Mobilidade urbana

Mais brasilienses optam por motocicletas e frota vai a 272,7 mil unidades

De janeiro a junho, cerca de 17 mil motos a mais começaram a circular no DF. Seja para o trabalho ou para o lazer, esse meio de transporte é sinônimo de liberdade, sem se esquecer dos equipamentos de segurança obrigatórios

 Jeferson Pereira do Nascimento trabalha 12 horas por dia usando sua motocicleta  -  (crédito: Fotos: Kayo Magalhães/CB/D.A Press)
Jeferson Pereira do Nascimento trabalha 12 horas por dia usando sua motocicleta - (crédito: Fotos: Kayo Magalhães/CB/D.A Press)

Neste ano, houve um incremento de 16,8 mil motocicletas circulando nas ruas do Distrito Federal, comparando-se com o período de janeiro a junho de 2023, saindo de 253,9 mil para 272,7 mil. Mais condutores estão optando pelo meio de transporte, seja para o lazer ou para as atividades do dia a dia. Para outras pessoas, a motocicleta é sinônimo de paixão, como é o caso de Micheline Clein, 40 anos, que começou a pilotar há três anos. Não demorou muito para que a produtora de eventos substituísse totalmente o carro pelo novo jeito de se locomover.

A sua Harley Davidson é usada tanto para o trabalho quanto para os momentos de lazer, como viagens e visitas a casa de amigos. "Sempre que a gente fala de moto, falamos do prazer da liberdade e das amizades que a gente faz. A sensação do vento no rosto é muito boa. Você se une à paisagem, principalmente em viagens", diz Micheline, que está trabalhando no Capital Moto Week, que deve atrair cerca de 350 mil motociclistas ao longo dos 10 dias de evento — a previsão de público é de 800 mil pessoas.

A motociclista não tem medo de pegar a estrada. Ela conta que foi até a Argentina de moto sozinha, uma maravilhosa aventura, segundo ela. "Além de conhecer muitos lugares lindos, conheci muitas pessoas legais. Em paradas específicas, sempre tem um motociclista que para e puxa conversa. A gente se reconhece", conta a produtora, que revela que existe um saudação usada entre motociclistas, mesmo que não se conheçam, que é um "v" deitado feito com os dedos da mão. 

Micheline é integrante do Raposas, motoclube composto por 11 integrantes, todas mulheres. "Viajamos juntas", conta. Seja nas ruas da cidade ou nas rodovias, os cuidados envolvem uso de luvas, bons capacetes, jaqueta, bota e atenção redobrada no trânsito. "Alguns carros não respeitam as faixas e entram de uma vez e muitos não dão a seta antes de dobrar", observa. 

O designer Wellington Sampaio, 68, utiliza a sua Versys 1000 apenas para viagens e passeios. No dia a dia, ele prefere utilizar o carro. "Eu acho que moto traz uma sensação de felicidade, liberdade e amizade com outros motociclistas", reflete Sampaio. E as viagens não são só apenas no Brasil. Com motocicletas alugadas, ele percorreu estradas de países como França, Itália e Suíça. Aqui, no Brasil, alcançou destinos como o Ceará, Minas Gerais, Bahia e o Sul do país sobre duas rodas.   

Wellington destaca que é importante atenção o tempo inteiro quando se pilota uma motocicleta. "É preciso dirigir defensivamente, cuidando de si mesmo, e nunca exceder a velocidade permitida de cada via", frisa. Ele assinala os mesmo equipamentos enumerados por Micheline como fundamentais e, para viagens mais longas, acrescenta o protetor cervical na lista de itens necessários para a segurança do condutor. 

Todos os dias, Jeferson Pereira do Nascimento, 28, fica das 10h às 22h fazendo entrega de comida a domicílio. Para ele, a 160 Titan é destinada apenas para o trabalho de motoboy, que exerce desde 2016. "A gente tem que virar um ninja, porque tem que prestar atenção no trânsito e nos outros condutores. Uma freada do carro da frente pode ser fatal para o motoboy", desabafa Jeferson. 

Ele é casado e tem uma filha de 9 anos, e diz que a família se preocupa com a segurança dele todos os dias quando sai de casa. "Tive algumas quedas, mas nada muito grave", relata Nascimento, que estima que mais da metade dos motoristas não respeitam os motociclistas no trânsito. "Toda hora, para a gente, é um livramento", diz ao lembrar de uma condutora à sua frente que não deu a seta antes de dobrar instantes antes de conversar com a reportagem. "Não dar a seta é o pior dos problemas", constata. 

Apesar dos riscos, ele sente prazer com um dos seus principais instrumentos de trabalho. "Gosto muito de pilotar moto. É uma aventura sensacional. É diferente do carro, onde você fica preso dentro do veículo", analisa.

