Entrevista

Forças de segurança do DF estão entre as menos letais, destaca Sandro Avelar

Ao CB.Poder, o secretário de Segurança Pública do DF enfatizou a queda de crimes na capital, como homicídios, latrocínios e roubo. Ressaltou que a polícia do DF está entre as menos letais do país e anunciou a implantação de mais câmeras na região central da capital

CB.Poder recebe o secretario de Segurança Publica do DF, Sandro Avelar. Na bancada, os jornalistas Carlos Alexandre de Souza e Mariana Niederauer -  (crédito:  Ed Alves/CB/DA.Press)
CB.Poder recebe o secretario de Segurança Publica do DF, Sandro Avelar. Na bancada, os jornalistas Carlos Alexandre de Souza e Mariana Niederauer - (crédito: Ed Alves/CB/DA.Press)

A violência no Distrito Federal e o preparo da polícia da capital do país foram pontos discutidos com Sandro Avelar, secretário de Segurança Pública do Distrito Federal. “Todos os crimes no DF têm caído, como homicídios, latrocínios e roubo”, enfatizou. Em entrevista para os jornalistas Carlos Alexandre de Souza e Mariana Niederauer, no programa CB.Poder — parceria entre o Correio e a TV Brasília — desta terça-feira (23/7), o secretário ressaltou que as forças de segurança do DF estão entre as menos letais do país, além de afirmar que a região central da cidade terá mais câmeras para monitorar crimes.

Com exceção dos feminicídios, um levantamento feito pelo Anuário Brasileiro de Segurança Pública, do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, mostrou que, no DF, a violência contra mulheres está aumentando. O secretário explicou que esses números se devem ao aumento de denúncias. “Os crimes estão sendo reduzidos e estão tendo pronta resposta”, pontuou.
 
Qual a avaliação que o senhor faz sobre a segurança pública no primeiro semestre deste ano?
A segurança do DF, diferentemente de qualquer outra do país, tem uma dupla conotação, pois ela é obrigada a fazer a segurança das nossas regiões e também de áreas de interesse nacional, como é o caso da Esplanada dos Ministérios. Além de trabalhar com as peculiaridades de uma capital federal, como por exemplo, segurança de diplomatas, autoridades dos poderes Judiciário, Executivo e Legislativo federal. Então temos essa peculiaridade e nossas forças de segurança têm conseguido fazer um excelente trabalho, tanto na transmissão de segurança para nossas diversas regiões administrativas, quanto em trazer segurança para tudo o que diz respeito ao governo federal e às questões nacionais. Eu tenho orgulho de estar ombreado com essas pessoas que dedicam o dia para transmitir esses sentimentos de liberdade que ainda temos no DF. Embora seja óbvio que somos uma grande capital, com mais de 3 milhões de habitantes, temos números que, quando comparados com os demais grandes centros urbanos do país, ainda vivemos uma situação muito privilegiada.

Quais números o senhor gostaria de chamar atenção?
Qualquer número que você buscar, seja no que diz respeito à violência contra a pessoa, patrimonial, crimes violentos letais intencionais etc. Todos os crimes no DF têm caído, como homicídios, latrocínios e roubo. Nossos números têm sido muito positivos, agora, isso não quer dizer que não precisamos mais nos preocupar com segurança, muito pelo contrário, temos que avançar e servir de exemplo para o resto do país. Temos defendido muito a chamada de segurança integral, que não envolve tão somente os órgãos da Segurança Pública, mas os demais órgãos de governo, a sociedade civil e envolve também a imprensa. Vocês — imprensa — têm da nossa parte a lealdade, transparência, dados e sabem muito bem o que acontece no DF. Por outro lado, a segurança é uma questão que envolve toda a sociedade, por exemplo, os crimes domésticos cometidos contra as nossas mulheres demandam uma mudança cultural e quem vai construir essa mudança serão todos nós.

Um levantamento do Anuário Brasileiro de Segurança Pública, do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, divulgado na semana passada, mostrou que todos os crimes de violência contra a mulher estão aumentando no DF. Sabemos que em relação aos feminicídios houve uma redução enorme. Como o senhor sugere que a segurança trabalhe nisso?
Os crimes estão sendo reduzidos e estão tendo pronta resposta. O que está aumentando são os números de registros e estou aqui pedindo para que as pessoas façam o registro e as denúncias, isso é o que queremos. Não quer dizer que a violência está aumentando, mas os nossos registros estão funcionando. A violência está caindo e de forma significativa, se você comparar os números, por exemplo, de feminicídios com o que aconteceu no ano passado, a redução é de quase 70%. Agora, isso é algo de se orgulhar? Não. Enquanto houver um feminicídio não temos o que comemorar, só iremos fazer isso quando não houver mais nenhum. Para isso, não podemos depender tão somente das forças de segurança, é necessário uma mudança cultural e um engajamento da sociedade e imprensa no sentido de nos ajudar, cobrando os registros e denúncias, para que possamos mudar essa cultura do homem agredindo a mulher, que infelizmente é uma vergonha nacional. Não é só o Brasil que passa por isso, infelizmente em outros países, como Itália e Espanha, por exemplo, no ano passado tiveram números trágicos.

