ECONOMIA

Setor de serviços mantém oferta de empregos em alta no Distrito Federal

A taxa de desemprego, em queda na região, teve influência da área, que ajudou a puxar o índice para baixo

Bárbara (esq) ficou desempregada dez meses. Agora, contratada, pretende se aprimorar.
Bárbara (esq) ficou desempregada dez meses. Agora, contratada, pretende se aprimorar."Mudou muita coisa na minha vida. É gratificante ser buscada por clientes", diz - (crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)

O setor de serviços continua contribuindo tanto para a redução do desemprego quanto ao fortalecimento da economia no Distrito Federal. As constatações da Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED) de maio, divulgada pelo Instituto de Pesquisa do DF (IPEDF). O levantamento destacou que esse segmento também é um dos que teve significativa elevação na contratação de pessoas com carteira assinada.

Segundo o estudo focado na capital federal, a área registrou aumento de 3,2% no número de ocupados na comparação de maio de 2023 com o mesmo mês deste ano. As vagas na administração pública também tiveram crescimento nesses prazos analisados: 11,6%. Comércio e reparação, indústria da transformação e empresas de construção completam a lista, com 2,2%, 2% e 1,4% de elevação, respectivamente.

O coordenador de Estudos e Avaliação de Políticas Socioeconômicas do IPEDF, João Pedro Dias destaca que o resultado positivo não se deve à informalidade, que abrange aqueles trabalhadores que não possuem carteira de trabalho assinada e os autônomos.

"Observa-se, no período dos últimos 12 meses, uma tendência de crescimento dos trabalhadores com carteira assinada, combinado com redução dos indivíduos sem o documento registrado e dos autônomos", aponta.

Pela pesquisa, comparando maio de 2024 com o mesmo mês do ano anterior, houve elevações nos percentuais de indivíduos ocupados no setor privado com carteira de trabalho assinada (7,8%), no setor público (7,1%) e no grupo de assalariados (5,1%). Em contrapartida, houve reduções em atividades da iniciativa privada sem carteira de trabalho assinada (12,8%), empregados domésticos (5,6%) e autônomos (0,4%), conforme o informado por João Pedro, responsável pela pesquisa.

Causas

O professor de economia da Universidade de Brasília (UnB), César Bergo, observa que o DF está acompanhando a queda do desemprego na economia brasileira. Entre os aspectos que ele destaca está o bom desempenho do setor de serviços, que é o mais forte da economia local. A administração pública também é destaque, estimulado pelas nomeações de servidores pelo Governo do DF (GDF). Obras de infraestrutura urbana, igualmente, estimularam a contratação de mão de obra.

"Desde o início do ano, o desemprego vem caindo, de modo geral. Essa diminuição acompanha a média nacional", aponta o economista. Segundo ele, o segmento de serviços deve acompanhar o crescimento da economia no segundo semestre de 2024. "A Black Friday e o Natal devem impulsionar o setor de serviços no período, e as obras de infraestrutura também vão continuar contribuindo para a criação de empregos", prevê. Já a indústria deve ficar abaixo do crescimento do PIB, segundo o especialista, que sublinha a relação entre o crescimento econômico e a criação de postos de trabalho.

Bergo acrescenta que a taxa de desemprego deve, no mínimo, se estabilizar nos próximos meses. Mas ele acredita que o índice poderá diminuir ainda mais, a depender da postura orçamentária do governo, com capacidade para fazer mais investimentos. Ele salienta que as contratações da administração pública afetam, diretamente, o mercado de trabalho da capital.

Por outro lado, a taxa de desemprego do DF continua muito acentuada. "Historicamente, o DF tem uma taxa de desemprego maior do que a média nacional por ser um lugar que atrai muitos migrantes, e o mercado de trabalho acaba não absorvendo toda essa mão de obra ociosa", analisa o especialista. Além disso, ele aponta a presença dos trabalhadores informais na economia da capital: "Quando falamos de trabalho informal, o fato de o DF ter uma alta renda per capita também pode atrair muita gente para cá".

Tendências

O presidente do Sistema Fecomércio-DF, José Aparecido Freire, aponta o aumento da massa salarial, a redução da taxa de juros e a melhoria do acesso ao crédito como fatores importantes para os resultados positivos no setor de serviços. "O resultado é a continuidade da expansão do setor, identificada no primeiro trimestre do ano, quando acumulou crescimento anualizado de 5,2%. E apresenta, no mês de maio, crescimento anualizado de 4,2%", relembra.

