TRADIÇÃO

Rede de artesãos gera renda para comunidades indígenas de todo o país

Além das exposições na Aldeia Multiétnica, povos indígenas contam com uma rede de comércio físico e on-line para as obras

Feira de Experiências Sustentáveis do Brasil reúne artistas com obras que representam os biomas brasileiros  -  (crédito: Gabriella Braz/CB)
Feira de Experiências Sustentáveis do Brasil reúne artistas com obras que representam os biomas brasileiros - (crédito: Gabriella Braz/CB)

Nesta sexta-feira (19/7), último dia de atrações comandadas por povos indígenas de todo o Brasil, visitantes puderam conhecer mais sobre a medicina e a arte de dezenas de etnias, além de levar um pedaço de cada aldeia para casa. A 16ª edição da Aldeia Multiétnica encerra neste sábado (20/7), com o início do 24º Encontro de Culturas Tradicionais da Chapada dos Veadeiros.

Já é tradição entre os povos que vão para a Aldeia Multiétnica trazer artes locais para vender nas tendas e lençóis espalhados pelo local. Além de ser um momento único de intercâmbio cultural, a venda de artesanato, ervas medicinais, pinturas e outros artigos faz parte da renda das aldeias. 

A paulista Ana Castro, 35, já tinha vontade de participar do evento e, neste ano, recebeu o convite diretamente do povo Alto Xingu. “Olhando de perto, percebemos o quanto isso agrega para todas as comunidades e para nós, visitantes, também", relatou. Para ela, tem sido incrível o aprendizado e a troca de culturas. E, claro, ela não ia deixar de conhecer os artigos produzidos nas comunidades. 

Para ela, o mais impressionante foram as formas de cura que os povos indígenas mostraram. "São vários remédios feitos a partir de plantas. É por isso que eles batalham tanto para manter o território intacto, pois é de lá que extraem esses medicamentos e têm uma autonomia de cura", observou.

Ana Castro ficou impressionada com a capacidade de cura que as plantas têm
Ana Castro ficou impressionada com a capacidade de cura que as plantas têm (foto: Luis Fellype Rodrigues/CB)

Arte e significado 

Uma arte que vai além de confeccionar itens e objetos, é como a artesã Tsiktso Rikbaktsa, 35, do povo Rikbaktsa, definiu o artesanato. "Fazem parte da nossa cultura nativa, muitos desses artigos são vestes tradicionais e carregam muita história. Sem contar que é com ele que conseguimos sustento e muitas famílias dependem disso, principalmente as mulheres. Para você ter ideia, na nossa comunidade, cerca de 98% das mulheres trabalham com isso", pontuou.

Tsiktso gostaria que tanto a atividade quanto os artesãos tivessem mais reconhecimento e respeito. "Artesanato não é apenas o momento da venda. Mostramos como é o processo de fabricação, pois, para chegar na banca, o item passa por várias etapas, carregando histórias e dificuldades. Tentamos passar isso para as pessoas. Tudo o que produzimos tem um significado enorme para nós", destacou.

Tsiktso Rikbaktsa pediu mais reconhecimento com artesanato
Tsiktso Rikbaktsa pediu mais reconhecimento com artesanato (foto: Luis Fellype Rodrigues/CB)

Wetsu Baniwa veio sozinho, mas trouxe consigo representações de 23 etnias que vivem no Alto Rio Negro, próximo à São Gabriel da Cachoeira (AM), unidos também pelo idioma, o Aruak. “Perto do rio Arari tem uma cachoeira bem forte e no meio dela tem um buraco que a gente chama de ‘umbigo do mundo’, para nossa história, foi lá que o mundo surgiu”, conta.

O povo Baniwa é conhecido pelas cestas, balaios e outros artigos feitos de arumã. Segundo Wetsu, essa arte surgiu antes mesmo do povo Baniwa, com os antepassados deles. Foi essa arte popular que ele levou para a Feira de Experiências Sustentáveis do Brasil, que reuniu diversos artistas na Aldeia com obras que representam os biomas brasileiros 

Para ele, o evento é uma chance de mostrar uma arte tão significativa dos Baniwa para outras culturas. “É uma troca de experiências, muitos aprendizados”, afirma. “É muito importante a gente aprender e ouvir a realidade de cada povo de vários estados brasileiros para mim”.

Wetsu Baniwa veio representando 23 etnias que vivem no Alto Rio Negro
Wetsu Baniwa veio representando 23 etnias que vivem no Alto Rio Negro (foto: Gabriella Braz/CB)

A arte fora da Aldeia

A prática de trazer as artes dos povos para a Aldeia Multiétnica, entretanto, sofreu uma paralisação devido à pandemia de covid-19. O que impactou também na subsistência das aldeias.

Com isso, alguns organizadores do encontro, como Leo Porto, coordenador da Rede Multiétnica, que gerencia a comercialização de produtos de variadas etnias, explica que a primeira iniciativa, ainda na pandemia, foi de criar uma ferramenta e-commerce para a venda de produtos das comunidades, que não podiam sair de seus territórios por conta da pandemia.

A ideia era ter uma geração de renda distribuída ao longo de todo o ano. “Observou-se que as comunidades tinham quase os mesmos problemas, que são distanciamento geográfico, falta de acesso ao mercado, dificuldade em precificar os produtos”, explica. Quando alguém compra um produto da Rede, a maior parte do valor vai para o artesão, e outra parte para os custos do projeto, que não tem fins lucrativos.

Atualmente, o projeto conta com lojas em Alto Paraíso de Goiás (GO), Brasília e São Paulo. O DF conta com dois endereços da Rede Multiétnica: na quadra comercial 405 norte e no shopping Casa Park, onde espectadores também podem apreciar uma exposição de obras de diferentes etnias. 

  • Feira de Experiências Sustentáveis do Brasil reúne artistas com obras que representam os biomas brasileiros
    Feira de Experiências Sustentáveis do Brasil reúne artistas com obras que representam os biomas brasileiros Gabriella Braz/CB
  • Feira de Experiências Sustentáveis do Brasil reúne artistas com obras que representam os biomas brasileiros
    Feira de Experiências Sustentáveis do Brasil reúne artistas com obras que representam os biomas brasileiros Luis Fellype Rodrigues/CB
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    Feira de Experiências Sustentáveis do Brasil reúne artistas com obras que representam os biomas brasileiros Luis Fellype Rodrigues/CB
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    Feira de Experiências Sustentáveis do Brasil reúne artistas com obras que representam os biomas brasileiros Luis Fellype Rodrigues/CB

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postado em 19/07/2024 19:39
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