ENTREVISTA

Faixa de pedestre será Patrimônio Cultural Imaterial do DF

No CB. Poder, o secretário de Cultura, Cláudio Abrantes, anunciou que, em agosto, haverá um grande evento para reconhecer a faixa de pedestre como um bem cultural da capital. Ele lembrou que a cultura do respeito à faixa começou em uma campanha lançada pelo Correio Braziliense, nos anos 1990

Em entrevista ao CB.Poder — parceria entre o Correio e a TV Brasília — desta quarta-feira (26/6), o secretário de Cultura e Economia Criativa (Secec), Cláudio Abrantes, anunciou, com exclusividade, que a faixa de pedestre será Patrimônio Cultural Imaterial do Distrito Federal. "Além do reconhecimento, isso impõe ao Estado um plano de salvaguarda, uma série de ações com vistas a preservar esse jeito que realmente é cultural do brasiliense", disse Abrantes, que lembrou que a cultura de respeito às faixas de pedestre começou em uma campanha lançada pelo Correio Braziliense, nos anos 1990. 

O secretário também falou de mudanças no método de gestão de equipamentos culturais da capital, com parcerias com prazos mais prolongados. "Todos os nossos contratos são de três anos. Isso dá mais tranquilidade para a secretaria, há um planejamento orçamentário. E, para aquele que vai ser o co-gestor, vai poder fazer captações e parcerias", detalhou. 

Os jornalistas Carlos Alexandre de Souza e Sibele Negromonte também perguntaram sobre as ações da pasta em relação ao circuito de quadrilhas juninas do DF, que têm ganhado destaque nacional. 

Qual a novidade sobre a faixa de pedestre? 

A novidade é que concluímos o processo dentro do Conselho de Defesa do Patrimônio Cultural do DF (Condepac), órgão vinculado à Secec, que determina o que é patrimônio cultural ou não e, na próxima reunião será sacramentado, semana que vem, que a faixa de pedestre será declarada Patrimônio Cultural Imaterial do DF. Além do reconhecimento, isso impõe ao estado um plano de salvaguarda, uma série de ações com vistas a preservar esse jeito que realmente é cultural do brasiliense. Por onde a gente vai, sempre estamos respeitando a faixa ou pedindo para passar na faixa, algo que se tornou parte da cultura do brasiliense.  

O que é muito interessante, porque é algo que é um elemento de segurança e virou algo cultural. 

Essa noção da faixa de pedestre surgiu de uma campanha lançada pelo Correio Braziliense, em 1996, e avançou. Eu duvido que tenha alguma cidade com tanta relação com a faixa de pedestre. As pessoas cobram faixa de pedestre perto de casa, perto da escola. Quando não estão devidamente pintadas, cobram dos órgãos competentes a reforma. A nossa ideia é tão logo seja publicada no Diário Oficial do DF (DODF), o que não deve demorar, é chamar a comunidade para celebrar esse momento importante, não só por causa do título, mas para manter isso, porque é um política pública que virou cultural do brasiliense. É interessante, porque a faixa de pedestre passa a ser um ícone, assim como as placas de sinalização. Nada impede que um dia as faixas sejam expostas em museus com as características específicas de Brasília. Isso entra no plano de salvaguarda, ou seja, uma série de ações que o Estado precisa desenvolver para preservar esse ícone, essa cultura e ter isso agregado às ações da Secec e de outras secretarias. 

Quais outros espaços ou eventos são considerados bens imateriais no DF?  

Nós devemos ter 12 ou 13 bens. Por exemplo, a Via-Sacra de Planaltina, a Festa do Divino de Planaltina, além da Aruc, dos acervos de Cláudio Santoro e de Anísio Teixeira e o Festival de Cinema de Brasília. Recentemente, o Fuá do Seu Estrelo também foi contemplado com o reconhecimento. É um processo bem rígido, não é uma mera declaração. Passa por relatórios e técnicos para ver se aquele bem realmente está inserido dentro da cultura do brasiliense. 

Na verdade, isso traz mais responsabilidade, certo? 

A ideia do reconhecimento é fazer com que o Estado promova ações de preservação, manutenção e salvaguarda de todos os elementos que estão dentro do processo. Dentro da investigação que é feita dentro dos conselhos, a gente não tem notícia de uma cidade que tenha uma relação tão forte com a faixa de pedestre como o brasiliense. Com tudo isso publicado, queremos fazer uma grande festa, em agosto, para celebrar o título e manter viva essa relação que o brasiliense tem com a faixa de pedestres. 

As quadrilhas juninas do DF têm ganhado forte projeção nacional, tendo até um ritmo próprio daqui. Como o governo tem tratado essa questão?

