O tradicional Taguacenter foi inaugurado em 1973. Quatro anos depois, Francisco de Souza Leite, 76 anos, mais conhecido como Seu França, chegou ao local para abrir o Armarinho Novidades. Mas a história dele com a cidade começou em 1970, quando veio do Piauí. "Abri um armazém que vendia cereais, na CNG 4. Mas, com o passar dos anos, começaram a surgir os supermercados e percebi que não dava mais para trabalhar nesse ramo, pois a clientela estava migrando para esses estabelecimentos", lembra.
Foi quando Seu França decidiu ir para o Taguacenter, em 1977. "Comecei com uma banca bem menor do que a atual e o negócio foi dando certo com o passar do tempo. Gosto tanto daqui, que tenho a vontade de, quando 'me chamarem', vou levar a loja comigo, para vender para quem já se foi lá no céu", brinca.
O comerciante destaca a presença da família nos negócios. "Trabalho com a minha mulher e, sempre que nascia um filho, trazia eles para ficar embaixo do balcão", recorda. "Todos os quatro filhos me ajudaram em algum momento, mas, atualmente, somente as duas meninas estão comigo, e a ideia é passar o negócio para elas. Isso se eu não puder levar comigo", ri Francisco.
Humildade
Para ele, o momento marcante das mais de quatro décadas de história no Taguacenter foi a pandemia da covid-19. "Estava acostumado a sempre estar crescendo nas vendas e, quando veio o lockdown, as coisas começaram a mudar, senti um baque. Cheguei a pegar a doença logo no início e fiquei mais de um mês internado", conta.
O proprietário do armarinho afirma que, quando saiu do hospital, decidiu voltar a trabalhar, mesmo estando debilitado. "Pensei que não podia abandonar o negócio, pois sabia que a minha presença é muito importante aqui dentro", ressalta. "Estou satisfeito com tudo que conquistei, até porque continuo mantendo meus funcionários. Tem pessoas que são praticamente filhos da casa, estão aqui há mais de 30 anos", acrescenta.
Sobre a afetividade que o comércio possui, o comerciante comenta que tem uma "satisfação muito grande" por todos os clientes que passaram pelo local. "Muitas pessoas falam que vieram aqui com a mãe, a avó e, agora, estão trazendo os filhos", diz. "Tenho uma relação muito boa com meus clientes, até porque sou uma pessoa humilde e que sempre procura estar perto do cliente para entender o que ele está querendo", observa Francisco.
Referência
Além de fazer parte da história de pessoas que ali ergueram um negócio para sustentar a família, o Taguacenter também foi responsável por marcar a vida dos que chegaram a Taguatinga ainda crianças e tiveram o lugar como destino de muitos passeios.
Nos corredores do local, a reportagem encontrou as três irmãs Zanzi Vieira, 66 anos, Eunice Vieira, 62 e Lauri Vieira, 58. Juntas, viviam um momento nostálgico, estavam ali para relembrar a época da infância/adolescência e as memórias no Taguacenter. "Nosso pai veio na época da construção de Brasília, em 1960, e, em 1962, trouxe o restante da família. Quando chegamos a Taguatinga, enfrentamos uma poeira danada, tínhamos que ficar trancados dentro do carro para não morrermos sufocadas com tanta poeira, era tudo de terra, muito frio, e as casas todas de madeira", lembra Eunice. A família vivia na QND 36, em Taguatinga Norte.
Ela conta que, diferentemente das irmãs, que hoje vivem em Samambaia e no P Sul, mudou-se para Pouso Alegre, em Minas Gerais. "Agora, vim para visitar minhas irmãs e fiquei com saudade, queria ver como estava o Taguacenter, parece até mentira, mas eu as convidei porque queria ver como ficou o Taguacenter depois de tantos anos", diz. Empolgada, enquanto admirava as vitrines, achou tudo muito diferente, "hoje está tão apertado. Naquela época, parecia tudo tão grande e com muitas lojas, estou muito feliz de estar aqui com as minhas irmãs, está incrivelmente diferente", ressalta.
As irmãs contaram que, na infância, a diversão era passar pelo Taguacenter para fazer compras. "Era tipo um shopping. Tinha também o Mercado Norte, comprávamos verduras lá e as melhores coisas aqui, que era muito chique, por isso estou aqui hoje, depois de quase 60 anos", acrescenta Eunice.