Freire ainda avalia que todos os indicadores e pesquisas apontam para uma melhora futura no cenário econômico. "As recomposições salariais do setor público local e nacional continuarão impulsionando a economia distrital, bem como a confiança do empresariado, que já apresenta sinais de melhora", observa.

O presidente da Fecomércio-DF também comenta sobre o resultado negativo do setor de comércio e reparação, que sofreu uma perda de 5 mil empregos em abril. Ele afirma que o semento ainda passa pelo processo de readequação da mão de obra contratada no final do ano passado, o que se dá de forma mais lenta, embora crescente. "Vale destacar que o setor de comércio apresenta crescimento anualizado, até março, de 0,7%. (Além disso,) até abril, 1,2%, e, até maio, 1,9%", assinala.

Entre abril e maio, o setor de serviços adicionou mil trabalhadores, a construção civil empregou mais 2 mil pessoas e a indústria e transformação contratou 3 mil novos trabalhadores, de acordo com dados da entidade.

Oportunidades

Bárbara Vasconcelos, 24 anos, estava procurando trabalho há cerca de 10 meses, quando conseguiu o emprego de auxiliar de cabeleireira em um salão do Brasília Shopping, em dezembro do ano passado. Ela, que tem experiência na área, diz estar contente, pretende crescer na profissão e se tornar cabeleireira plena.

"Está sendo muito bom. Mudou muita coisa na minha vida. É gratificante ser buscada por clientes e vê-las saírem felizes e satisfeitas com o trabalho", afirma a auxiliar de cabeleireira.

Gabrielle Dantas, 36 anos, assumiu um novo emprego em uma empresa de turismo, em abril deste ano, na função de analista de customer experience, atuando no atendimento aos clientes. Ela é formada em administração e tem pós-graduação em engenharia de software, formação que considera fundamental para o seu atual posicionamento no mercado.

Atualmente, ela ganha um salário mais alto e trabalha em casa (home office). "Essa oportunidade significa conexões. Agora, eu posso ver a minha filha crescer, ficar perto da minha família e não preciso pegar engarrafamento", comemora a moradora de Sobradinho.

Stefany Mendes Caixeta, 23 anos, ficou desempregada por cinco meses. Ela conseguiu, no início deste mês, se recolocar como analista de gente e gestão de uma companhia de manipulação de medicamentos. Psicóloga de formação, diz sobre a atividade que desempenhará: "É uma oportunidade para ampliar meus conhecimentos e poder me qualificar. É uma experiência que me empodera muito enquanto profissional", acrescenta.

Como profissional de recursos humanos, diz haver encontrado dificuldade em encontrar trabalhadores qualificados para o setor de serviços. "A busca por profissionais multifacetados e multitarefas tem aumentado muito. A falta de profissionais qualificados é uma grande dor dos recursos humanos, além de engajá-los e retê-los nas empresas", analisa.

Apesar de ter tido o menor aumento percentual de ocupados em relação aos demais setores entre os meses de maio de 2023 e 2024, a construção civil foi o segundo que mais adicionou trabalhadores na sua cadeia produtiva em relação ao mês anterior. O vice-presidente da indústria imobiliária no Sindicato da Indústria da Construção Civil do Distrito Federal (Sinduscon-DF), João Carlos de Siqueira Lopes, aponta a queda dos juros como fator importante para geração de empregos na construção civil. A retomada do mercado de baixa renda e as obras de infraestrutura também são considerados por ele como motivos para o bom resultado no setor.

"Com isso, existe uma demanda de mão de obra que está acima da disponibilidade, e boa parte das obras está sempre com menos trabalhadores do que precisaria. Inclusive, algumas obras estão redefinindo e aumentando o prazo delas em função da falta de mão de obra", relata.

João Carlos conta que as empresas vêm investindo na qualificação de trabalhadores da construção civil, o que faz com que o volume de contratação siga alto. "Para os trabalhadores que gostam da construção e enxergam como um bom setor para trabalhar e se desenvolver, estamos num bom momento, pois as contratações devem seguir. Cada vez mais, o setor demanda mais qualificação e, com isso, melhores salários".

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postado em 31/07/2024 06:00
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