INVESTIGAÇÃO

'Péssimo exemplo para a sociedade', dispara ex de delegado da PCDF

Medida protetiva da mulher contra delegado da Polícia Civil foi revogada pela Justiça. Vítima afirma que se Robson Cândido tentar aproximação, ela vai apresentar novas provas contra ele

A ex-namorada do ex-delegado-geral da Polícia Civil (PCDF), Robson Cândido, demonstrou bastante frustração com a decisão da Justiça em revogar as medidas protetivas dela contra o ex-número 1 da polícia.

À TV Brasília e ao Correio, a vítima disse que Cândido segue impune e, “até o momento, isso é um péssimo exemplo para a sociedade”. “Primeiro tiraram ele rapidamente da prisão, depois tiraram a tornozeleira eletrônica e agora tiraram minhas medidas protetivas”, desabafou.

A jovem salientou que o Habeas Corpus (HC) impetrado pela defesa do delegado traz à tona que há uma “intenção maliciosa” por parte da medida. “Se torna inútil tantas campanhas para a vítima de violência doméstica denunciar o agressor, se após a denúncia, a vítima fica desamparada e a mercê de homens desequilibrados”, afirmou.

“Quero aproveitar para expressar que, se Robson se aproximar de mim ou entrar em contato comigo, irei escandalosamente gritar por socorro, filmar as ações dele e também aceitarei todos os convites da imprensa para que eu me pronuncie. Se for o caso, revelarei detalhes ainda mais chocantes sobre o relacionamento que tive com Robson”, concluiu ela.

O Correio procurou a defesa de Cândido para obter posicionamento sobre a decisão da Justiça em revogar as medidas protetivas. O espaço fica aberto.

Revogação 

A revogação das medidas protetivas ocorreu na noite de quarta-feira (19/6). Na decisão, o desembargador do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios (TJDFT) Jansen Filho salientou que Cândido não é mais o número 1 da PCDF e, por isso, não há “motivo palpável que justifique a manutenção das medidas protetivas por mais tempo”. 

“Em outras palavras, no cenário atual, não há elemento concreto que aponte situação de risco à vítima, até porque a questão relacionada à visita dele a uma academia em endereço próximo ao local de trabalho dela restou esclarecida, não sinalizando, assim, situação de descumprimento da ordem de afastamento”, pontuou Filho. 

O magistrado assinalou que a decisão em primeira instância, que prorrogou por mais três meses as medidas protetivas em favor da vítima, carece de fundamentação idônea. Na ocasião, o delegado solicitou que as medidas fossem revogadas, já que ele pretendia frequentar uma academia de jiu-jitsu em Águas Claras, mas estaria impossibilitado de ir porque o local também é perto da residência da vítima.

O ex-delegado-chefe é réu por stalking (perseguição); violência psicológica; descumprimento de medida protetiva de urgência; interceptação telefônica ilegal; peculato, por três vezes; corrupção passiva; e violação de sigilo funcional. Ele teria supostamente utilizado a estrutura da polícia para vigiar a ex-namorada.

Relembre o caso

Robson Cândido está solto desde novembro do ano passado, após ficar quase um mês na carceragem da PCDF. O delegado aposentado deixou de usar a tornozeleira eletrônica em 27 de fevereiro, após o período de monitoramento de 90 dias ter expirado. 

Com a nova revogação da medida, ele pode se aproximar da vítima – o que não ocorria antes.

Além do ex-delegado-chefe, responde aos crimes, após denúncia do Ministério Público, o delegado Thiago Peralva, ex-chefe da Delegacia de Polícia (P Norte). Ele é réu pelos crimes de stalking (perseguição); corrupção passiva, por três vezes; intercepção telefônica ilegal, por duas vezes; uso do sistema OCR do DER-DF por 30 vezes; uso do sistema Vigia, no âmbito da Operação Falso Policial, por 96 vezes; e uso do sistema Vigia, no âmbito da Operação Alcateia, por 58 vezes.

A denúncia é acerca de provas colhidas pelo MP, com novos elementos contra os dois delegados. Os promotores explicam, em 106 páginas, os crimes cometidos por Robson Cândido com ajuda do ex-chefe da 19ª DP, Thiago Peralva.

O documento aponta que, além de a vítima ter tido o número colocado em uma interceptação telefônica na 2ª Vara de Entorpecentes — a dupla “plantou” antes o número da jovem em uma investigação já encerrada que tramitava na 1ª Vara Criminal de Ceilândia.

Para explicar o porquê da consulta, Cândido disse a um dos delegados que o carro estava envolvido em um “esquema de estelionato relacionado a leilões”. O veículo era, na verdade, da ex-namorada dele. A mesma situação ocorreu, ao menos, outras cinco vezes. Em todas, o ex-delegado-chefe era municiado de informações colhidas pela DIPO com o sistema OCR do DER.

O ex-delegado-chefe também solicitou as informações de OCR a Peralva. Os promotores citam que, ao todo, Peralva acessou 30 vezes o sistema para obter informações sobre o deslocamento da vítima, principalmente na região onde ela residia, em Águas Claras.

O intuito era diminuir os pedidos de Cândido à inteligência, a fim de evitar exposições. O ex-chefe só conseguiu acesso ao sistema por meio de uma conta de outro policial civil, entre 20 e 29 de setembro. Dos 30 acessos, 24 foram realizados na própria residência de Peralva — sendo repassadas todas as informações da localização da vítima ao chefe.

Pesquisas

Um dos pontos revelados pelo MP na denúncia são pesquisas que Robson Cândido buscou na internet. No Google, o ex-delegado-geral pesquisou “crime de stalking”, “localizar ERB (Estação de Rádio Base) de celular”, “pesquisar OCR de carro”, “interceptação telefônica”, “uso de viaturas improbidade” e “passo a passo de processo de violência contra mulher”.

Os dados foram encontrados no aparelho apreendido do ex-chefe da corporação. Para o MP, as buscas “traduz-se em uma verdadeira confissão dos delitos já denunciados e expõe o nível de obsessão nutrido por Robson em relação à vítima e demonstram que os atos criminosos por ele praticados foram minuciosamente premeditados”.


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