  •  Jeferson Pereira do Nascimento trabalha 12 horas por dia usando sua motocicleta
    Jeferson Pereira do Nascimento trabalha 12 horas por dia usando sua motocicleta Kayo Magalhães/CB/D.A Press
  •  Micheline Clein já foi para a Argentina pilotando sua moto
    Micheline Clein já foi para a Argentina pilotando sua moto Kayo Magalhães/CB/D.A Press
  •  Wellington Sampaio usa a moto apenas para momentos de lazer
    Wellington Sampaio usa a moto apenas para momentos de lazer Kayo Magalhães/CB/D.A Press
  • Wellington Sampaio usa a moto apenas para momentos de lazer
    Wellington Sampaio usa a moto apenas para momentos de lazer Fotos: Kayo Magalhães/CB/D.A Press
  • Micheline Clein fazendo a saudação dos motoqueiros
    Micheline Clein fazendo a saudação dos motoqueiros Kayo Magalhães/CB/D.A Press

Riscos 

De acordo com o Departamento de Trânsito do Distrito Federal (Detran-DF), 69 motociclistas morreram em acidentes de trânsito em 2023, revelando uma média de um motociclista morto a cada cinco dias nas vias da capital, no período. Fazendo a comparação dos períodos de janeiro a junho, o número de vítimas fatais em motocicletas saiu de 37, no ano passado, para 45, em 2024 (Veja quadro com dicas de segurança elencadas pelo Detran-DF para quem circula sobre duas rodas na cidade). 

Festival 

Para os apaixonados por moto, até 27 de junho, a 21ª edição do Capital Moto Week vai atrais cerca de 300 mil motociclistas do Brasil e do exterior para o Parque de Exposições da Granja do Torto. O evento, que terá duração total de 10 dias, também é destino de mais de 3 mil motoclubes, que têm em comum a fissura pelo meio de transporte. 214 deles estão acampados dentro da área do festival, em um complexo de 320 mil metros quadrados montados. 

Além da oportunidade de conhecer novas amizades que compartilham da mesma paixão, o evento também conta com shows musicais de artistas e bandas como Sepultura, Humberto Gessinger, Raimundos e Fernanda Abreu.

Dicas de segurança no trânsito para motociclistas

  • Tanto condutor quanto passageiro (garupa) devem usar o capacete de segurança com viseira ou óculos de proteção;
  • Ajuste a alça do capacete e verifique o prazo de validade;
  • Use roupas claras e adesivos refletivos no capacete e na jaqueta;
  • Mesmo durante o dia, mantenha o farol aceso;
  • Não “costure” pelo trânsito, nem circule pelos corredores, ciclofaixas, ciclovias e calçadas;
  • Crianças só podem ser transportadas na garupa a partir de sete anos;
  • Jamais beba antes de conduzir;
  • Assim como para qualquer motorista, o uso do celular é proibido durante a pilotagem.

Fonte: Miguel Videl,  chefe do núcleo de Campanhas Educativas do Detran-DF

Palavra de especialista

Cultura de desrespeito

Por Marcos Girão, professor da disciplina de legislação de trânsito para concursos públicos

Atualmente, muitos usuários do trânsito têm optado por serem condutores de motocicletas, motonetas e ciclomotores. O advento dos veículos elétricos aumenta ainda mais a adesão a esses tipos de transporte. Há vantagens nessa escolha no lugar dos veículos automotores. O primeiro ponto é agilidade e mobilidade. As motocicletas são menores e mais ágeis do que o carro, permitindo que os motociclistas se movam com mais facilidade entre os veículos parados no trânsito. Isso reduz significativamente o tempo de deslocamento. 

O segundo ponto é a economia de combustível. As motocicletas, normalmente, tendem a ser mais econômicas em termo de consumo de combustível, o que resulta em economia financeira para o usuário e menor impacto ambiental. 

O terceiro ponto é a facilidade de estacionamento. O tamanho compacto das motocicletas ocupam menos espaço, o que facilita encontrar vagas, especialmente em áreas urbanas congestionadas. O quarto ponto é o menor custo de aquisição e manutenção em relação aos veículos automotores, tornando-se uma opção mais acessível para as pessoas. 

O quinto ponto é a redução de emissão de poluentes, principalmente com o advento de bicicletas e motonetas elétricas, que, inclusive, são mais fáceis de carregar. Muitas motocicletas já são equipadas com tecnologias que reduzem a emissão de poluentes e isso contribui para o meio ambiente e qualidade do ar das grandes cidades.

Por outro lado, há desvantagens nessa escolha. Há uma cultura de desrespeito às motocicletas, por parte dos usuários dos outros tipos de veículos, no Brasil. Nós, usuários de automotores, precisamos ter cuidados específicos ao compartilhar a via com motocicletas. O primeiro cuidado é respeitar o espaço do motociclista, exigências do algo que é exigido do Código de Trânsito Brasileiro (CTB), como manter distância segura ao ultrapassar, evitar mudanças bruscas de faixas, que pode assustar o motociclista e causar colisões, por eles terem pouco espaço para manobrar. 

Outro ponto importante é sempre checar os pontos cegos do veículo ao fazer uma curva ou mudança de faixa.  As motocicletas costumam ser difíceis de serem vistas nesses ângulos. Também é necessário o uso da sinalização adequada, como usar setas antes de fazer manobras e para indicar a intenção de mudança de direção ou de faixa. 

O capítulo três do CTB, intitulado "Normas gerais de circulação e conduta", traz várias regras para ultrapassagens, mudanças de direção e transposição de faixa. 

Também é recomendado redobrar a atenção em condições adversas, como chuva, neblina e o período noturno, porque a visibilidade dos motociclistas fica reduzida. Por isso, é importante usar os faróis baixos e manter uma distância adicional. Abrir a porta do carro sem verificar se vem uma motocicleta também já causou vários acidentes.

Os motociclistas, normalmente, precisam fazer manobras rápidas, para evitar buraco ou obstáculo na pista.  É preciso paciência, compreensão e reconhecer o nosso papel fundamental para garantir a nossa própria segurança. O próprio CBT garante que o trânsito seguro é um direito de todos e precisamos respeitar esse direito.

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postado em 19/07/2024 06:00
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