Legado afetivo: pais levam filhos a lugares que frequentaram quando crianças

Adultos que cresceram em Brasília revivem suas infâncias em locais iconônicos apresentado-os a seus filhos e netos

O Casal Jackson e Erica da Silva levando a pequena Lara Hercília pela primeira vez ao Parque Ana Lídia. ELES PRETENDEM LEVAR TAMBÉM AO ZOO -  (crédito: Luiza Marinho/CB/D.A Press)
O Casal Jackson e Erica da Silva levando a pequena Lara Hercília pela primeira vez ao Parque Ana Lídia. ELES PRETENDEM LEVAR TAMBÉM AO ZOO - (crédito: Luiza Marinho/CB/D.A Press)

Brasília, com seu urbanismo icônico e paisagens singulares, é mais do que a capital do Brasil. A cidade é um palco de histórias afetivas que se entrelaçam por gerações. Pais e mães, que um dia foram crianças correndo pelos parques e explorando o quadradinho, hoje perpetuam essas memórias com seus filhos. Desses espaços, destacam-se o Parque Ana Lídia e o Jardim Zoológico. O Correio ouviu relatos de pessoas que mantêm vivas as tradições nesses pontos emblemáticos.

O Parque Ana Lídia é um lugar mágico onde o riso dos pequenos preenche o ar. Alfeu de Oliveira Filho, 45 anos, tem lembranças dos passeios de domingo com seu pai. "Assim como ele, sou apaixonado pela minha cidade. E estar no parque me faz sentir, de fato, em Brasília. Ele gostava muito de nos levar para termos esses momentos, seja na Água Mineral além de outros locais em Brasília, cidade que ele amava", relembra Júnior.

Agora, Júnior leva a filha, Maria Fernanda, 10, para reviver aqueles dias. "Ela foi a primeira vez ao parque com 1 ano de idade, para uma sessão de fotos. Sempre é muito especial vir aqui e viver isso com ela, pois não tem como não lembrar de quando eu era pequeno. Acho que é algo que também vai ficar marcado para ela". Alfeu costuma compartilhar com Maria Fernanda histórias de quando visitava o local com seu pai. "Ela não conheceu o avô, então, sempre tem curiosidade", diz.

Conexão

A história da professora Flávia Pinheiro, 52, mineira de Belo Horizonte, também é interligada ao Ana Lídia. "Meus avós maternos vieram para cá no início da construção de Brasília. Na infância, minhas férias foram aqui em Brasília — no Parque da Cidade, em clubes, no shopping, nos gramados das quadras, onde brincava. Na adolescência, minha mãe decidiu que iríamos morar em Brasília. Aqui casei e tive dois filhos", recorda. "Ia muito com minhas tias no parque. Amava brincar no foguete, era uma diversão quando fazíamos o passeio. Meus avós moravam na 312 Norte. Pegávamos um ônibus na W3 e, depois, subir a pé até o parque era uma diversão", completa. 

Agora, com os filhos adultos, percebe que ambos gostam de passear por lá. "Eles ainda frequentam o Parque da Cidade. Amam correr e fazer caminhadas. Gosto de contar para eles que eu também fazia isso. Assim, vão criando laços, vínculos afetivos, uma identificação com o espaço e com a cidade", destaca. "Acho que quando nós trazemos isso para a rotina, essas lembranças nos conectam com nossas raízes e com o nosso próprio crescimento. É bom voltar e ver que você teve uma história naquele espaço e que você pode repassar isso para futuras gerações", reflete. 

Meio ambiente

Pela primeira vez, Erica da Silva, 38, leva a filha mais nova, Lara, 2, para conhecer o Parque Ana Lídia. Ela sempre adorou Brasília, desde pequena, e quer mostrar as belezas e atrações da capital para Lara. "É legal trazer as crianças para cá, é um ponto turístico pouco valorizado", comenta.

Mas o lugar favorito de Érica quando criança era o Jardim Zoológico de Brasília. Em breve, vai apresentar os animais para Lara. "Amava o Zoo e espero passar esse sentimento para ela", adianta a chefe de cozinha.

  • Flávia e os filhos ainda gostam de sentir o ar  livre do Parque da Cidade
    Flávia e os filhos ainda gostam de sentir o ar livre do Parque da Cidade Arquivo pessoal cedido ao Correio
  • Flávia com seus filhos Caio e Tomás atualmente
    Flávia com seus filhos Caio e Tomás atualmente Arquivo pessoal cedido ao Correio
  • Alfeu e o pai no Ana Lídia, em 1982, e sua filha, Maria Fernanda, anos depois
    Alfeu e o pai no Ana Lídia, em 1982, e sua filha, Maria Fernanda, anos depois Arquivo pessoal cedido ao Correio
  • Maria Fernanda com um ano de idade no mesmo balanço que seu pai brincava quando criança, no Parque Ana Lídia
    Maria Fernanda com um ano de idade no mesmo balanço que seu pai brincava quando criança, no Parque Ana Lídia Material cedido ao Correio
  • Erika aos 32 anos com seu filho Pedro, na época com 9 anos no Zoológico de Brasília em 2000
    Erika aos 32 anos com seu filho Pedro, na época com 9 anos no Zoológico de Brasília em 2000 Arquivo pessoal cedido ao Correio
  • Erika revive a infância com sua neta Aurora, filha de Pedro no Zoológico de Brasília
    Erika revive a infância com sua neta Aurora, filha de Pedro no Zoológico de Brasília Luiza Marinho/CB/D.A Press

E Zoológico de Brasília é, sim, uma oportunidade de criar memórias que vão perdurar por anos. A advogada Erika Lenehr, 56, frequenta o espaço desde menina. "Amava brincar com minha irmã e meus primos nos imensos gramados do Zoo, além de ver os elefantes, os quais sempre adorei. Sempre levei meus filhos, Bruna e Pedro, para visitá-lo. É muito gratificante você poder ir com seus filhos a um local importante da sua infância, onde você também brincou", ressalta.

Com os filhos adultos, a moradora do Lago Norte faz os passeios com uma família maior. "Ir ao Zoológico na companhia das minhas netas é fantástico. É uma sensação de amor muito grande, é o filho do teu filho, você vê a continuidade da tua existência. Ir na companhia das minhas netas e dos meus filhos, ver eles ali, brincando com seus filhos, é uma continuidade do legado", emociona-se. 

"Aprendi com os meus pais que a natureza deve ser respeitada, preservada em todas as suas formas. Passei isso aos meus filhos e hoje eu vejo eles passando isso para as minhas netas", complementa a advogada, em alusão ao Zoo.

*Estagiária sob a supervisão de Malcia Afonso

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Parque Ana Lídia

O espaço foi inaugurado em 1969, recebendo o nome de Iolanda Costa e Silva, esposa do presidente Artur da Costa e Silva. Posteriormente, foi rebatizado em homenagem à menina assassinada em 1973, crime não solucionado até hoje. Em 1978, houve a criação do Parque da Cidade e o Ana Lídia passou a fazer parte dele.

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Fundação Jardim Zoológico

Antecede a fundação da própria cidade — pois começou as atividades em 1957. Foi a primeira instituição com finalidade ambiental criada no DF.

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postado em 14/07/2024 00:01 / atualizado em 14/07/2024 01:00
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