Há exatos 55 anos, o mundo assistiu a um dos eventos mais marcantes do século 20: a chegada do homem à Lua. No auge da corrida espacial e em meio à efervescência da Guerra Fria, o astronauta norte-americano Neil Armstrong deixou a sua pegada em solo lunar durante a missão Apolo 11. Seu pequeno passo representou "um gigantesco salto para a humanidade", visto que foi resultado, e também impulsou, diferentes avanços tecnológicos. Mas, afinal, qual a ligação das viagens espaciais com Brasília?
- Ibama cria plataforma de monitoramento de recuperação ambiental
- Nasa identifica diferença de temperatura matinal e noturna em exoplaneta
- Crise climática deixa as árvores mais lentas, mostra estudo
Na Asa Norte, na sede do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), fica a Árvore da Lua, planta germinada de uma semente levada para o espaço na missão Apollo 14, em 1971. No Distrito Federal, além de se tornar um espaço de contemplação, a espécie arbórea é um lembrete sobre a importância da preservação ambiental.
De nome científico Liquidambar styraciflua, a Árvore da Lua recebeu esse nome por ter sido objeto de pesquisa do astronauta Stuart Roosa, durante a terceira expedição lunar da Agência Espacial Norte Americana (Nasa). Com ele, foram levadas ao espaço mais de 500 sementes de cinco espécies de árvores nativas da América do Norte, como Aberto de Douglas, Árvore-do-âmbar, Pinus taeda, Platanus occidentalis e algumas do gênero Sequoia.
Em solo brasiliense
Segundo informações da Nasa, cerca de 450 sementes conseguiram suportar as condições de zero gravidade e as 14 voltas em torno do satélite natural — em nove dias. Várias mudas das árvores da Lua foram plantadas nos Estados Unidos em 1975 e 1976, em comemoração ao bicentenário do país. Outras foram doadas para países, como Suíça, Japão e Brasil.
Em solo brasileiro, foram distribuídas três mudas: duas no Rio Grande do Sul, nas cidades de Santa Rosa e Cambará do Sul; e a outra em Brasília. O presente do Serviço Florestal dos EUA chegou à capital em 14 de janeiro de 1980 e foi recebido pelo Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal (IBDF), hoje, Ibama. No plantio, estavam presentes o chefe da instituição norte-americana, Thomas Nelson, e Joaquim Netto, secretário-geral do então Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal (IBDF).
O doutor em botânica Clapton Moura destacou a importância desse experimento para a área. "Isso foi para saber se essas plantas conseguiriam germinar em condições não terrestres. O estudo mostrou que é possível. Nesse processo, várias sementes morrem, tanto em órbita quanto no retorno ao planeta. As que sobreviveram foram plantadas e doadas", contou.
Adaptação
A Liquidambar se adaptou bem ao clima e solo brasiliense. "É uma espécie muito utilizada no paisagismo, madeira e outras atividades, por isso, ela apresenta essa versatilidade e flexibilidade de adaptação a diferentes ambientes. Os ambientes naturais dela são os EUA, zonas temperadas e áreas montanhosas na parte tropical do México, o que dá uma ampla variedade, tanto tropical quanto temperada", explicou Moura.
Além disso, a altitude de Brasília (a 1.171m do nível do mar) favoreceu a árvore. "A principal explicação para essa adaptação da espécie aqui é a forma como que ela sobrevive em diversos lugares, visto que tem uma ampla tolerância de variáveis ambientais e é fácil de ser plantada em muitos lugares, embora as melhores condições delas sejam áreas mais frias e temperadas", reforçou.
Em 2011, a Árvore da Lua foi declarada imune ao corte, conforme prevê o Artigo 7 do Código Florestal Brasileiro, que garante a proteção incondicional a uma árvore reconhecida por ato do Poder Público, por motivo de sua localização, raridade, beleza ou condição de porta-sementes. A decisão se deu na comemoração do Dia da Árvore.
Saiba Mais
Curiosidade
Poucos meses após ser contratado como editor de vídeo no Ibama, Vinícius Desidério, 26 anos, recebeu uma missão: impulsionar as redes sociais do órgão. A ideia, então, foi produzir vídeos que unissem conhecimentos científicos e curiosidades ambientais. Sua equipe foi informada sobre a história da Árvore da Lua.
"Lembro-me que pensei: 'Meu Deus, não acredito que existe uma espécie dessa árvore aqui'. Fiquei fascinado. Sempre gostei muito de biologia, curso que foi minha segunda opção de carreira. Então, já sabia que seria um trabalho divertido de fazer", comentou. O jovem, formado em cinema, só não contava com a dificuldade em encontrar informações sobre a vegetação nos arquivos do Ibama.
"Como a muda foi plantada ainda na época do IBDF, muitos registros não chegaram a ser digitalizados. Esse trabalho está sendo feito agora pela Universidade de Brasília (UnB)", contou. O jeito foi explorar os próprios documentos da Nasa disponíveis na internet. A pesquisa durou duas semanas e, após 15 dias, o vídeo foi publicado nas redes sociais.
Segundo Vinícius, a recepção do público nas redes foi muito positiva. "Muitas pessoas, assim como eu, não tinham conhecimento sobre esse espaço, então, a história gerou bastante surpresa", disse. A visita à Liquidambar pode ser feita por qualquer um que tenha interesse em conhecer o bosque do Ibama. Já as visitas escolares devem ser previamente agendadas.
* Estagiário sob a supervisão de Márcia Machado
Gostou da matéria? Escolha como acompanhar as principais notícias do Correio:
Dê a sua opinião! O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores pelo e-mail sredat.df@dabr.com.br