temos um maior acesso, que permite o atendimento, o diagnóstico e uma demanda para a fila. Isso tudo é dinâmico. Nós estamos em um processo de crescimento na atenção primária, na atenção especializada, que é onde ficam os nossos especialistas e tem o ambulatório. A atenção primária encaminha, indica a cirurgia e esses pacientes automaticamente entram no complexo. Não é nada solto, é tudo uma engrenagem. Estamos trabalhando com todos os pontos em conjunto: equipamento, sala cirúrgica e atenção primária.
O paciente aguarda o contato ou ele precisa procurar a Secretaria de Saúde?
Estamos construindo canais. O complexo regulador está qualificando a fila. Ele entra em contato com o paciente, vê se os exames estão prontos. Se o exame não estiver pronto ou estiver vencido, ele orienta que o paciente procure sua unidade básica de saúde (UBS) mais próxima. Na UBS a equipe está ciente da prioridade e solicita os exames. No hospital, as partes de imagem e de laboratório estão focados nesse sentido para que a gente ande com as filas.
Recentemente, tivemos uma crise na saúde causada pela morte de quatro crianças, no intervalo de um mês. Houve, inclusive, a ameaça de uma CPI para investigar a situação. Como está a situação em relação aos pediatras? Há perspectiva de solução?
A pediatria, assim como a anestesiologia, é uma especialidade de difícil provimento, não só no DF, mas no Brasil. Da mesma forma que seguimos as etapas da anestesiologia, temos um concurso vigente e chamamos todos os pediatras (aprovados). Na última chamada, há cerca de 20 dias, o governador nomeou 20 pediatras, dos quais apenas dois tomaram posse. Temos uma baixa adesão. Estamos buscando a ampliação da carga horária e fazendo toda a gestão para que a gente faça essa recomposição. Nós temos que verificar a possibilidade de uma contratação para que a gente faça essa reposição.
Qual é o deficit de pediatras na rede do Distrito Federal?
O deficit, na rede, é de 170 pediatras, quantidade para que estivéssemos compondo todas as portas de emergência com três pediatras. Temos chamado no concurso e, de seis meses para cá, foram 158 nomeações. Apenas 31 tomaram posse, o que dá uma margem de 25% de adesão. Nós temos, a todo momento, aposentadorias, retratações e várias perdas de horas, e essa recomposição não está na velocidade que é necessária. Precisamos encontrar modalidades de formas de recompor (o quadro de pessoal). Todas as etapas nós seguimos permanentemente: concurso, ampliação de carga horária, mudança de especialidade e abertura das UPAs com pediatria. Mas, não tem sido satisfatório, então nós precisamos olhar para esse tema e encontrar uma solução, como encontramos para a anestesiologia.
O que está sendo feito para que não se repita, em 2025, o que ocorreu este ano em relação à dengue?
Temos o plano para a possibilidade dos primeiros casos em outubro e para 2025. Ontem e hoje (anteontem e ontem), estamos na Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) com a oficina com todos os parceiros que estiveram conosco no enfrentamento da epidemia. Nós estamos fazendo uma avaliação de tudo que foi entregue, adequando a essa próxima demanda de casos, que nós não queremos que seja epidemia. Precisamos avançar nas questões tecnológicas. Primeiramente, a utilização de drones, que tem um processo que estamos seguindo, que é para mapear os focos do mosquito. A esterilização do mosquito é uma modalidade que vem com o Ministério da Saúde, a wolbachia, que é uma forma do mosquito não procriar. Tem outra modalidade de aplicativo que nós estamos fazendo uma transferência de tecnologia do Mato Grosso do Sul para cá, que é o e-Visitas, que faz a monitoração das visitas aos domicílios com os agentes de vigilância ambiental. Hoje, o DF tem em torno de 1,5 milhão de residências.
Este ano tivemos uma novidade: a vacinação contra a dengue, que teve um público alvo pequeno e baixa adesão. Como está a questão em relação às vacinas?
Ainda temos uma quantidade de vacina que ainda não comporta toda a demanda da população. Tanto o Instituto Butantan quanto a Fiocruz estão trabalhando para aumentar essa produção. No momento, a faixa etária é de 10 a 14 anos. Nós precisamos que, nessa faixa etária, os pais estejam levando os seus filhos, autorizando que seja feita a vacinação. Mas, para que nós tenhamos proteção do ponto de vista imunológico, precisamos que haja uma maior produção. Estima-se, para 2025, a produção de 3 milhões a 4 milhões de doses, no Brasil. Precisamos que os pais procurem uma UBS, e estamos também em supermercados, feiras, shoppings e escolas. São duas doses mas o MS busca que esse próximo lote seja de dose única.