A discussão sobre a importância do legado do artista plástico símbolo de Brasília ganhou força nas últimas semanas, após a Secretaria de Cultura e Economia Criativa (Secec) convocar audiência pública para discutir a concessão de um terreno para a sede da Fundação Athos Bulcão (FundAthos), cuja missão é preservar e divulgar sua obra. O encontro será hoje, às 11h, no auditório do Museu Nacional da República. Para que se tenha ideia do que é esse patrimônio que ultrapassa as fronteiras do Brasil, o Correio elaborou um roteiro que passa por alguns lugares da cidade onde o brasiliense vê de perto as criações do mestre.
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"É difícil dizer o local com a maior concentração de obras de Athos Bulcão no Distrito Federal. São 260 espalhadas pela cidade", informa Valéria Cabral, secretária executiva da FundAthos, lembrando que ele participava ativamente de projetos de arquitetos como Oscar Niemeyer e João Filgueiras (Lelé), outros dois protagonistas da construção da capital. "Quando ele fazia essa integração da arte com a arquitetura, ele fazia o estudo de cores", explica.
O arquiteto Haroldo Pinheiro trabalhou com Athos Bulcão e Lelé. Ele diz que Athos, por meio da sua arte única, desempenha um papel fundamental na harmonização de conceitos de "urbs" (aspecto físico da cidade) e "civitas" (cidade como um corpo político e social), termos abordados por Lúcio Costa na apresentação da sua proposta vencedora do Concurso de Brasília (que selecionou o projeto urbanístico da capital) e destacados no parecer do júri.
"A colaboração de Athos com Lúcio Costa, Oscar Niemeyer, Lelé e tantos outros arquitetos resultou em um legado de obras-primas atemporais, que enriquecem a identidade e o espírito da cidade", aponta Haroldo. "A integração das artes na arquitetura revela a sensibilidade de um povo e de seu tempo, refletida em espaços visualmente agradáveis, culturalmente ricos e funcionalmente significativos", complementa.
Confira abaixo locais que abrigam algumas das centenas de obras de Athos Bulcão e, na sequência, uma galeria de fotos desses espaços:
Congresso Nacional
É um dos locais com maior concentração de obras de Athos Bulcão. São 12 trabalhos distribuídos nos salões, plenários, paredes e tetos do Senado e da Câmara Federal. Uma delas é o Muro Escultórico, de 1976, esculpido em madeira laqueada verde, no Salão Verde da Câmara dos Deputados. A obra, alvo de vandalismo durante os atos democráticos de 8 de janeiro de 2023, foi restaurada pelo setor especializado na preservação do patrimônio da Casa.
Igrejinha
A Igreja Nossa Senhora de Fátima, na EQS 307/308, tem os azulejos mais famosos de Brasília, com motivo que virou símbolo da cidade. Também são de autoria de Athos os objetos litúrgicos encontrados no interior do templo, que foi construído em um período de 100 dias, a pedido de Sarah Kubitschek, como agradecimento pela cura da filha, Márcia, que sofria de um problema na coluna. A Igrejinha, como é conhecida, foi inaugurada em 1958.
Palácio do Itamaraty: a sede da diplomacia brasileira também é repleta de obras de Athos Bulcão. São azulejos, painel em relevo no mármore e até a paginação do piso também é de autoria do artista de Brasília. No local, a arte de Bulcão dialoga com a arquitetura de Niemeyer e com o paisagismo de Burle Marx. Um dos destaques é a treliça em madeira e ferro pintado, que permite a comunicação entre diferentes ambientes, lembrando uma das razões de existir da diplomacia. A obra é de 1967.
211 Norte
Athos Bulcão está presente em contextos do cotidiano, como o pilotis do Bloco K da quadra 211 Norte, à beira do Eixo L, revestido por seus famosos azulejos. “Conhecendo mais da história de Brasília, sempre vi muito esse nome (Athos Bulcão) em todo lugar e ficava me perguntando quem era. Coincidentemente, vim morar em cima de uma obra dele”, diz a técnica em saneamento Suely Cavalcante, 63 anos, que mora em Brasília há dois anos.
Brasília Palace Hotel
Azulejos revestem uma das paredes do primeiro hotel de Brasília. O que muitos não sabem é que o espaço, inaugurado em 1958, abriga um dos dois únicos murais de Athos Bulcão em todo o mundo, localizado no salão que leva o nome do artista. A pintura mural sobre alvenaria tem 3,25 metros de altura e 26 metros de comprimento, e também data de 1958. O outro mural existente de Athos está no teto da capela do Palácio da Alvorada, inaugurado no mesmo dia do Brasília Palace.
Edifício Denasa
Quem passa pelo Setor Comercial Sul pode, facilmente, ver mais um dos belos painéis de Athos, em relevo de concreto e chapas metálicas, pintado na cor vermelha. Esse trabalho é de 1975 e fica em frente à entrada do edifício, área de livre circulação de pedestres.
Parque da Cidade
Um dos destinos favoritos do brasiliense nos fins de semana e feriados, o Parque da Cidade conta com a contribuição de Athos em sua estrutura. As 16 paradas de serviço do espaço, onde ficam os banheiros e pontos de descanso, são revestidas por um padrão único de azulejos de autoria do artista.
Supremo Tribunal Federal (STF)
No plenário da mais alta Corte do Judiciário brasileiro, pequenos nichos triangulares, idênticos, escavados no painel de mármore bege, reforçam que todos os homens são iguais. No nicho maior, foi colocado o Cristo Crucificado, de Alfredo Ceschiatti.
Para além da capital
Há obras do mestre por todo o Brasil, como nos estados do Rio de Janeiro, Bahia, Ceará, Sergipe, Minas Gerais e Piauí, e em outros países, entre eles, Argentina, Argélia e Itália. As imagens podem ser vistas na galeria virtual da Fundação Athos Bulcão (fundathos.org.br).
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