A história de Santo Antônio, um dos mais populares do país, é rodeada por tradições populares e simpatias. Ontem, 13 de junho, considerada uma data especial no catolicismo, o Correio esteve no Santuário de Santo Antônio, na 911 Sul, para conhecer as histórias das centenas de fiéis que, tradicionalmente, visitam o local, seja para agradecer pelas bênçãos seja para pedir por novas graças. Muito além do título de casamenteiro, Santo Antônio é visto pelos devotos como provedor de fartura e, acima de tudo, intercessor de milagres. As preces vão desde relacionamentos à cura de doenças e ao êxito nas tentativas de gestação.
Tradição de família
Casados há 30 anos, a comerciante Marta Fontelles Rezende, 54, e o advogado Antônio Carlos Rezende, 59, frequentam o santuário desde que eram namorados. Tornou-se tradição sair do Sudoeste, onde moram, para assistir a celebração e buscar o pão abençoado para levar para casa. Marta herdou da família a devoção pelo santo e se diz testemunha das graças entregues. Por muito tempo, ela enfrentou dificuldades para engravidar, mas entregou seu maior desejo ao santo e, mais tarde, foi atendida por ele.
"Aqui, nós fizemos muitas trezenas para que eu conseguisse o dom da gravidez e nós, finalmente, alcançamos. Nossa filha nasceu e cresceu aqui (no santuário), cantando as musiquinhas do santo, e sempre nos acompanhando nas trezenas. Hoje, ela está com 16 anos e vem às missas com a gente sempre que pode. Nós já recebemos muitas graças", relatou a comerciante.
A família inteira é devota e os membros mantêm o costume de rezar juntos, herança de outras gerações. Marta contou que temia um dia se casar com alguém que não tivesse as mesmas crenças ou desejos que ela, então, pediu ao santo um esposo tranquilo e trabalhador. "Ela fez uma trezena para arrumar um marido e Santo Antônio a entregou um Antônio", brincou o advogado. Antônio explicou que se tornou devoto graças à esposa. "Santo Antônio sempre nos deu muita graça, é um santo de muita força pelo qual temos muita fé", afirmou.
- Devotos vão à missa para celebrar o dia de Santo Antônio
- Devotos relatam graças e mostram que Santo Antônio é mais que casamenteiro
Um amor de fé
O administrador de empresas Anismei de Oliveira, 47, saiu do Cruzeiro para ir ao Santuário assistir a celebração. Católico fervoroso desde a adolescência, ele contou que é um grande admirador da história do santo e definiu os pães abençoados como "milagres".
"Eu tinha bursite. Sofri por muito tempo com muitas dores no ombro, que me impediam de realizar tarefas simples, e eu alcancei a graça da cura por meio de Santo Antônio, há mais ou menos 10 anos", relatou. Anismei chegou cedo para a missa e contou que, além das graças relacionadas à saúde, este ano busca um relacionamento. Pediu ao santo que o reserve uma esposa religiosa que compartilhe as mesmas crenças e possa lhe dar filhos.
O frei Edgar Alves, pároco do santuário, explicou que os fiéis que frequentam as missas são devotos do santo e costumam passar o dia inteiro nas dependências da paróquia. "Eles vêm para rezar e pedir a intercessão de Santo Antônio junto a Jesus para que um milagre aconteça na vida dessas pessoas. É um momento de aprofundamento na fé na espiritualidade, as pessoas também vêm para agradecer pelas graças já obtidas. É uma data muito esperada."
A oportunidade de falar sobre sua fé é sempre um motivo de empolgação para Maria Bernardete. A aposentada, de 83 anos, deixou Brasília para morar em Teresina, mas está na capital a passeio e foi à missa a convite do casal de amigos Lívia Abreu Carvalho, 67, e Aden Testi, 75. "Eu entreguei cada uma das minhas filhas a um santo e a segunda recebeu a proteção, e ainda recebe, de Santo Antônio. Ela teve síndrome de Guillain Barré (distúrbio autoimune) duas vezes e conseguiu superar tudo sem nenhuma sequela, e isso, para mim, é um grande milagre. Mas há outros, por exemplo. Tudo que eu perco eu reencontro, sempre por meio das graças dele."
Maria Bernardete afirmou ter conseguido, em 1995, um apartamento por meio da fé no santo. "Meu filho é piloto de avião e morava em um apartamento ruim, com acesso dificultado. Então, a Lívia me trouxe neste santuário e eu ajoelhei e pedi que o santo ajudasse meu filho a conquistar uma moradia melhor. Na semana seguinte, conquistamos o apartamento que temos até hoje", celebrou.
No caso dos amigos de Maria Bernadete, a bênção foi do matrimônio. Na juventude, Lívia pediu um esposo, e é casada com Aden há 33 anos. Durante a entrevista, ela cobriu o esposo de elogios e agradeceu ao santo.
Os abençoados pãezinhos
A distribuição dos pãezinhos abençoados é um dos momentos mais aguardados pelos católicos. Os fiéis acreditam que o pão traz abundância para dentro de casa. O Frei explicou ao Correio como a tradição surgiu. "Santo Antônio tinha uma preocupação com a outra pessoa, então ele primeiro rezava, pois tinha uma vida de oração profunda, e depois ia para a parte prática, ou seja, a caridade, ele levava o pão que, além de alimentar o material, serve de alimento espiritual. O acolhimento que Santo Antônio fazia com as pessoas, alimentava-as e dava ânimo, depois de sua morte os padres continuaram com a tradição e, quando os portugueses chegaram ao Brasil, trouxeram essa devoção, que cresceu muito em nosso país e ainda hoje a gente segue com essa tradição", ensinou. A expectativa era que cerca de 30 mil pães seriam entregues ontem.
Ligia Castro da Silva, 77, e Marcos José da Silva, 78, são moradores da 710 Sul e vão à missa no dia de Santo Antônio há mais de 50 anos. Por volta das 10h, Ligia já tinha garantido os seus pães abençoados. "Gosto sempre de colocar dentro da lata onde guardo o arroz e o açúcar, porque esse é o pão da fartura. Em casa, nunca nos faltou nada." O casal contou que aproveita a oportunidade, todos os anos, para levar os pães aos filhos, netos e todos os parentes que não conseguem ir ao Santuário para assistir à missa.