Da mesma forma que os moradores de Washington D.C. (EUA) e da Cidade do México têm ligação afetiva com a águia — símbolo nacional — e, para os de Santiago (Chile), o condor possui valor semelhante; no Distrito Federal, os candangos contam com uma ave para chamar de sua — e de conterrânea: o tapaculo-de-brasília (Scytalopus novacapitalis). A espécie foi descoberta em 1958, durante as obras de construção da futura capital federal, por Helmut Sick, ornitólogo e naturalista alemão naturalizado brasileiro. Ele batizou o passarinho em homenagem à cidade que estava nascendo. Atualmente, o também chamado macuquinho-de-brasília, antes muito encontrado no Jardim Botânico e na Floresta Nacional, está desaparecendo e se encontra em perigo de extinção. A degradação do Cerrado, especialmente das matas de galeria, seu habitat natural são uma ameaça a sua existência.
O tapaculo-de-brasília tem como características 11 cm de tamanho, cor cinza-chumbo, cauda comprida e empinada, cabeça grande e corpo arredondado. Ele gosta de viver no interior sombreado e úmido da vegetação à beira de rios. E, ao contrário da maioria das aves, não constrói ninhos no alto de galhos e copas de árvores. Vive no solo, em tocas cavadas no chão. Praticamente não voa, move-se com saltos curtos. E sua vocalização não é trinada ou gorjeada. Emite um som agudo e forte, numa sequência monótona e constante de piados finos, quase metálicos.
Em comparação à maioria as aves brasileiras, o Scytalopus novacapitalis que tem exigido muito empenho de cientistas para ser estudado em detalhes. Isso se deve ao fato de ser encontrado em locais remotos, em pequenas áreas de chapadas e planaltos, entre Brasília e a Serra da Canastra, no Triângulo Mineiro. Ele tem relevância para a ciência por se tratar de uma ave nativa do Cerrado, o que o torna uma espécie "bandeira" para projetos de conservação desse bioma.
Ameaça
Atualmente, o macuquinho-de-brasília — outro nome do emplumado candango — parece haver desaparecido de quase todas os lugares em que era achado, só visto com certa regularidade na Fazenda Água Limpa. Segundo Freitas, o autodidata, apesar do gentílico que relaciona a ave à capital federal, ela aparece de modo muito restrito no DF. De acordo com o pesquisador, é possível que ele ainda esteja na reserva ecológica do IBGE e nas áreas do Parque Nacional. "Elas são fechadas até mesmo para pesquisas científicas. Sem autorização não temos acesso a possíveis territórios no interior dessas unidades de conservação. Por um lado, isso é bom para a espécie, mas, ao mesmo tempo, o desconhecimento nos impede de saber a real situação do indivíduo", observou.
Para Freitas, a espécie pode estar sendo afetada pelas mudanças climáticas em diferentes níveis. Pequenas alterações no microclima das matas de galeria, assim como no macroclima do Cerrado, provocadas pelo aumento das temperaturas no Planalto Central e por menos geadas e invernos rigorosos, antes comuns no DF, devem estar sendo negativas ao bichinho
De acordo com o pesquisador, ainda não se sabe se o pássaro, que aparentemente abandonou as áreas em que vivia, voltará algum dia, espontaneamente. "Nós ainda podemos agir para impedir que novos territórios sejam perdidos", considerou. Por ser bastante exigente e sensível, do ponto de vista ecológico, o tapaculo-de-brasília necessita de matas de galeria conservadas, e ricas em umidade, sombreamento, densidade e altura da vegetação.
O pequeno pássaro brasiliense, que é considerado um símbolo do Cerrado, atualmente, necessita de ajuda para ter protegido, integralmente, o seu habitat natural. Assim, poderá evitar ser extinto e seguir como um dos primeiros "moradores" do DF. "Ele é um remanescente. Uma relíquia que precisa continuar sendo um testemunho dessa história", enfatizou Freitas.
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