Policiais da 9ª Delegacia de Polícia (Lago Norte) cumpriram, ontem, oito mandados de prisão e quatro de busca e apreensão em Ceilândia, Planaltina e no Novo Gama (GO) contra um grupo especializado no golpe da falsa agência bancária. O suposto líder da quadrilha, Wallyson Rodrigues de Oliveira, não foi encontrado pelos policiais e é considerado foragido da Justiça. De acordo com os investigadores, só um morador do Lago Norte sofreu um prejuízo de R$ 107 mil com a quadrilha.
Além dos alvos, a polícia conseguiu o bloqueio de 10 contas bancárias utilizadas nos golpes. As investigações revelaram que o grupo comprava na dark web planilhas contendo dados de milhões de pessoas, desde conta bancária, número de celular, endereço residencial, até o perfil socioeconômico. A partir dessas informações, os criminosos selecionavam vítimas de maior poder aquisitivo, preferencialmente idosas, e entravam em contato por telefone se passando pela central de segurança, inclusive, simulando na bina o verdadeiro número do banco.
Aproveitando-se da menor familiaridade das vítimas com as novas tecnologias, os criminosos afirmavam às pessoas que haviam sido detectadas transações fraudulentas em suas contas. Induzidas ao erro, as vítimas acreditavam que um verdadeiro funcionário do banco iria até a residência delas coletar materiais para "perícia". De posse de cartões e celulares, os golpistas realizavam saques, transferências e empréstimos fraudulentos.
As transferências e os saques eram efetuados rapidamente em caixas eletrônicos de agências no Entorno, onde parte do grupo criminoso operava para evitar que as contas fossem bloqueadas antes dos débitos. A polícia obteve imagens de diversos desses saques, revelando a dinâmica do delito e seus autores.
Uma das vítimas, um morador do Lago Norte, teve todas as suas reservas debitadas e sofreu um prejuízo de R$ 107 mil. De acordo com o delegado à frente do caso, Erick Sallum, nesse tipo de golpe os bancos geralmente se recusam a reembolsar as vítimas, o que torna os idosos mais vulneráveis.
"Os bancos se negam a fazer o estorno dos valores, pois as vítimas entregaram os cartões aos criminosos. Assim, temos pessoas idosas enganadas, sendo obrigadas a suportar prejuízos e dívidas impagáveis já no fim da vida", ressalta.
Aluguel de contas
A investigação detectou, ainda, um sistema de aluguel de contas bancárias para recebimento de dinheiro desviado. Foram mapeados marketplaces em redes sociais onde a compra e venda de contas bancárias é uma atividade difundida. Contas de praticamente qualquer banco são anunciadas por valores entre R$ 300 e R$ 500.
Com o material apreendido e as informações obtidas com os investigados, a PCDF irá focar na identificação dos líderes desses sites de venda de contas bancárias e das empresas clandestinas de telefonia VoIP que estão permitindo a modificação das binas, ajudando a disseminar esse tipo de golpe.
Devido à dinâmica da criminalidade on-line, o delegado responsável pelo caso faz um alerta. "A polícia faz seu papel repressivo, mas a população deve redobrar os cuidados com seus relacionamentos e ações nos ambientes digitais. A ampla disponibilidade de mecanismos de IA irá potencializar ainda mais a capacidade dos golpistas", avisa.
Atenção
Para a advogada especializada em direito do consumidor e cível Giulia Mayrink Ghazi, as pessoas precisam estar atentas às ligações que recebem, isso porque as instituições raramente telefonam para pedir dados bancários. "Ao fornecer certos dados pelo celular ou WhatsApp, as pessoas ficam vulneráveis a esses criminosos. Na maioria das vezes, não são funcionários do banco e só querem lesar o consumidor", explica.
"Infelizmente, a utilização de métodos on-line para atendimento ao cliente vem gerando um excesso de confiança. Muitas vezes as pessoas, já acostumadas a tratar suas questões bancárias por essas vias, acreditam na veracidade de tudo que é dito. Por vezes, criminosos utilizam número parecido com o da instituição financeira, mas às vezes com um DDD diferente. É importante estar atento e, em caso de dúvidas, entrar em contato ou ir ao banco", pontuou.
Denúncia
A PCDF alerta que a venda de contas bancárias pessoais para terceiros pode ser considerada lavagem de dinheiro e participação em crime de fraude eletrônica, com penas que variam de quatro a oito anos.
A polícia pede que quem tiver informações sobre o paradeiro do suposto líder da quadrilha, Wallyson Rodrigues de Oliveira, se os seguintes canais para denunciar anonimamente: telefone 197 opção 0; e-mail denuncia197@pcdf.df.gov.br; ou o WhatsApp (61) 98626-1197.