Nós temos uma legislação específica, que inclui o circuito junino. Hoje temos 12 etapas, em 10 cidades diferentes. Veja que é algo bem diversificado e bem descentralizado, e cada etapa são três eventos: uma sexta, sábado e domingo.  Então, estamos falando de 36 eventos até o fim de julho. São 55 ou 56 quadrilhas envolvidas, de três ligas que trabalham com festejos juninos em Brasília, das quais tiramos as campeãs. É interessante que, aqui no DF, temos várias campeãs nacionais. Ao longo desse processo, a gente vai ter quadrilhas que vão sair de Brasília e vão para Campina Grande (PB), Caruaru (PE) e Tocantins. Fizemos um investimento muito alto. Só para se ter ideia, o circuito de quadrilhas juninas gera, minimamente, algo de 2 mil empregos diretos e indiretos até o fim de julho. É um envolvimento gigantesco, que faz girar o vetor econômico que a cultura tem. A cultura é uma ação governamental que traz retorno financeiro. Temos um estudo bem consistente da Universidade Católica, que virou um mestrado em economia criativa, cujos indicadores mostram que cada real investido em cultura retorna para o cofre do Estado algo em torno de três ou quatro vezes mais. É altamente rentável. 

Assim como acontece com as escolas de samba do Rio de Janeiro, que se preparam o ano inteiro para o desfile, no caso das quadrilhas essa movimentação deve ocorrer o ano inteiro também.

Isso é uma realidade e o nosso desafio, conversando com essas instituições, é dar apoio a quem faz os festejos juninos, não só nesse período. Hoje a gente adotou uma metodologia na Secec de antecipar processos. Nós estamos discutindo desde março o carnaval de 2025. Assim que acabar os festejos juninos, vou dar 15 dias de descanso e vamos discutir o circuito do ano que vem. Essa discussão envolve os melhores formatos de atuação e financiamento, parte muito importante, porque os recursos do Estado são finitos. A gente tem adotado essa lógica de parcerias com instituições privadas, de fortalecimento da Lei de Incentivo à Cultura. 

Como será a parceria para o Cine Brasília nos próximos três anos? 

Essa parceria de três anos facilitou bastante para a secretaria. Teremos um parceiro alinhado com a política pública, que é ditada pela secretaria. A gente não terceiriza o Cine. É um plano de trabalho, que dá efetividade ao Cine Brasília. Hoje, são três filmes por dia, de manhã, de tarde e de noite. A gente também tem relação com embaixadas e outras instituições e preços populares. A inteira é R$ 15 e a meia é R$ 7,50, uma determinação da secretaria. Essa parceria que a gente tem, também dá a liberdade de abrir o Cine para outras programações, como saraus e exposições, e faz esse trabalho conosco, o que seria uma dificuldade que o Estado tem para fazer esse tipo de gestão. O Cine ficou fechado por aproximadamente 70 dias, durante os quais conseguimos fazer uma reforma bem eficiente, inclusive com a entrega de uma tela em 4k. A gente está em processo de aquisição de um projetor a laser, que vai permitir, por exemplo, exibições 3D. Estamos colocando o Cine no patamar das melhores salas do país, sem falar da beleza. É um ícone da cultura do DF e do país, porque lá, também, tem o festival de cinema mais antigo do Brasil. 

O que pode ser antecipado sobre o Festival de Cinema deste ano? 

Nós fizemos um processo de seleção da instituição que vai nos ajudar no Festival de Cinema, nesse modelo de três anos. Por que esse modelo? Primeiro, porque ele dá continuidade. Quando eu cheguei na secretaria, eu fiquei assustado, porque todo dia saía uma notícia no Correio e em outros órgãos sobre a preocupação da comunidade cultural, questionando se o Cine Brasília fecharia, se teria Festival de Cinema ou se teria carnaval. Isso gerava, na sociedade, uma instabilidade muito grande. Agora, a gente sabe que tem um contrato de três anos. O contrato é muito bem estipulado. Este ano, o festival vai ser em outubro, mas, a partir do ano que vem, acontece na época que sempre aconteceu, que é em setembro, época dos ipês e de um pôr do sol extraordinário da nossa cidade e das grandes festas. 

Quando o senhor vai dar a boa notícia sobre o Teatro Nacional? 

Eu tenho a boa notícia, mas eu tenho, por dever e responsabilidade, deixar que o governador Ibaneis dê essa boa notícia. Ele, sim, é o grande artífice e incentivador desse processo. Temos que salientar que o Teatro Nacional foi fechado em 2014, ou seja, há três governos, por uma recomendação do Ministério Público, por questões de acessibilidade e de segurança. Os materiais da década de 1960 eram extremamente tóxicos e inflamáveis e foi feito um processo de seleção para contratar uma empresa que fizesse todo esse projeto. O governador Ibaneis vai fazer um anúncio de como vai ser esse cronograma. Essa saudade do Teatro Nacional, que todos nós sentimos, a gente vai começar a matar em breve.

Veja a entrevista na íntegra:

 

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