Viadutos, pavimentação asfáltica, restauração de espaços. Em diversas regiões do Distrito Federal, as obras públicas estão a todo vapor, mantendo a cidade com a característica de "uma Brasília em construção". Apesar dos transtornos que as intervenções causam à população, especialistas afirmam que elas podem ser enxergadas pelo viés de aquecimento da economia e geração de emprego. Dados mais recentes do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) mostram que, em maio de 2024, a construção civil gerou 79.788 postos de trabalho — 2 mil vagas a mais do que em janeiro.
O secretário de Obras do DF, Valter Casemiro, lembra que, desde 2019, as obras públicas geraram mais de 20 mil empregos na capital do país. "Além de recuperar a cidade e melhorar a qualidade de vida da população, elas são grandes geradoras de empregos diretos e indiretos. Isso gira a economia, aumenta as vendas do comércio e garante o sustento de muitas famílias", comenta.
Presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Distrito Federal (Sinduscon-DF), Adalberto Valadão Júnior concorda que a construção civil é um importante vetor da economia do DF, com geração de emprego e renda. "O setor é responsável por 51,3% do PIB (Produto Interno Bruto) da indústria do DF, contribuindo, anualmente, com R$ 5,2 bilhões", calcula.
Adalberto destaca que o DF tornou-se um verdadeiro "canteiro de obras" e, por isso, observa que o mercado da construção civil tende a crescer. "Analisando dados do Caged, verifica-se que, em 2023, havia 76.789 trabalhadores formais na nossa indústria, no DF, o que representa aumento de 8,5% em comparação a 2022", pontua.
Empregabilidade
Coordenador do curso de engenharia civil do Centro Universitário Uniceplac, Thiago Primo afirma que construções de grande impacto têm o potencial de alavancar e aquecer o mercado financeiro. "Devido aos grandes desafios e às demandas que essas obras exigem, uma gama de colaboradores é solicitada para executar etapas dos projetos e isso permite a empregabilidade de vários profissionais, em áreas distintas", aponta.
O especialista avalia que o cenário do DF se assemelha ao nacional, do ponto de vista do comportamento do mercado. "As obras de infraestrutura conseguem captar boa parcela da população disponível no mercado de trabalho, independentemente do aperfeiçoamento tecnológico, uma vez que muitos treinamentos são realizados dentro do próprio empreendimento. Existem vagas para todos os públicos", comenta Primo.
Para o especialista, o crescimento do mercado impacta na busca por qualificação profissional. "A procura pela formação em cursos relacionados à área está em crescimento e com o potencial de mudar a realidade de muitos profissionais, devido ao salário e às possibilidades atrativas da profissão", opina. "Além disso, estamos com escassez de profissionais disponíveis, uma vez que muitos foram absorvidos pelo mercado da construção civil ou pelos demais mercados que aproveitam as características de gestão e planejamento estratégico que essa formação dispõe", acrescenta o coordenador.
Crescimento pessoal
Quem está se qualificando para evoluir ainda mais na carreira é a auxiliar de segurança do trabalho Maura Teodoro da Silva, 43 anos. A moradora de Valparaíso de Goiás, que está empregada na obra da Epig, conta que começou como auxiliar de limpeza e, com o tempo, foi subindo de cargo. "Com essa evolução, a parte financeira melhorou bastante e consegui desafogar as contas de casa, pagando algumas que estavam atrasadas, por exemplo, além de poder investir em mais estudos, para crescer ainda mais e almejar cargos ainda mais altos", destaca.
Ela afirma que, antes de conseguir essa vaga, ficou dois meses desempregada. "Fiquei preocupada em não conseguir outro trabalho, mas graças a uma indicação arrumei essa vaga. Quando vim para cá, meus chefes perceberam que eu tinha capacidade e me promoveram para o cargo que estou atualmente", ressalta Maura.
Outro que percebeu na construção civil uma grande oportunidade de emprego foi Ronilson Costa Martins, 35. Ele afirma que mora no DF há 13 anos e, antes de ser contratado para trabalhar, também na obra da Epig, estava apenas fazendo bicos. "Isso me deixava mais apertado em casa, pois nem todo dia o trabalho era certo", lembra. "Aqui, com a carteira assinada, fico tranquilo em saber que estou com o emprego garantido", comemora Ronilson.
Segundo o encarregado de carpintaria, que está trabalhando no canteiro há um ano e dois meses, além de conseguir o emprego, acabou sendo promovido nesse período, o que melhorou bastante suas finanças. "Antes, não conseguia ter uma vida social com a minha esposa e filho, vivia apenas para trabalhar. Agora, todo mês sobra um dinheiro para fazer alguma coisa com eles", ressalta. Ele afirma que não tem medo de ficar desempregado, quando a obra em que está trabalhando terminar. "Vou conseguir outro trabalho, pois o DF está com muitas outras obras em andamento, o que colabora para a criação de vagas", avalia.
