Entrevista | Celina Leão | Vice-governadora do DF

'49% dos pacientes da saúde do DF vêm do Entorno', diz Celina Leão

Ao CB.Poder, a vice-governadora avaliou os problemas na área de saúde, destacou que 49% dos atendimentos realizados no DF vêm do Entorno e antecipou que serão contratados servidores na educação e na segurança pública

Em entrevista ao programa CB.Poder — parceria do Correio Braziliense e a TV Brasília —, ontem (31/5), Celina falou sobre o cenário da saúde e avaliou que os problemas são pontuais, não são estruturantes, e que estão sendo tratados com atenção pelo Governo do Distrito Federal (GDF). Ela destacou ainda que 49% dos atendimentos na rede pública de saúde do DF vêm do Entorno. Celina informou que, nos últimos cinco anos, foram investidos R$ 48 bilhões na saúde pública do DF e foram contratados mais de 12 mil profissionais de saúde, além da construção de sete Unidades de Pronto Atendimento (UPAs). A vice-governadora prometeu ainda a construção de mais 10 UPAs até o fim do mandato.

Celina Leão detalhou medidas de reforço de profissionais na área da educação. Segundo ela, dos 4 mil novos servidores da área que serão contratados, 3.200 serão professores, 680 gestores públicos, e o restante orientadores educacionais. Sobre a contratação de novos policiais civis e militares, ela anunciou que o GDF está finalizando o processo burocrático para a contratação de 800 policiais civis e 1.200 militares ainda este ano.

Como a senhora está vendo os problemas na saúde do DF?

A gente primeiro tem que pontuar tudo que foi feito na saúde pública do DF. A gente avançou. A gente tem um entendimento que o Distrito Federal tem um processo migratório muito grande. Hoje, 49% dos nossos atendimentos são frutos da região do Entorno. Nós investimos mais de R$ 48 bilhões em cinco anos na saúde pública do DF. Só de contratação foram mais de 12 mil. Construímos sete UPAs, assinamos agora a construção de mais 10 novas. Então há um crescimento da oferta do atendimento, mas mesmo assim há um crescimento migratório paralelo no DF. Nós ganhamos uma cidade de Aracaju nos últimos 10 anos. Isso não nos dá o direito de não nos preocuparmos com coisas graves que acontecem na saúde pública. Mesmo com o tanto de investimentos que temos feito, a gente se depara com as coisas que têm acontecido na saúde pública. Nós tomamos medidas enérgicas nos últimos dias. O assunto são as mortes das crianças. Todas elas (as mortes) têm uma responsabilidade objetiva porque todas passaram por um médico ou uma médica da Secretaria de Saúde. Foi tomado todo o procedimento administrativo interno e também está sendo apurado pela Polícia Civil. Mediante tudo isso, estamos fazendo o programa Humanizar, que já existia dentro do Iges e na Secretaria de Saúde. Estamos fazendo um reinvestimento na qualidade do atendimento do nosso profissional. Temos gente muito boa, profissionais de carreira. Estamos investindo em cursos de capacitação, ampliando e tomando providência dentro de cada situação que ocorreu. 

O que chama atenção são pontos como manutenção de ambulância, não parece ser muito complexo. Como isso está sendo tratado na Secretaria de Saúde?

As manutenções das ambulâncias estavam sendo feitas pela Secretaria de Planejamento. A partir do momento em que a Lucilene entendeu que isso precisava ser tocado internamente, foi passado para a Secretaria de Saúde. Conseguimos tirar do papel uma licitação que, há 10 anos, se falava sobre a contratação de ambulância para fazer o transporte entre hospitais. O Iges tem um contrato próprio com uma empresa que presta serviço e transporta paciente do Iges para a nossa rede pública. Essa empresa que presta serviço para o Iges foi notificada, porque houve uma má prestação de serviço, uma responsabilização objetiva, tomamos todas as providências, a secretaria notificou o Iges que notificou a empresa. Essa semana, saiu no Diário Oficial a licitação da SES para esse transporte de pacientes que vai permitir que o Samu faça a prestação de serviço só para pessoas que tiveram trauma. Mas, o transporte de paciente entre a rede da SES será feito pela empresa que ganhará a licitação.

O DF e o Brasil enfrentaram uma epidemia de dengue neste ano. O GDF implementou um reforço no sistema de saúde que foram as tendas de hidratação da dengue, que serão desativadas agora. Qual o balanço dessa medida?

