Entrevista | ANDRÉ BON | INFECTOLOGISTA

"Queremos que nenhuma criança deixe de ser imunizada", diz infectologista

Ao CB.Saúde, especialista avalia que o país tem um programa de imunização robusto, mas que ainda há um caminho a andar

 18/07/2024 Crédito: Kayo Magalhães/CB/D.A Press. Segundo o infectologista André Bon do Exame Medicina Diagnóstica, convidado do Cb.Saúde desta quinta-feira (18/7), Brasil saiu da lista com maior número de crianças imunizadas. Na bancada: Carmen Souza e Mila Ferreira. -  (crédito: Kayo Magalhães/CB/D.A Press)
18/07/2024 Crédito: Kayo Magalhães/CB/D.A Press. Segundo o infectologista André Bon do Exame Medicina Diagnóstica, convidado do Cb.Saúde desta quinta-feira (18/7), Brasil saiu da lista com maior número de crianças imunizadas. Na bancada: Carmen Souza e Mila Ferreira. - (crédito: Kayo Magalhães/CB/D.A Press)

Cobertura vacinal, coqueluche, hepatites e HPV foram os temas abordados no programa CB.Saúde — parceria entre o Correio e a TV Brasília — de ontem.  O infectologista do Exame Medicina Diagnóstica André Bon falou da importância do Programa Nacional de Imunizações e destacou a saída do Brasil da lista de países com mais crianças não vacinadas no mundo. O alerta sobre a possibilidade de aumento de casos de coqueluche no Brasil, a exemplo do que está ocorrendo na Europa, também foi abordado na entrevista, comandada pelas jornalistas Carmen Souza e Mila Ferreira. 

O Brasil saiu da lista dos 20 países com o número de crianças não imunizadas. Estamos seguros nessa situação em relação à imunização? 

É uma ótima notícia. É importante que a gente volte a ser um país que imuniza crianças e que é capaz de erradicar doenças que são imunopreveníveis. Ainda temos um caminho para andar, porque o que queremos é que nenhuma criança deixe de ser imunizada. Mas, é uma grande conquista. Nós temos um programa de imunizações nacional extremamente robusto, cobre dezenas de doenças que são passíveis de prevenção pela vacinação e é muito importante que a população volte a ter confiança nesse programa, que as famílias voltem a levar suas crianças consistentemente para os postos de saúde para serem vacinadas com todas as vacinas do programa. 

Além de ter um programa de imunização consistente, é importante também a conscientização por parte de pais e responsáveis, certo? 

É tão importante quanto termos um programa robusto é a consciência da população da importância da vacinação. A gente costuma ter muito orgulho em dizer que tem uma cultura de vacinação no Brasil e isso se perdeu nos últimos tempos por vários motivos. É responsabilidade dos governos federal, estaduais e municipais fazer campanhas de vacinação, levar a informação da existência do programa, da importância da vacinação e de quais vacinas estão lá.

 

 

Tem um alerta no Brasil em relação ao aumento de casos de coqueluche. Dados indicam que o número de diagnósticos no DF nos seis primeiros meses desse ano é o dobro do ano passado. A que se atribui esse aumento? 

A gente teve um alerta da vigilância acerca da possibilidade de aumento no número de casos de coqueluche no Brasil, baseado no que está acontecendo na Europa: um aumento importante do número de casos de coqueluche em todo o continente. A coqueluche é uma doença altamente transmissível que causa doenças graves nas crianças, especialmente as menores de um ano de idade. Historicamente, a doença ocorre em ciclos, com períodos de altas e baixas de casos. 

Coqueluche pode ser uma doença fatal. Quais são os sintomas e o tratamento da doença? 

Coqueluche é especialmente grave para crianças menores de quatro anos, sobretudo as menores de um ano de idade. A doença evolui em três fases. A primeira é catarral, parece uma infecção viral simples, que dura entre uma e duas semanas. A segunda fase é de paroxismos, que é a mais clássica. Acontece episódios de tosses em crises intercaladas por períodos em que o paciente não tem nada. Essas crises de tosses são muito intensas, podendo causar falta de ar, que podem levar ao vômito e guincho, que é aquele barulho que se faz quando se tenta puxar o ar. Nessa fase, a criança pequena pode ficar com falta de ar, prostrada e mole. É a fase mais grave da doença, que pode evoluir para pneumonia e ao óbito. 

Julho também é o mês de alerta às hepatites virais. A OMS calcula que haja 3,5 mil mortes por dia causadas pelas hepatites B e C. Como lidar com esse cenário?

As hepatites virais (A e B) são imunopreveníveis e têm vacinas disponíveis pelo SUS. A vacina contra a hepatite A é na infância e população chave, como os que vivem com HIV, hepatopatas, transplantados e imunossuprimidos. A vacina contra a B está disponível para todos os brasileiros nas unidades básicas de saúde. Para a do tipo B, além da vacinação, tem tratamento. Não é 100% curativo, mas tem tratamento para controlar e acompanhamento adequado, todos 100% disponíveis pelo SUS. A hepatite C tem hoje tratamento com quase 100% de cura, também disponível na saúde pública. 

O HPV pode causar alguns tipos de câncer, entre eles o de colo de útero, e tem vacinação. Podemos dizer que o câncer de colo de útero é o único prevenível com vacinação? 

É um câncer que é quase 100% imunoprevenível. Hoje temos disponível, pelo SUS, a vacina quadrivalente, e a nonavalente pela rede privada. A quadrivalente consegue prevenir até 70% dos cânceres de colo de útero e a nonavalente 90%. A vacina está disponível pelo SUS para a infância, a partir dos 9 anos de idade, para meninas e meninos. Também está disponível para populações especiais, como pacientes vivendo com HIV ou que usa a profilaxia pré-exposição para HIV (Prep) e pacientes imunossuprimidos.

 


  •  18/07/2024 Crédito: Kayo Magalhães/CB/D.A Press. Segundo o infectologista André Bon do Exame Medicina Diagnóstica, convidado do Cb.Saúde desta quinta-feira (18/7), Brasil saiu da lista com maior número de crianças imunizadas. Na bancada: Carmen Souza e Mila Ferreira.
    18/07/2024 Crédito: Kayo Magalhães/CB/D.A Press. Segundo o infectologista André Bon do Exame Medicina Diagnóstica, convidado do Cb.Saúde desta quinta-feira (18/7), Brasil saiu da lista com maior número de crianças imunizadas. Na bancada: Carmen Souza e Mila Ferreira. Foto: Kayo Magalhães/CB/D.A Press
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postado em 19/07/2024 06:15
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