A polícia do DF está preparada para lidar com esse aumento de registros?
Está preparada, embora tenhamos hoje um efetivo bastante reduzido se comparado a outros períodos. Preciso dizer que o governo Ibaneis tem feito muitos concursos para recompor as forças da segurança pública. Em 2012, por exemplo, a Polícia Militar do DF (PMDF) tinha 16 mil componentes e a Polícia Civil (PCDF), mais de 6 mil agentes, hoje a PCDF tem menos de 4 mil componentes e a militar cerca de 10 mil. Foi uma queda bastante acentuada motivada por várias razões, como a inexistência de concursos públicos até a chegada do atual governo, a reforma do sistema de previdência que fez com que muitos policiais fossem para reserva ou pedissem aposentadoria. Então foi uma situação que tivemos que enfrentar e estamos enfrentando. Inclusive trazendo tecnologia para o DF.

A tecnologia tem sido uma solução para deixar mais eficiente o trabalho da polícia, o senhor poderia dar um exemplo para melhora do combate da criminalidade?
Acredito que o exemplo que a comunidade mais vê são as câmeras. É claro que eu posso falar aqui de vários casos onde aplicamos a tecnologia em trabalho de inteligência e cruzamento de dados. A tecnologia é fundamental e utilizamos muito.

Inclusive com aplicativos para ajudar as mulheres, não é?
Isso, aplicativos para ajudá-las a terem atendimentos mais rápidos. Em relação às câmeras, hoje, no DF temos 1.173 câmeras instaladas em quase todas as regiões administrativas, mas até 2025 todas as regiões serão contempladas com câmeras de alta qualidade para que possamos fazer, inclusive, reconhecimento facial daquelas pessoas que estejam envolvidas em crimes. Para isso estamos criando um sistema em que podemos fazer um cruzamento de banco de dados entre as corporações, isso vai gerar um aperfeiçoamento do nosso trabalho no dia a dia.

Como isso se encaixa na política de integralidade onde temos quatro regiões em que as corporações trabalham?
No que diz respeito a essa divisão, temos o DF dividido em quatro regiões integradas de segurança, a região Leste, Oeste, Sul e Metropolitana. Temos exatamente o conhecimento de onde a criminalidade está aumentando, o porquê está aumentando, onde ela está sendo reduzida e quais atitudes estão sendo tomadas. Outro esforço que estamos fazendo é para prestigiar os Conselhos Comunitários de Segurança (Consegs), porque os membros do Consegs são pessoas da comunidade e que conhecem as particularidades e problemas da região. Como Brasília tem regiões com naturezas muito diferentes e realidades muito diferentes isso nos ajuda muito a identificar qual é o problema.

Como o senhor enxerga o cenário das operações policiais, falando dos números do DF? Qual é a conduta que deve ser mantida?
Os policiais devem ser preparados e qualificados, como são aqui no DF. Isso faz com que sejamos uma das polícias menos letais do país. É preciso que essa política seja trabalhada, em todos os estados, no sentido de que o profissional de segurança seja admirado pela população. Tanto os agentes quanto o poder público têm que fazer sua parte para mudar essa cultura, fazendo com que o policial seja visto como o cidadão que ele é: um pai ou mãe de família que quer que seus filhos tenham um futuro melhor. As pessoas têm a mania de achar que o policial veio de outro planeta! Não! Ele também faz parte da nossa sociedade e precisa de carinho e reconhecimento, o que vai refletir na atitude dele.

O Anuário Brasileiro de Segurança Pública mostrou que houve aumento de 68% da letalidade decorrente de ações policiais. Como é trabalhado isso na SSP?
A gente acompanha, com muita atenção, e dá o poder para que as corregedorias façam o seu trabalho. Em casos de abusos ou que o incidente pudesse ser evitado, a gente confia que as corregedorias vão fazer o que deve ser feito. Até porque nossa política é de muita transparência. Só que também precisamos achar uma maneira de contribuir como sociedade. Não é bom estimular a população a partir para cima dos policiais. Infelizmente, vemos isso com muita frequência. De todas as corporações, a Polícia Militar é a mais exposta. Isso porque ela está presente em um momento de raiva ou ódio. Eles atendem ocorrências que poderiam ser simples, a princípio, mas que se tornam dantescas. Por isso, enquanto sociedade, temos que ensinar nossas crianças a respeitar os policiais.

Qual é a sua opinião sobre as câmeras corporais e o fato de o policial poder desligá-las ou não?
No caso do DF, acho que elas protegem mais os policiais do que qualquer outra coisa. As nossas taxas de letalidade são baixíssimas, porém, os nossos policiais são testados mais do que em qualquer outro estado. Tivemos o 8 de janeiro, que foi trágico, mas só tivemos perdas patrimoniais. Apesar de toda a tragédia, nenhuma vida foi perdida. Naquela ocasião, policiais ficaram feridos gravemente, alguns correndo risco de morte. Mesmo assim, não dispararam um tiro para desocupar as instituições. Portanto, posso dizer que aqui não há abusos ou excessos. Quando existe, a corregedoria atua fortemente.

Como a secretaria está lidando com a saúde mental das forças de segurança?
A expectativa de vida do policial é significativamente menor do que a do cidadão comum. Enquanto a da população, em geral, fica perto dos 77 anos, a dos agentes de segurança pública beira os 60 anos. Outra informação preocupante é que mesmo para o policial aposentado, a expectativa de vida ainda é menor do que a da população, por causa do estresse e do desgaste da profissão. Mesmo assim, estamos vendo os comandos de todas as forças se esforçando para garantir melhores condições de atendimento para os agentes. É algo que precisa ser trabalhado e notado em várias esferas da sociedade.
Veja a entrevista:


*Estagiário sob a supervisão de José Carlos Vieira

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postado em 24/07/2024 06:00
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