As tendas atenderam 50 mil pessoas, com aprovação de 98% dos usuários. Foi um serviço complementar que precisamos por um tempo específico. Isso evitou um caos total na nossa saúde pública, porque essa dengue fez cair plaquetas dos infectados, trazendo a necessidade de internação e até de UTI. Eu não consigo calcular quantas vidas poupamos. Inclusive, muita gente que não conseguiu atendimento na rede privada foi atendida nas nossas tendas. Agora é preciso todo um trabalho nacional de prevenção, porque houve uma mutação no vírus, que já foi identificado como um vírus muito mais letal.

O que a senhora acha que aconteceu de 2022 para agora em relação à saúde?

Tivemos uma pandemia no meio do mandato passado e todo o esforço foi para salvar vidas naquele momento. Graças a Deus, saímos exitosos disso. O governador Ibaneis nunca negou a epidemia da covid. Foi o primeiro governador que fez o lockdown. Estamos tirando do papel três hospitais que estão sendo licitados agora, inclusive com ordens de serviço já lançadas. Todo um planejamento de saúde vem sendo construído pelo nosso governo desde o mandato passado, inclusive com a entrega de sete UPAs no ano passado, assinamos nesta semana a construção de 10 novas UPAs. Todos os meses, fazemos contratação de servidores. Vamos ter que mandar para a Câmara Distrital uma alteração na LOA (Lei de Diretrizes Orçamentárias) para que a gente possa fazer a contratação de enfermeiros, técnicos e médicos, porque aquilo que a Câmara Distrital colocou no orçamento para que fossem contratados os servidores, 100% foram contratados. Agora, há por parte da oposição uma antecipação de uma campanha eleitoral. Já não se falam mais do governo Ibaneis, falam governo Ibaneis e Celina. Eles falam daquilo que eles não deram conta de fazer. Entregaram um governo para nós com a saúde sucateada. Só de cozinhas de hospitais que nós reformamos foram cinco. Falaram de sucateamento de coisas que eles não fizeram, de UPAs que não construíram, de servidores que não contrataram. E falam hoje sobre CPI de Saúde. Eles deveriam investir em saúde. Muitos dos deputados da oposição que assinaram a CPI investiram zero em saúde. Alguns deles têm 90% das emendas parlamentares investidas em cultura. Não tenho nada contra a cultura, apoio e defendo. Mas, falar em saúde onde temos acontecimentos pontuais... Não temos problema de saúde como tivemos na época do Agnello e do Rollemberg, corrupção na área da saúde. São atendimentos pontuais que houve falhas humanas que estão sendo apuradas. Nesse tipo de situação onde se faz um alarme que não é verdadeiro sobre os nossos servidores faz com que muitos profissionais não queiram vir para a rede pública. Estão fazendo um desserviço para a população. Primeiro que tinham que dar exemplo e investir na saúde. Segundo que, da maneira como atacam nossa rede, muito profissional fala que não vai ficar porque se ele atender alguém e a pessoa vir a falecer ou ter algum problema, porque isso está passível de acontecer com qualquer pessoa que dê entrada na rede pública, ele vai ser responsabilizado e passar por um processo na Polícia Civil. Então, é importante a gente deixar muito claro que há um processo eleitoral antecipado. Nós não temos problemas estruturantes generalizados, temos problemas pontuais que todos estão sendo analisados e, com toda a firmeza do Estado, fazemos toda a fiscalização e a punição daquilo que está acontecendo. Claro que nunca vamos dar conta 100% de uma demanda que cresce todos os dias. A saúde sempre terá demandas e a gente tem enfrentado todas elas com a cabeça erguida, com muito trabalho e muito investimento. Os números não mentem.

Assista à entrevista completa

O GDF também tem ações importantes na área da educação. O que a senhora pode falar a respeito?

Essa semana é muito especial para nós. O governador Ibaneis autorizou a contratação de mais de 4 mil servidores para a educação do Distrito Federal, sendo 3.200 professores, 680 gestores públicos e também orientadores educacionais. É uma contratação importantíssima, talvez uma das maiores da história dos últimos tempos. A educação é uma área que temos muita prioridade, temos cuidado com muito carinho. Temos a segunda menor taxa de analfabetismo do Brasil, aderindo a todos os programas do governo federal. Acredito que a educação está em um caminho certo. Sabemos que o profissional da educação precisa de valorização e educação.

