Quase dois meses após o apartamento onde morava Zely Curvo, 94 anos, pegar fogo, a Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) concluiu, nesta sexta-feira (26/7), que o incêndio foi criminoso e teve como foco a maca em que a idosa, morta por causa das chamas, passava o tempo inteiro deitada. Lauro Estevão Vaz, filho de Zely, foi indiciado por feminicídio triplamente qualificado.
De acordo com a PCDF, foram descartadas hipóteses elétricas, não foram localizados equipamentos eletrônicos que pudessem agir como fontes de ignição nos focos do incêndio. Também foi deixada de lado a possibilidade de que a própria idosa tenha causado o início das chamas, pois Zely não se movimentava.
A Polícia Civil informou que o ex-médico Lauro Estevão Vaz, filho da idosa, foi indiciado por feminicídio triplamente qualificado — motivo torpe, uso de fogo, e por recurso que impossibilitou a defesa da vítima — e fraude processual. A PCDF também destacou que ele está preso temporariamente e foi apresentado o pedido para conversão em preventiva.
Abandono
Durante as investigações, testemunhas relataram que o ex-médico deixava, constantemente, a idosa sozinha, durante longos períodos de tempo, e não arcava com os custos de uma cuidadora — Zely era acamada, incapaz de se movimentar, desde que sofreu um AVC.
Testemunhas também afirmaram à polícia que Lauro Estevão, responsável por gerir os recursos financeiros da mãe (R$ 12 mil), gastava os valores com suas próprias despesas pessoais. A reportagem, a defesa de Lauro Estevão Vaz informou que não vai se manifestar neste momento.
Fraude
Em junho, o Correio obteve acesso com exclusividade à decisão judicial que culminou na prisão de Lauro. O documento, assinado pelo desembargador Mário-Zam Belmiro, revela os motivos da detenção e confirmam que o ex-médico saiu do imóvel da mãe cinco minutos antes do incêndio.
Ele chegou a ser autuado pela Polícia Civil por fraude processual, depois de burlar a perícia e entrar no apartamento sem a autorização. A Justiça considerou que o suspeito estaria atrapalhando a colheita de provas e, possivelmente, “ocultando elementos necessários ao deslinde da apuração, retornando ao apartamento mesmo durante o período em que isolado o local pela perícia criminal”.
O caso
O incêndio no apartamento ocorreu em 31 de maio. A idosa, identificada como Zely Curvo, 94 anos, estava sozinha no momento que o fogo atingiu a casa, segundo as investigações. Ela morava no apartamento do filho, um médico de 63 anos.
Em 2023, o homem foi preso também por abandono de incapaz. Na ocasião, Zely estava internada no Hospital Militar da Área de Brasília. No entanto, mesmo depois de ter condições de alta, o filho não providenciou a retirada da genitora do local e Zely acabou apresentando quadro infeccioso devido ao prolongamento desnecessário da idosa no hospital, à época com 93 anos. O médico foi preso em 17 de maio daquele ano e solto em audiência de custódia no dia seguinte.
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