No anexo do Museu da República, é possível vivenciar uma imersão, com direito a areia nos pés, e apreciar esculturas produzidas por artesãs quilombolas em buriti e capim-dourado — planta tradicional do Tocantins, considerada rara em outras regiões do Brasil. A exposição Jalapoeira Apurada vai até domingo (7/7) e faz parte da segunda edição da Brasília Design Week, que segue até 11 de julho.
Segundo o Relatório Anual do Desmatamento no Brasil (RAD), em 2023, o Cerrado ultrapassou a Amazônia em termos de área desmatada. Para o designer Marcelo Rosenbaum, parceiro das artesãs na exposição, foi essencial dar evidência a esse fato no projeto. "Estar em Brasília, a capital do Cerrado, é uma grande alegria, ainda mais para mostrar um trabalho que também fala sobre a preservação desse bioma que, infelizmente, é o mais devastado do Brasil", afirma.
A proposta da coleção foi utilizar os mesmos materiais e técnicas que as artesãs já usavam no dia a dia, porém, em grandes proporções para trazer novos produtos e encontrar outros mercados. "Buscamos construir uma identidade que partisse das suas memórias com o capim-dourado e motivá-las a falar neste lugar de conhecedoras desse universo amplo de arte e de resistência na luta pelo território", explica Marcelo.
O designer avalia que as peças carregam memórias e contam histórias de um saber ancestral passado de geração para geração, remetendo a valores como coletividade, senso de pertencimento e ancestralidade. "O início do projeto se deu com a ida até as três comunidades para perguntar o que elas queriam passar com as peças, saber qual era a ideia dessas mulheres. Entendemos que se tratava de um exercício de escuta, para trazer o protagonismo das mulheres quilombolas e exaltar esse saber fazer manual que é uma arte ancestral", contextualiza, acrescentando que o objetivo foi amplificar essas vozes e fazer com que o maior número de pessoas conhecessem as quilombolas.
Pertencimento
O nome do projeto remete à reivindicação pela autoria quilombola do artesanato do capim-dourado e ao orgulho de pertencer ao Jalapão. A força da união das mulheres quilombolas em prol da conservação do Cerrado dita a iniciativa das peças e da exposição.
"Brasília inspira e expira criatividade. Não há como andar pela cidade sem se deparar com uma grande obra ou expressão artística. É preciso que nossa cidade abrace o design como caminho para seu desenvolvimento sustentável", avalia Caetana Franarin, empreendedora e idealizadora da iniciativa. "O projeto se inspira este ano na economia circular, conceito que pensa em produtos que sejam ambientalmente responsáveis em todos os seus estágios, desde os métodos e insumos escolhidos na sua fabricação até as possibilidades de reciclagem no pós-uso", completa.
Catharina Macedo é arquiteta e acompanhando as atividades propostas na programação, que incluem palestra com Marcelo Rosenbaum. "Ele fez o convite para vermos a mostra, e eu vi como uma oportunidade de contemplar e homenagear os designers brasilienses que estão expondo no Museu Nacional da República, para a gente reconhecer o que há de bom no nosso país e valorizar o que existe na nossa cidade", compartilha. Para ela, as ações contribuem no sentido de ampliar o consumo da arte local.
Um dos visitantes do evento foi o bispo auxiliar da arquidiocese da Paraíba, Alcivan Tadeus. Em Brasília, para um evento da Conferência Nacional de Bispos no Brasil (CNBB), que coincidiu com a data da exposição, ele aproveitou a oportunidade de apreciá-la. "Há tempo essa exposição ocorre. Eu tinha me interessado justamente pela vontade de ver pessoalmente a beleza dessa técnica tão rica de tecer", contou.
*Estagiárias sob a supervisão de Malcia Afonso
Saiba Mais
Gostou da matéria? Escolha como acompanhar as principais notícias do Correio:
Dê a sua opinião! O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores pelo e-mail sredat.df@dabr.com.br