Esse chamado é uma resposta à alta demanda. Houve um número muito grande de matrículas?

Sempre há uma necessidade de ampliação de vagas, até por conta do processo migratório aqui no DF. A secretaria de Educação, às vezes, precisa ampliar 10 mil, 15 mil vagas. Até construindo as salas de aula de forma acoplada, com um método construtivo mais rápido, para tentar dar resposta na medida em que as pessoas solicitam as vagas. A secretaria de Educação tem trabalhado muito. Precisamos falar também sobre as creches que foram criadas e no cartão creche. Assumimos o governo com quase 30 mil pedidos de vagas de creche, conseguimos 15 mil vagas. Temos trabalhado com novas creches sendo construídas, outras sendo conveniadas. Lançamos o cartão creche para ampliar e ofertar vagas para as entidades que fazem credenciamento na Secretaria de Educação.

Além da educação, o GDF está investindo também em capacitação. As inscrições estão abertas para o Qualifica DF e o Renova DF. De que forma o GDF vai oferecer essas capacitações buscando diminuir os índices de desemprego?

Temos muito orgulho desse programa, porque ele dá oportunidade para que as pessoas consigam entrar no mercado de trabalho. Temos um dos menores índices de desemprego na história do DF, que foi registrado nesta semana. São mais de 50 mil pessoas capacitadas pelo Governo do Distrito Federal. Isso dá condição para que a pessoa saia buscando um emprego com a condição necessária. Há um processo de acompanhamento da secretaria de Trabalho desde encaminhar a pessoa à Agência do Trabalhador à buscar vagas de acordo com os cursos que as pessoas foram capacitadas. Temos o Renova DF, que dá uma bolsa para que a pessoa consiga se capacitar, e o Qualifica, que qualifica dando uma condição para que a pessoa assista os cursos. São programas vitoriosos e estão abertas novas vagas tanto no Renova quanto no Qualifica. Lembrando que temos dentro destes cursos percentuais para mulheres vítimas de violência e pessoas em situação de vulnerabilidade.

Estamos entrando na semana do Meio Ambiente. Uma das questões importantes no DF são as questões das águas pluviais. Como está a obra que o GDF está conduzindo dentro deste tema?

É uma obra caríssima, custa mais de R$ 300 milhões. É uma escavação grande, com túneis enormes, está quase tudo pronto. A obra está sendo acompanhada de perto pelo governador Ibaneis. Até o final do ano, o projeto está sendo inaugurado. Vai resolver um problema histórico que são as inundações na Asa Norte e que prevê qualquer tipo de situação do futuro, trabalhando com a prevenção. Temos muito orgulho do programa Drenar DF, é um programa de captação de águas.

Além do Drenar DF, há outras obras de infraestrutura acontecendo?

Nos criticam pelas obras, mas vai perguntar para o morador que consegue chegar de 20 a 30 minutos mais cedo em casa. A gente pede desculpas pelo transtorno, mas sabemos que logo melhora o local onde as pessoas moram e a infraestrutura de mobilidade. O DF não tem pensado só em obras de infraestrutura, mas também na mobilidade. Hoje, somos a segunda capital com maior ciclovia do país. A ideia é que a pessoa consiga mobilidade. A ciclovia não é só esporte e saúde, é também mobilidade. Além das grandes obras que inauguramos — Riacho Fundo II, Túnel Rei Pelé, Sobradinho, Itapoã, Paranoá — nesta semana, lançamos mais um grande viaduto no Setor Militar Urbano, que precisava do anel viário do Parque Burle Marx, que foi feito, entregamos nesta semana. O novo viaduto vai beneficiar todas as pessoas que saem da Epia, do Setor Militar e do Noroeste, para que tenham a fluidez necessária. Compramos também mais vagões para o Metrô. Uma obra puxa a outra. Terminamos o viaduto de Planaltina e a população pediu a terceira faixa. Já iniciamos a obra da terceira faixa. Serão 10 novos vagões para reforçar o Metrô.

A população está questionando a nomeação de 800 policiais civis. A senhora pode falar sobre isso?

Estive na câmara federal e conseguimos colocar no orçamento. Não tinha essa previsão orçamentária para a contratação de policiais militares e civis. Estamos terminando o processo burocrático para chamarmos os policiais civis, são 800 policiais civis e também os 1.200 militares. Será este ano.

*Colaborou Luis Fellype Rodrigues, estagiário sob a supervisão de Márcia Machado

 


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