Com o envelhecimento da população brasileira, há um aumento nos casos de doenças cerebrais, como acidente vascular cerebral (AVC), Alzheimer e transtornos cognitivos, disse Juliana de Sousa Batista Braga, neurologista do Hospital Anchieta, durante o programa CB.Saúde — parceria entre o Correio e a TV Brasília — de ontem. Em entrevistas às jornalistas Carmen Souza e Sibele Negromonte, a médica destacou que há como se prevenir desses problemas com atividades físicas semanais, parar de fumar e uma dieta balanceada. Também é preciso estar atento a alguns sinais para prevenir o agravamento do quadro.
Poderia nos explicar sobre o que é a saúde cerebral?
Tem um conceito da Organização Mundial da Saúde (OMS) que diz que ela não é somente a ausência de doença, mas também um estado de plenitude das funções cerebrais, como atenção à cognição, funções motoras e emocionais para a execução de atividades potenciais que o paciente tem ao longo da vida. É um conceito muito mais amplo que a ausência de doenças.
A população está envelhecendo e as doenças cerebrais acometem mais os idosos. Como evitar esses problemas?
A expectativa de vida da população brasileira vem aumentando e cada vez mais temos prevalências de doenças como acidente vascular cerebral (AVC), Alzheimer, transtornos cognitivos e outros tipos de demências. Isso passa a ser um problema de saúde pública, pois são doenças extremamente incapacitantes. Por exemplo, atualmente o AVC é a doença que mais mata no Brasil.
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Como prevenir?
Primeiro, parando com o tabagismo, porque ele é um grande vilão nessas doenças. Sempre estimulamos os pacientes a parar de fumar. Atividade física regular é outro fator importante, pelo menos 150 minutos de atividade física supervisionada por semana. Hábitos alimentares também são importantes, com uma dieta balanceada e com menos teor de sódio, açúcar e carboidratos. Essa regulação vem ajudando nesse sentido. O controle do estresse também é um grande problema dos pacientes. Eu sempre estimulo que atividades de relaxamento, como meditação e terapia, sejam realizadas, porque o próprio fato de a pessoa lidar com as situações do dia a dia de maneira mais tranquila já reduz o estresse. Além disso, ter uma boa rotina de sono.
E em relação ao AVC, quais são os sinais para as pessoas ficarem atentas?
Uma informação muito impactante é que 25% das pessoas vão ser acometidas por AVC. Dessas, 70% não retornam ao trabalho e 50% irão precisar de ajuda para realizar atividades diárias. Em relação aos sinais, usamos um mnemônico (técnica de memorização) chamado Samu. S de sorriso: pedimos para a pessoa sorrir e, se o sorriso estiver torto, é o primeiro sinal. A (de arm, em inglês, que significa braço): solicitamos que o paciente levante os braços e, se eles caírem de repente, fiquem atentos. M de música: solicitamos que o sujeito cante uma música ou verbalize uma frase. Se a fala estiver só com algumas palavras e desconexa, é outro alarme. E o U de urgência: se um desses sinais estiver presente e acontecer de forma aguda, o paciente deve ser levado imediatamente a um pronto-socorro ou hospital que tenha condições de atendê-lo ou ligar 192. Se o sujeito chegar ao pronto-socorro com pelo menos quatro horas e meia de início dos sintomas e estivermos diante de um AVC isquêmico — quando há obstrução de uma artéria — temos a possibilidade de reversão, seja parcialmente ou completamente.
Como é feito o diagnóstico precoce de problemas neurológicos e há sinais?
O desenvolvimento dessas doenças vem com uma combinação de fatores genéticos e ambientais. No quadro de demência, há sinais precoces que normalmente não se desenvolvem de um dia para o outro. A maior parte delas vem de forma lenta e progressiva. Por exemplo, o paciente começa com sinais de esquecimento de algumas coisas, dificuldades de lidar com dinheiro e números, suspeitas de pessoas próximas e comportamento de hipersexualidade. Isso vai progredindo lentamente. O que aconselhamos é que, caso você tenha algum sinal de que as coisas estão mudando, é importante procurar um neurologista para avaliar isso de forma precoce.
E na inexistência desses sinais, é importante fazermos um check-up neurológico?
É muito importante, porque, se formos avaliar anualmente os fatores de risco de cada pessoa, temos chances de reconhecer, por exemplo, alteração na hipertensão, em alguma vitamina e glicose. Assim como o check-up do coração, o do cérebro é muito importante e alguns fatores são bem próximos nas duas ocasiões.
* Estagiário sob a supervisão de Márcia Machado
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