ESPORTE

Atletas do DF podem ficar fora de Mundial de canoa por falta de patrocínio

Classificadas com o melhor tempo do Distrito Federal, integrantes da equipe de canoa havaiana do Clube de Remada Kaluanã veem o sonho de participar do campeonato Mundial da categoria, no Havaí, ameaçado por falta de apoio

Independentemente da modalidade, conquistar vaga para um campeonato mundial é um grande desafio para qualquer atleta. No entanto, para alguns, essa é apenas a primeira das dificuldades encontradas ao longo do caminho. Essa é a realidade das atletas do Clube de Remada Kaluanã (@clubederemadakaluana), equipe feminina de canoa havaiana que, após conseguir a tão sonhada classificação para o Mundial deste ano, se vê sem apoio para financiar os custos da competição e está ameaçada de não participar do torneio, apesar de ter sido classificada com o melhor tempo do Distrito Federal.

Neste ano, o Mundial de Va'a — como também é conhecida a modalidade — ocorrerá no Havaí e todos os custos para participação no evento — inscrição, deslocamento, hospedagem e alimentação — são responsabilidade das equipes classificadas. "Para o Havaí, tudo é extremamente caro e por nossa conta, por conta dos atletas", explica a capitã da equipe, Ana Paula Reis, 44, mais conhecida como Paulinha. Com a competição já às portas, marcada para 13 a 24 de agosto, as brasilienses estão correndo contra o tempo. 

Para conseguir as passagens aéreas, a equipe do Kaluanã tem tentado o apoio do Compete Brasília, programa do Governo do Distrito Federal (GDF) que financia o deslocamento de atletas do quadradinho para competições nacionais e internacionais. No entanto, desde que enviaram a solicitação ao programa, em março, ainda não tiveram um retorno efetivo do órgão, inclusive, com alguns dos pedidos indeferidos sob a alegação de falta de verba. "Mas, pelo Portal da Transparência, sabemos que há, sim, recurso", reforça a capitã. 

Apreensivas com a falta de atualizações no resultado dos pedidos, que ainda constam como em análise para a maior parte das atletas, elas esperam por um pronunciamento oficial do Compete — visto que, segundo a equipe, outras atletas do DF da mesma categoria já obtiveram resposta positiva do órgão. Ao todo, a equipe é formada por oito atletas. "Nós enviamos toda a documentação desde março. Faltam apenas dois meses para o Mundial e nossos pedidos não foram aprovados", reclama Paulinha. 

A capitã conta que, para a equipe, a participação sem apoio financeiro é inviável, uma vez que a maioria das atletas não têm condições de arcar com os custos por conta própria. "A gente ainda está em busca de patrocínio. Estamos desde o ano passado tentando, mas não conseguimos nada realmente efetivo", lamenta. Paulinha conta que, apesar de terem conseguido apoio de uma clínica de fisioterapia, a equipe nunca foi apoiada com investimento financeiro propriamente dito.

Fotos: Carlos Vieira CB/DA Press - Crédito: Carlos Vieira CB/DA Press. Brasília DF. Cidades. Cidades. Atletas mulheres de Brasília irão disputar o Campeonato Mundial de canôa havaiana que será realizado no Havaí.

Desafios

Para a nutricionista e atleta da equipe Ludimyla Rodrigues, 44, mesmo fora do período de competições, a falta de patrocinadores se apresenta como uma das maiores dificuldades do time. "A questão financeira tem muita importância, pois os equipamentos, os campeonatos e todo o suporte necessário para que um atleta tenha bom desempenho são dispendiosos", assinala. 

A nutricionista relata que começou a remar há um ano e meio, na própria base da Kaluanã, sediada no clube Asbac. "Após um mês de aulas, participei de um campeonato de canoa havaiana em Brasília, em março de 2023. A capitã Ana Paula me convidou para integrar uma equipe feminina de estreantes", lembra. A atleta narra que, a partir daquele momento, a frequência dos treinos aumentou e o clube consolidou duas equipes femininas: uma na categoria master e outra na open.

Foi em outubro do ano passado que a equipe se classificou para o Mundial. A vaga foi disputada por outros 723 atletas do Brasil, no Campeonato Brasileiro de VA'A Velocidade 2023, ocorrido no Lago Paranoá. Elas obtiveram a 4ª classificação nos 1.500m do open feminino e a 5ª nos 1.000m do master feminino, sendo assim a equipe mais bem classificada do DF.

Atingir essa marca não foi nada fácil. Ludimyla conta que, durante o processo de preparação para o campeonato, a rotina de treinos foi extremamente árdua. "Essa rotina inclui não apenas os treinos de remo, mas também sessões de fisioterapia, acompanhamento nutricional, preparação física e boas horas de sono", detalha.

Além disso, as atletas precisam conciliar o remo em alto rendimento com diversas outras obrigações. "Todas nós trabalhamos fora, o que torna essencial saber administrar a vida profissional, a vida familiar e a rotina de treinos. Como não vivemos do esporte e para o esporte, equilibrar tudo isso requer muita disciplina e superação", garante a nutricionista. "Como não temos nenhum apoio de patrocínio privado, conseguir as passagens por meio do programa já seria um terço do que a gente precisa para ir", reforça a nutricionista, em referência à necessidade de liberação da verba pelo Compete.

Em resposta ao Correio, o Compete Brasília afirmou que o processo das atletas está dentro da normalidade, visto que o programa tem, de acordo com a Lei n° 5.797, o prazo máximo de 15 dias antes da data prevista para embarque para notificar os interessados da decisão sobre o pleito. De acordo com Patrícia Gonçalves, diretora de Apoio aos Atletas da Secretaria de Esporte e Lazer do DF, todas as respostas de processos atendidos pelo programa ocorrem bem antes do tempo previsto pela lei, e a prioridade vai para as competições que ocorrem primeiro no calendário.

Apesar das dificuldades, a equipe segue de cabeça erguida. Hoje, como conta Paulinha, a preparação para o Mundial está a todo vapor, com direito a treinos de terça a domingo. "Minhas expectativas são as melhores possíveis. Como mulher de 44 anos, conquistar essa vaga, mesmo como atleta amadora, me enche de orgulho e me faz sentir forte o suficiente para dar o meu melhor no Campeonato Mundial. Faremos o nosso melhor", assegura Ludimyla. "A dificuldade em conseguir patrocínio já era previsível e é frustrante. No entanto, não vamos desanimar e vamos batalhar de todas as formas para garantir nossa participação", finaliza.

*Estagiária sob a supervisão de Sibele Negromonte

 

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FRASE

Como mulher de 44 anos, conquistar essa vaga, mesmo como atleta amadora, me enche de orgulho e me faz sentir forte o suficiente para dar o meu melhor no Campeonato Mundial"

Ludimyla Rodrigues, atleta