O Instituto de Pesquisa e Estatística do Distrito Federal (IPEDF), em parceria com a Companhia de Saneamento Ambiental do Distrito Federal (Caesb), está recrutando um grupo de pesquisadores para avaliar os impactos ambientais em Áreas de Proteção de Mananciais (APM) do DF. O objetivo do projeto é implementar medidas de gestão e monitoramento que garantam a integridade de 26 espaços de preservação e a manutenção dos serviços ecossistêmicos que eles oferecem.
- Qualidade de vida depende da preservação ambiental
- Dia da Biodiversidade: IAs já ajudam na preservação ambiental no Brasil
- Visão do Correio: responsabilidade e segurança ambiental
As inscrições para a iniciativa foram abertas no início de julho e seguirão até o dia 26, no site do IPEDF. A pesquisa oferece três vagas destinadas a graduados, mestres e doutores em engenharia civil, ambiental e sanitária ou áreas complementares, com conhecimentos em hidrologia, recursos hídricos e mananciais. O valor das bolsas para os pesquisadores varia de R$ 3 mil a R$ 6 mil.
Henrique Cruvinel, gerente de Bacias de Mananciais da Caesb, destaca a importância do projeto para distinguir os impactos ambientais que atingem as APM's. "Essa iniciativa auxiliará a percepção de como estão as bacias hidrográficas que protegem os mananciais destinados ao abastecimento público", relata ao Correio. Segundo o especialista, a equipe que vai a campo deve encontrar muitos percalços, como poluição, desmatamento e usos urbanos irregulares. "Queremos mostrar esses problemas para que toda a sociedade entenda os riscos de não preservar essas áreas", enfatiza.
Preservação
As Áreas de Proteção de Manancial (APMs) foram estabelecidas pela Lei Complementar nº 17, de 28 de janeiro de 1997, que aprovou o Plano Diretor de Ordenamento Territorial (Pdot). Após a aprovação, o DF realizou o decreto nº 18.585 de setembro de 1997, que regulamentou o artigo 3º do Pdot.
Existem, atualmente, 26 APMs, incluindo áreas como Capão da Onça, Brazlândia, Currais, Pedras, Contagem, Paranoazinho, Corguinho, Mestre D'Armas, Brejinho, Quinze, Cachoeirinha, Taquari, Alagado, Catetinho, Ponte de Terra, Crispim, Olho d'Água, Fumai, Bananal, Torto/Santa Maria, Santa Maria II, Santa Maria III, Pipiripau, Futuro Lago São Bartolomeu — Jusante Paranoá e a faixa de inundação do Lago Descoberto, incluída como APM.
Essas áreas foram escolhidas com o intuito de conservar mananciais de água potável, essenciais para o abastecimento do DF. No entanto, a utilização indevida do solo e outras atividades humanas podem comprometer a qualidade e a quantidade de recursos hídricos disponíveis. Sob essa perspectiva, o projeto busca avaliar os impactos desses usos adversos para compreender de forma mais ampla os aspectos que afetam os mananciais.
"É muito importante cuidar dessas áreas, porque a população está crescendo e, com isso, a demanda por água no Distrito Federal também aumenta", destaca Cruvinel. Segundo ele, preservar esses mananciais é essencial para garantir que todos tenham água limpa no futuro. "É como se estivéssemos fazendo um check-up médico nas Áreas de Proteção de Mananciais, que são lugares extremamente importantes, pois é o local onde a água é produzida", explica o gerente de Bacias de Mananciais da Caesb.
Monitoramento
De acordo com Cruvinel, a pesquisa realiza o monitoramento contínuo das áreas com drones, vistorias terrestres e imagens de satélite. A equipe utilizará mapas e painéis de computador, chamados de Business Intelligence (BI), que vão auxiliar no projeto. "Essa ferramenta ajudará as pessoas que tomam decisões importantes, como os gestores públicos, a entender melhor a situação e a fazer escolhas mais inteligentes para proteger a água", afirma.
Werner Bessa, diretor de Estudos e Políticas Ambientais e Territoriais do IPEDF, também ressalta a necessidade de monitoramento dessas nascentes, sejam superficiais ou subterrâneas. "Temos que pensar no futuro dos recursos hídricos do Distrito Federal e conhecer esses mananciais, bem como os impactos que vêm sofrendo ao longo dos tempos. Essa pesquisa é importante para que os governos tomem as melhores decisões", disse.
Para o coordenador de Estudos Ambientais do IPEDF, Leandro Salles, a preservação desses espaços é uma obrigação de todos. "Além do cuidado da população, também cabe especialmente aos legisladores que produzam leis rígidas o suficiente para garantir uma água de boa qualidade", enfatiza.
