O Desfile Beleza Negra (DBN) surgiu como uma forma de protesto contra a falta de representatividade negra nos circuitos de moda de Brasília. Era 2012, quando a proposta foi idealizada pela produtora de moda Dai Schmidt. Quase dez anos depois do primeiro evento, com a manifestação reformulada em desfile, a ideia inicial avançou.
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Foi quando o ator, modelo e empresário Jorge Guerreiro esteve na capital federal para gravar cenas da segunda parte da antologia Justiça — disponível no Globoplay —, em abril de 2023, que encontrou a hoje sócia Dai Schmidt, que apresentou a ele o projeto Desfile Beleza Negra. Jorge se encantou pela proposta, ajudou na divulgação e, a convite da nova amiga, tornou-se diretor da empreitada, que tem como parceiro o Correio Braziliense.
"Chegou um momento em que cansei de todo o desfile ser pautado no combate ao racismo", contou Dai em entrevista ao Podcast do Correio. "Percebi que o projeto estava crescendo quando o Jorge Guerreiro entrou (como sócio-diretor)", completou.
Jorge ouviu falar sobre o projeto na TV. "Eu me assustei e tive um gatilho quando a Dai me convidou, porque percebi que essa história tem tudo a ver comigo. Quando eu vim para Brasília e, eventualmente, encontrei aminha história ligada aqui, de alguma forma, foi quase um chamado", recordou.
Na conversa com os jornalistas Camilla Germano e Naum Giló, a dupla falou sobre o evento, que tem o apoio do Governo do Distrito Federal (GDF) e da Secretaria de Cultura do DF, chega nesta sexta-feira (25/7) à 19ª edição, no Panteão dos Herois da Pátria. Este ano, o projeto se une à campanha "Não é Não", que visa combater o assédio.
Como foi criado o Desfile Beleza Negra (DBN) em Brasília?
Dai: O Desfile Beleza Negra (DBN) surgiu em 2012 como um contraponto ao Capital Fashion Week. Ele começou no formato de um protesto e, nesse primeiro dia, a repercussão foi muito grande. Até mesmo o Plenário da Câmara Legislativa começou a discutir sobre porque não havia pessoas negras nos eventos de moda em Brasília. Partindo disso, estudando mais sobre o que é racismo, eu consegui apoio da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial — que existia na época do governo Dilma — e recebi o incentivo para continuar fazendo esses protestos. Eles acabaram sendo formatados para um desfile, que sempre levantava a pauta das questões raciais. A partir daí, o projeto foi crescendo e evoluindo, mas chegou um momento em que cansei de todo o desfile ser pautado no combate ao racismo. Nós precisamos ocupar espaços sim, mas também podemos falar sobre moda, fazer parcerias com grandes marcas. Percebi que o projeto estava crescendo quando o Jorge Guerreiro entrou (como sócio-diretor). Ele me incentivou a sair desse segmento de levantar só a bandeira do combate ao racismo. A partir dessa edição, já será diferente.
Esse lugar de ficar na defensiva cansou você?
Dai: Eu já estava em uma situação complicada. Chamava várias empresas para participar, explicava a importância do projeto, e muitos achavam que aquilo era "mimimi". Sentia muita dificuldade de arrecadar recursos. Quando conseguia, eram só verbas governamentais, ou de editais, nos quais o financiamento é muito pequeno. Sofri na pele para realizar o projeto, ficava muito restrito. Quando queriam que nós realizássemos o evento, queriam que levássemos o projeto para as periferias, sendo que temos que tirar a nossa imagem desse lugar, porque as pessoas sempre querem associar pessoas negras à pobreza, achando que nós, negros, não podemos estar inseridos em outros lugares de poder.
Qual é a importância de realizar o desfile no Panteão da Pátria?
Jorge: Tem selo ali que não é só do poder, mas um selo santificado. Sempre queremos gerar um burburinho quando colocamos corpos pretos em lugares de poder assim, como foi no ano passado (quando o desfile ocorreu na Câmara Legislativa do Distrito Federal). No Panteão, além de ser um lugar de sacralização do poder, tem o efeito da terra vermelha de Brasília, da qual, particularmente, sou fã. Por 26 de julho ser dia de Nanã, que é uma orixá feminina — uma mãe que conversa com a vida, a partir da terra e da água —, todo esse arquetípico gerou a ideia de querermos estar nesse lugar. Esse foi um dos grandes motivos, a nossa grande referência.
Como você se inseriu no DBN?
Jorge: Em 2012, ouvi sobre esse projeto na TV. Eu me assustei e tive um gatilho quando a Dai me convidou, porque percebi que essa história tem tudo a ver comigo. Quando eu vim para Brasília e, eventualmente, encontrei a minha história ligada aqui, de alguma forma, foi quase um chamado.
Dai: E ainda bem que ele apareceu, porque eu estava querendo mesmo desistir, estava me sentindo muito cansada.
Jorge: E nós demos essa repaginada (no DBN), vieram outros projetos, a revista, as oficinas para teatro também. Temos um projeto chamado Casa DBN, que é de formação, no qual queremos trazer informação sobre design de moda dentro de teatro. Temos, também, um projeto próprio de podcast. São algumas ideias que queremos fomentar, a priori, para as pessoas de Brasília.
Vocês podem dar algum "spoiler" do desfile?
Jorge: Teremos três coleções. Uma das marcas é de Brasília, a Plim Plim, que é de vestuário infantil. Essa será uma das novidades, trazer crianças para o desfile. A outra é a Tesoura de Ouro.
Dai: Essas duas marcas trazem uma coleção moderna, com pegada conceitual.
Jorge: Só um detalhe do porquê é interessante essas duas marcas entrarem. Essa é a primeira vez que elas patrocinam um desfile desse tipo, e é bacana tê-las próximas, para construir esse imaginário. Além disso, quisemos conhecer a indústria capixaba de jeans e entramos em contato com a Vicunha. A partir da Vicunha, conhecemos o designer Orivan Baptista, que está vindo com uma marca chamada Hoff, em que traz o denim enquanto força.
Serviço
Desfile Beleza Negra
Quando: hoje.
Horário: 17h.
Atenção: o público deve ser pontual, pois, após o início, a entrada não será permitida. Sujeito à lotação.
Assista ao Podcast do Correio:
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Serviço
Desfile Beleza Negra
Quando: hoje.
Horário: 17h.
Atenção: o público deve ser pontual, pois, após o início, a entrada não será permitida.
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