A exposição de artes plásticas Oltreoceano, 150 anos de arte ítalo-brasileira será aberta quarta-feira (26/6), no Salão Negro do Congresso Nacional. A mostra, que se encerrará em 14 de julho, celebra os 150 anos da imigração italiana ao Brasil com pinturas, esculturas e móveis criados por autores com vínculos em ambos países. Com peças de Alfredo Volpi e Anita Malfatti, entre outros, terá quatro telas de Cândido Portinari que jamais foram apresentadas ao público. Elas foram cedidas pela Embaixada da Itália, que as encomendou com exclusividade ao pintor.
A montagem da exibição segue formato de linha do tempo. Ela se inicia narrando a chegada do navio La Sofia ao litoral do Espírito Santo, em 1874. Na embarcação, estavam 388 italianos que vieram com o objetivo de se instalar, prosperar e ajudar a desenvolver o maior país da América Latina. O episódio marcou o começo em massa dessa imigração, que trouxe pessoas com talentos e habilidades que entraram para a história e arte nacionais. Essas contribuições são o fio condutor do percurso criado pelo curador Marcelo Gonczarowska, ex-diretor do Museu de Arte de Brasília (MAB).
A exposição ressalta como artistas italianos e seus descendentes fizeram parte da construção da identidade e da cultura do Brasil. Segundo Gonczarowska, não há, efetivamente, arte brasileira sem a contribuição da Itália. Para o curador, a vinda para a América do Sul não significou, apenas, uma alteração nas vidas daquelas pessoas, mas momento importante para a evolução de toda a nossa nação.
Ineditismo
Em cavaletes de cristal criados pela arquiteta italiana Lina Bo Bardi para o Museu de Arte de São Paulo (Masp), Oltreoceano apresenta pinturas, gravuras, esculturas e objetos de arte que pertencem a seis coleções diferentes. Os visitantes poderão admirar obras raras, como os quatro painéis de Candido Portinari. A representação diplomática italiana em Brasília autorizou que cruzassem, de forma inédita, as portas da sua elegante sede, no Setor de Embaixadas Sul, com destino ao Senado, onde poderão ser apreciadas.
De acordo com Gonczarowska, é um privilégio para o público de Brasília ver esse trabalhos de Portinari, feitos em meados da terceira década do século passado. Em 1934, o Rio de Janeiro era a capital federal, e o governo da Itália encomendou as pinturas para decorar salas do palacete onde ficava sua embaixada. "O que Portinari fez foi transformar essas obras em reflexos da natureza do Brasil. Elas vieram do Rio direto para a Embaixada e nunca saíram. Ficam espalhadas, em salões diferentes (da embaixada) e estão sendo reunidas nesta exposição para ficarem na mesma parede", contou o curador.
O atual embaixador da Itália no Brasil, Alessandro Cortese, disse ao Correio que está orgulhoso em poder apresentar ao público essas obras-primas. "Esta exposição é o símbolo tangível e vivo de como a cultura italiana contribuiu para a formação da cultura brasileira. O fato de estar exposta no prestigioso Salão Negro, no Congresso Brasileiro, lugar onde se concentra o poder democrático, ou seja, o poder do povo, me enche de orgulho", afirmou.
A exposição tem supervisão do governo da Itália, colaboração do Museu de Arte de Brasília (MAB) e cessão de obras por colecionadores privados. Os visitantes poderão conhecer também trabalhos de Aldo Bonadei, Alfredo Ceschiatti, Alfredo Volpi, Anita Malfatti, Eliseu Visconti, Fulvio Pennacchi, Glênio Bianchetti, Lina Bo Bardi, Mario Zanini, Sergio Romagnolo, Victor Brecheret.
Das coleções privadas na capital federal, destacam-se um quadro de Alfredo Volpi — entregue pelo próprio artista ao colecionador — e esculturas de Ceschiatti e Bruno Giorgi. Também há móveis projetados por Lina Bo Bardi, Scapinelli, irmãos Campana e uma Anita Malfatti. "Nesse meio da arte, precisamos conviver com colecionadores, artistas, galeristas, então eu sabia que conseguiria", festejou o curador.