Por Luiza Marinho*
Fernanda Cavalcante*
O Cerrado, um dos biomas mais antigos do planeta, cobre cerca de 25% do território brasileiro, segundo o Centro Nacional de Avaliação da Biodiversidade e de Pesquisa e Conservação do Cerrado (CBC). A grande savana tropical é conhecida por sua incrível biodiversidade, abrigando inúmeras espécies de plantas e animais. As flores, em particular, são um dos maiores tesouros desse ecossistema, desempenhando papéis vitais para o equilíbrio ambiental e também para a economia. Contudo, a expansão das cidades e do agronegócio de forma desordenada coloca em risco a flora e a fauna do bioma.
- Cultivo de flores do Cerrado em laboratório une conservação e paisagismo
- O Cerrado segue sob risco pelo avanço do desmatamento e do mau uso do solo
- Desmatamento avança no Cerrado e preocupa
O Cerrado abriga mais de 14.000 espécies de plantas, sendo que 5.500 delas endêmicas, ou seja, não ocorrem em nenhum outro lugar do mundo, formando a base de redes ecológicas complexas. "Essas plantas sustentam polinizadores como abelhas e pássaros, essenciais para a reprodução das plantas e a produção de frutos e sementes", explica a professora do departamento de botânica da Universidade de Brasília (UnB), Caroline Andrino.
A especialista aponta que as flores do Cerrado são um testemunho da resiliência e riqueza do bioma. "Elas sofrem com a expansão da agricultura, da pecuária e da urbanização que levam à destruição e à fragmentação de habitats. As mudanças climáticas atualmente em curso também representam uma ameaça crescente, alterando o regime hídrico e a temperatura, o que pode afetar a distribuição e sobrevivência das plantas, que são essenciais para a preservação da biodiversidade e dos serviços ecológicos que o Cerrado proporciona", complementa.
Beleza e renda
No quesito beleza, a professora destaca as caliandras, pertencentes à família das Leguminosas, a Velloziaceae, que são plantas robustas que se despontam na paisagem com suas flores vistosas. "Essas e outras desempenham papéis cruciais na manutenção das funções ecossistêmicas e possuem grande importância cultural e econômica para as comunidades locais", diz.
Espécies emblemáticas como a Coracoralina chiquitensis, o famoso chuveirinho do Cerrado, conhecido pela beleza singular e flores esféricas, é um símbolo da flora do bioma. Outra espécie icônica é a Syngonanthus nitens, conhecida como capim dourado, muito valorizado tanto por sua aparência quanto pelo uso artesanal de suas hastes na confecção de peças decorativas, acessórios de uso pessoal, em buquês e decoração.
A marca brasiliense Capim Estrela se especializou na confecção artesanal de joias, grinaldas e objetos decorativos utilizando como matéria-prima o chuveirinho e a caliandra. O processo de criação parte dos desenhos de Ana Raquel Branquart, 32, engenheira florestal e criadora do negócio.
Segundo a empreendedora, os brincos compostos pela espécie sempre-vivas são dos mais procurados, e a confecção deles é delicada. Uma equipe é responsável por separar as flores e, minuciosamente, encaixá-las dentro do pequeno recipiente de vidro. A preservação fica por conta da prensagem e resina. A caliandra também é bastante aplicada. "Nosso critério de escolha vai pelo tamanho, as peças são bem pequenininhas, então as flores também têm que ser. Eu penso principalmente se ela vai caber na peça, a beleza e a cor também são levadas em consideração", explica.
Conscientização
No livro Aves, cores, e flores do Cerrado o autor e ambientalista Nicolas Behr transmite informações sobre o Cerrado para o público infantojuvenil de forma criativa. Para despertar o interesse pela leitura, o escritor combina os textos com as pinturas de sua mãe Therese von Behr. "Meu objetivo é divulgar essa negligência ambiental. Só se protege aquilo que se conhece", declara.
Nascido em Cuiabá, Mato Grosso, em 1958, Nicolas está em Brasília desde 1974. O Cerrado faz parte de quem ele é. "A minha relação com este bioma vem desde criança, me criei numa fazenda e eu costumava andar pelos rios e andar pelos campos. Quer dizer, eu tive uma infância bem rural, uma relação que vem desde a infância e permanece para sempre até eu ser enterrado aqui", completa.
Atualmente, existem várias iniciativas em andamento com o objetivo de conscientizar a sociedade acerca da preservação do Cerrado e suas flores. A UnB possui o Herbário UB, que é o mais importante do mundo em termos de plantas do Cerrado. Ele desempenha um papel crucial fornecendo dados essenciais sobre a flora do Cerrado, contribuindo para a pesquisa científica e a formulação de estratégias de conservação.
"Temos a maior coleção de plantas do Cerrado do mundo e estamos entre os maiores herbários do país. Essa catalogação de plantas é muito importante para a gente conhecer nossa flora e para pesquisas em diversas áreas, como taxonomia, ecologia, genética, evoluçâo", enumera Caroline.
Flores famosas
Caliandra
A Caliandra é originária do Cerrado e cresce em arbustos lenhosos de até 4 metros. Suas flores aparecem na primavera e no verão e suas folhas são perenes. Devido à delicadeza, ocorre um processo natural de fechamento das folhas durante a noite.
Ipês Amarelos
Queridinhos de Brasília, os Ipês podem chegar de 6 até 14 metros de altura e suas folhas são pilosas nas duas faces. O tronco meio ”torto” pode chegar a até 50m de diâmetro. Uma verdadeira obra da natureza
Chuveirinho
Usada em decorações e artesanatos, a pequena graciosa é inconfundível, ainda mais quando lançam suas hastes e flores brancas em meio a campos do Cerrado, elas florescem normalmente de março a julho.
Algodão do Cerrado
Nativa do Cerrado, ela também pode ser utilizada como ornamental e possui propriedade medicinal.
*Estagiárias sob a supervisão de Márcia Machado
Saiba Mais
Flores famosas da flora cerratense
Caliandra
A Caliandra é originária do Cerrado e cresce em arbustos lenhosos de até 4 metros. Suas flores aparecem na primavera e no verão e suas folhas são perenes. Devido à delicadeza, ocorre um processo natural de fechamento das folhas durante a noite.
Ipês Amarelos
Os queridinhos de Brasília, os Ipês podem chegar a 6 até 14 metros de altura e suas folhas são pilosas nas duas faces. O tronco meio ”torto” pode chegar até 50m de diâmetro. Uma verdadeira obra da natureza
Chuveirinho
Usada em decorações e artesanatos, a pequena graciosa é inconfundível, ainda mais quando lançam suas hastes e flores brancas em meio a campos do Cerrado, elas florescem normalmente de março a julho.
Algodão do Cerrado
Nativa do cerrado, ela também pode ser utilizada como ornamental e possui propriedade medicinal.
Gostou da matéria? Escolha como acompanhar as principais notícias do Correio:
Dê a sua opinião! O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores pelo e-mail sredat.df@dabr.com.br