Obras pelo DF
- Infraestrutura do Sol Nascente - Estão sendo realizados serviços de drenagem, pavimentação, sinalização viária, calçadas e bacias de detenção. O investimento total será de R$180 milhões, com geração de 360 empregos, entre diretos e indiretos;
- Corredor BRT na via Epig - O projeto do Corredor Eixo Oeste prevê uma série de benefícios para a infraestrutura de Brasília. As obras de requalificação da via EPIG preveem a implantação de faixa exclusiva para ônibus no sistema BRT, a construção de 9 viadutos, estações BRT, passagens para pedestre subterrâneas, sinalização viária, calçadas e ciclovias. Por questões de logística e segurança, as obras foram divididas em trechos. O investimento é de R$ 150 milhões, com a geração de 300 empregos, entre diretos e indiretos;
- Duplicação da via de ligação Guará/Bandeirante - A duplicação da via que liga a Estrada Parque Núcleo Bandeirante (EPNB) à Avenida Contorno, na altura da Quadra 38 do Guará, pretende melhorar o fluxo da região, principalmente nos horários de pico, além de trazer mobilidade com a construção de calçadas e ciclovias. O investimento é de R$ 11 milhões, com a geração de 80 empregos, entre diretos e indiretos;
- Infraestrutura da Colônia Agrícola Samambaia - Serão realizadas obras de drenagem, pavimentação e construção de calçadas. As principais vias contempladas com as obras serão a avenida Contorno, avenida Misericórdia e rua Flor da Índia. As obras devem estar finalizadas até 11 de junho de 2026. O investimento total será na ordem de R$ 60 milhões, com a geração de 200 empregos, entre diretos e indiretos;
- Corredor BRT no Setor Policial Sul - Na segunda etapa das obras de requalificação da Estrada Setor Policial Militar, conhecida como Setor Policial Sul, foram executados serviços de pavimentação, drenagem, sinalização, paisagismo, calçadas, ciclovias e execução de Bacia de Detenção. Investimento de R$ 50 milhões, com a geração de 200 empregos, entre diretos e indiretos.
Postos de trabalho em 2024
Janeiro 77.754
Fevereiro 78.633
Março 79.162
Abril 80.155
Maio 79.788
Fonte: Caged/Sinduscon-DF
Trechos da Hélio Prates são liberados
Obra que se arrasta há anos, a revitalização da Avenida Hélio Prates, no trecho que vai da QND 50 à QNG 25, finalmente está caminhando. Moradores e comerciantes da região reclamavam da lentidão nos serviços. Desde que assumiu a obra, o Governo do Distrito Federal (GDF) afirma que está empenhado em concluir todas as frentes de serviços deixadas abertas pela empresa contratada.
"O trecho entre o comércio Agro Boi e a Comercial foi liberado neste fim de semana para os veículos. O outro trecho, entre os postos Melhor e Pit Stop, será finalizado até o fim da desta semana", destaca o secretário de Obras, Valter Casemiro. "Precisamos enaltecer o grande trabalho desempenhado pelas equipes da Novacap e do DER-DF que nos deram resposta imediata", pontua.
Um dos que perceberam a mudança de ares foi o motorista de aplicativo Antonio Gilvandro, 34. Morador da QNG 42, há 28 anos, ele conta que viu muitos colegas, que eram donos de lojas, fecharem as portas por causa da lentidão no serviço. "Desde que o GDF assumiu, consigo perceber que os serviços finalmente começaram a andar, o que é algo bom", avalia.
Dono de uma conveniência, Eldo Schreiber, 50, conta que assumiu o ponto há cinco anos. "Era muito bom. Sempre muito movimentado. Depois que a obra veio, minhas vendas caíram 60%. No começo, entendia, sempre com a esperança de que o serviço estava vindo para o bem", recorda. "Depois que parou, ficamos bastante preocupados. Para me manter, passei a oferecer serviço de delivery e a investir na divulgação, tanto digital quanto por panfletagem", revela. Eldo afirma que nem sabia que o GDF tinha assumido a obra. "Sabendo disso agora, fica a esperança de que ela finalmente termine e as coisas voltem ao normal, aos poucos", comenta.
Francisco Lopes, 71, é proprietário de uma loja de artigos pecuários na Hélio Prates há 33 anos. O Correio visitou o local em dezembro do ano passado e viu que o movimento no local era praticamente zero. "Na época em que a obra estava parada, o sentimento de frustração era grande. A vontade de fechar a loja era enorme, pois as vendas caíram bastante, perto dos 40%. Além disso, a conta de água subiu desenfreadamente, porque tínhamos que lavar a calçada de hora em hora, por conta da poeira", lembra o empresário.
Agora, com a conclusão da pavimentação, Lopes afirma que as vendas estão começando a melhorar. "Foi um alívio. Os clientes estão voltando aos poucos para a loja e as coisas estão fluindo cada vez melhor. A esperança é que, até o fim do ano, a gente volte para o patamar de antes e quem sabe até melhore as vendas", afirma. (AS)
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