ATHOS BULCÃO /

Fundação Athos Bulcão enfrenta dificuldades financeiras

Diante da falta de recursos, entidade que tem a missão de preservar o legado do artista plástico está fazendo uma campanha para arrecadar dinheiro. GDF fará audiência pública para a concessão de um terreno à FundAthos

Athos Bulcão é um dos protagonistas da construção da jovem capital do país. O impacto da obra do artista plástico, que morou em Brasília de 1958 até sua morte, em 2008, é tamanho que se tornou símbolo de Brasília. A Fundação Athos Bulcão vem preservando e divulgando o trabalho do mestre desde 1992. No entanto, a entidade enfrenta dificuldades financeiras para desenvolver atividades, que também incluem projetos de educação patrimonial, com palestras para estudantes e admiradores do artista do mundo todo. 

A atual sede da FundAthos fica na 510 Sul, em um imóvel alugado. Sua principal fonte de recursos é a lojinha de artigos com obras de Bulcão, como pratos, copos, canecas, serigrafias e molduras com azulejos. O acervo é de mais de 700 obras doadas pelo próprio Athos.

"É difícil uma fundação cultural sobreviver como a gente, sem apoio financeiro, por 32 anos", observa Valéria Cabral, secretária-executiva da FundAthos. "A pandemia desestabilizou os negócios da loja, que ainda não se recuperou totalmente", acrescenta. Ela destaca que a fundação paga todos os impostos como qualquer outro comerciante, mas, nos últimos meses, atrasou alguns. Valéria defende que a fundação tenha aporte orçamentário do Governo do Distrito Federal (GDF).

Artista da cidade 

"Toda cidade, normalmente, tem um grande artista, como Aleijadinho, nas cidades históricas de Minas Gerais; Mestre Valentim, no Rio de Janeiro; e Mário Cravo, em Salvador. Em Brasília, sem dúvida, esse artista é o Athos, que criou esses símbolos", observa Luiz Eduardo Sarmento, presidente do Instituto Arquitetos do Brasil do Distrito Federal (IAB-DF). O arquiteto enfatiza que a obra dele tem sido usada em roupas, utensílios e artigos de casa, revelando-se um símbolo cada vez mais potente de Brasília. 

"Athos é um dos protagonistas da construção estética da capital do país, que é patrimônio mundial, e é um privilégio ter obras dele disponíveis em espaços públicos da cidade", avalia. Sarmento sustenta que, se Athos ganhou notoriedade, boa parte é em razão da FundAthos, que, mesmo com poucos recursos, tem uma atuação de excelência. O legado de Athos Bulcão está por toda a cidade. Os azulejos são famosos e há trabalhos menos conhecidos, como a paginação do piso do Palácio do Itamaraty. 

Luiz Sarmento lembra que existe um projeto para a construção de uma sede para a fundação, assinado pelo consagrado arquiteto João da Filgueiras Lima. Mais conhecido como Lelé, ele assinou projetos como os hospitais da Rede Sarah, o Memorial Darcy Ribeiro, na UnB, e os edifícios Morro Vermelho e Camargo Corrêa, no Setor Comercial Sul. "Imagine se a fundação tivesse uma fundação feita por Lelé, em um endereço centralizado. Seria mais um ponto turístico e um centro cultural. Brasilienses e visitantes da cidade merecem esse reencontro póstumo entre esses dois gênios da cultura brasileira na capital do país", anseia o presidente do IAB-DF. 

Naum Giló -
Naum Giló -
Naum Giló -
Imagens concedidas por Haroldo Pinheiro -
Ed Alves/CB/DA.Press -

Uma casa para Athos 

O arquiteto Haroldo Pinheiro trabalhou com Athos Bulcão e com Lelé, que morreu em 2014. Para ele, a situação financeira da FundAthos demonstra a falta de zelo com a própria cidade. "Revela até mesmo a falta de senso de oportunidade de agentes públicos e privados com o nosso próprio patrimônio", afirma.

Em 2010, Haroldo ficou encarregado de apresentar o projeto da sede da Fundação Athos Bulcão para o GDF. O edifício seria erguido no Setor de Divulgação Cultural, na região do Eixo Ibero-Americano, no Eixo Monumental, mas a ideia nunca saiu do papel. 

Audiência pública

Ontem, a Secretaria de Cultura e Economia Criativa (Sesec) publicou no Diário Oficial (DODF) a convocação da população para audiência pública no intuito de tratar da concessão de um terreno, no lote 12 no Setor de Divulgação Cultural (SDC), para a Fundação Athos Bulcão. O encontro será em 12 de julho, às 11h, no Auditório do Museu Nacional da República. 

Questionada pelo Correio acerca da situação financeira da entidade, a Secec disse está "ciente da situação delicada" em que a Fundação Athos Bulcão se encontra.  "Pouco tempo atrás, fomos informados que a Fundação está negociando as dívidas que possui com o GDF, e acreditamos que a nova gestão tem as condições de trazê-la para uma realidade de sanidade financeira", prossegue a nota. A Secretaria informou ainda que está em contato próximo com a fundação no sentido de auxiliar a organização a encontrar saídas para a situação em que se encontra. 

Campanha 

Com o objetivo de continuar exercendo o papel fundamental de manter vivo o legado de Athos Bulcão na capital, a fundação está com uma campanha de arrecadação de fundos, por meio da plataforma Catarse — catarse.me/fundathos. É possível contribuir com valores que variam de R$ 15 a R$ 300.

 

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