Saiba Mais
Três perguntas para...
Eugênio Giovenardi, ambientalista e ecossociólogo
Qual a importância de preservar essas Áreas de Proteção de Mananciais do DF?
Considero que seja muito necessária a avaliação desses mananciais que ainda nos restam. Se não tivermos boas bases, por exemplo, como as nascentes, não teremos rios e águas saudáveis. Por isso são importantes os processos de retenção da água da chuva. Dizia-se que Brasília teria aproximadamente 4 mil nascentes na época da construção da cidade e agora o Ibram (Instituto Brasília Ambiental) nos diz que existem por volta de 1.000 espalhadas, mas que apenas 700 delas foram realmente identificadas. Essa pesquisa deve ter o objetivo de preparar o Distrito Federal para reter as águas da chuva. Porque, se não houver a retenção das águas, todos esses estudos e essas avaliações darão em nada, vão servir para encher gavetas de instituições públicas. Quando retemos a chuva, restabelecemos a vazão das nascentes, por um lado, e por outro lado, alimentamos os pequenos córregos que vão para os rios e para as grandes represas do Brasil.
Quais têm sido as principais dificuldades de preservar essas fontes de águas?
Estamos caminhando no sentido contrário e impermeabilizando todo e qualquer pedaço possível do DF. Ao todo, temos mais de 40 mil poços artesianos, que são um veneno para as nascentes. Esses aspectos também teriam que ser levados em consideração. Não só manter as água que nascem dos olhos d'água, como também dificultar a abertura de poços artesianos, antes de ser feito um estudo profundo de quanta água esse poço vai tirar.
Quais são as expectativas para o resultado desse projeto?
Temos um sistema complexo composto por água, solo, ar e calor, e esses elementos funcionam ao mesmo tempo. Se eu mexo na água, estou mexendo no solo, no ar e no calor. Se eu mexo no solo para produzir sem pensar na água, estou criando problemas para a água e, assim, o ecossistema inteiro reclama. Por isso, essa pesquisa, a meu ver, chega em um bom momento, desde que seja para tomar as devidas medidas, que são tardias, para proteger o Cerrado do Distrito Federal. Torço muito para que essa pesquisa traga resultados realmente dignos das necessidades do DF.
Três perguntas para
Eugênio Giovenardi, ambientalista e ecossociólogo
Qual a importância de preservar essas Áreas
de Proteção de Mananciais
do DF?
Considero que seja muito necessária a avaliação desses mananciais que ainda nos restam. Se não tivermos boas bases, por exemplo, como as nascentes, não teremos rios e águas saudáveis. Por isso são importantes os processos de retenção da água da chuva. Dizia-se que Brasília teria aproximadamente 4 mil nascentes na época da construção da cidade e agora o Ibram (Instituto Brasília Ambiental) nos diz que existem por volta de 1.000 espalhadas, mas que apenas 700 delas foram realmente identificadas. Essa pesquisa deve ter o objetivo de preparar o Distrito Federal para reter as águas da chuva. Porque, se não houver a retenção das águas, todos esses estudos e essas avaliações darão em nada, vão servir para encher gavetas de instituições públicas. Quando retemos a chuva, restabelecemos a vazão das nascentes, por um lado, e por outro lado, alimentamos os pequenos córregos que vão para os rios e para as grandes represas do Brasil.
Quais têm sido as principais dificuldades de preservar essas fontes de águas?
Estamos caminhando no sentido contrário e impermeabilizando todo e qualquer pedaço possível do DF. Ao todo, temos mais de 40 mil poços artesianos, que são um veneno para as nascentes. Esses aspectos também teriam que ser levados em consideração. Não só manter as água que nascem dos olhos d'água, como também dificultar a abertura de poços artesianos, antes de ser feito um estudo profundo de quanta água esse poço vai tirar.
Quais são as expectativas para o resultado desse projeto?
Temos um sistema complexo composto por água, solo, ar e calor, e esses elementos funcionam ao mesmo tempo. Se eu mexo na água, estou mexendo no solo, no ar e no calor. Se eu mexo no solo para produzir sem pensar na água, estou criando problemas para a água e, assim, o ecossistema inteiro reclama. Por isso, essa pesquisa, a meu ver, chega em um bom momento, desde que seja para tomar as devidas medidas, que são tardias, para proteger o Cerrado do Distrito Federal. Torço muito para que essa pesquisa traga resultados realmente dignos das necessidades do DF.
Gostou da matéria? Escolha como acompanhar as principais notícias do Correio:
Dê a sua opinião! O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores pelo e-mail sredat.df@dabr.com.br