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DESPEDIDA

Roberto Pires Campos, o engenheiro que viu Brasília nascer

O pioneiro Roberto Pires Campos faleceu aos 91 anos, nesta terça-feira (25/6). Ele deixa sete filhos, 10 netos e duas bisnetas

Roberto Mauricio teve uma legião de admiradores conquistados ao longo de uma vida de realizações 
 -  (crédito: Arquivo Pessoal)
Roberto Mauricio teve uma legião de admiradores conquistados ao longo de uma vida de realizações - (crédito: Arquivo Pessoal)

Roberto Mauricio Pires Campos partiu nesta terça-feira (25/6), aos 91 anos. Deixou uma legião de admiradores, entre filhos, genros, nora, netos, bisnetas, cunhados, cunhadas, sobrinhos e muitos amigos que fez ao longo de uma vida de realizações.

Roberto Mauricio foi um pioneiro de Brasília. Formou-se em engenharia civil em 1959 e veio para o Planalto Central trabalhar na construção da nova capital. Ele inspirou irmãos a deixarem a cidade natal, Catalão (GO), para construir a vida aqui. O primeiro emprego foi na Novacap, onde conheceu Lucio Costa, Oscar Niemeyer e vários outros desbravadores. Depois trabalhou como diretor de Engenharia da Caesb até se aposentar.

Tinha um gosto pelas obras, pelo saneamento básico, pelo desenvolvimento da cidade com preservação do legado dos grandes arquitetos. Uma de suas preocupações com o Distrito Federal era a questão ambiental, as bacias hidrográficas, o abastecimento de água. Temia o uso da ponte da barragem do Paranoá, construída apenas para pequeno tráfego e hoje transformada em via de acesso com alto fluxo de trânsito.

Quando ele chegou aqui, o Lago Paranoá nem existia, os monumentos estavam em obras. Ele viu a Esplanada dos Ministérios ser erguida e as quadras do Plano Piloto surgindo uma a uma. Era engenheiro registrado no CREA-DF sob o número 12. Era um engenheiro apaixonado pela profissão.

Em Brasília, constituiu família. Com a primeira esposa, Zulma Monteiro de Castro, teve três filhos: Flavia, Tharsis e Ana Maria. Depois, casou-se com Maria Carmen Germano Braga com quem teve a caçula, Roberta.

Mas a família era maior. Contava sete filhos porque Mariana, André e Mila, filhos de Maria Carmen, foram criados como seus. E assim tinha 10 netos: Juliana, Victor, Mariana, Júlia, Isabela, Valentina, Catarina, Maya, Beatriz e Renato. Recentemente estava radiante com a chegada de duas bisnetas, Alice e Clara Luna, nascidas no ano passado.

Ele sempre foi um pai amoroso, mas os filhos e netos se tornaram uma razão de vida depois que ficou viúvo há dois anos e quatro meses. O engenheiro nunca superou a ausência de seu grande amor, Maria Carmen.

Roberto Mauricio nasceu em Catalão, morou 40 anos em Brasília, mas nos últimos 25 anos vivia no Rio de Janeiro, para onde se mudou depois da aposentadoria. Sempre pensava em voltar para Brasília, mas a vida no Leblon, onde costumava andar pelas calçadas, conversando com vizinhos, perto do mar, fez com que optasse pela permanência na cidade.

Roberto faleceu após ficar uma semana internado na Casa de Saúde São José, no Rio de Janeiro, onde estava sob cuidados médicos. O velório ocorrerá nesta quarta-feira (26/6) e, logo depois, ele será cremado, no Rio de Janeiro. As cinzas serão depositadas no jazigo da família em Catalão.

À reportagem, Mariana Campos, uma das netas, contou que o avô sofreu uma queda e quebrou três costelas. Depois houve complicações que provocaram a morte ontem às 17h45. Ele partiu cercado pelos filhos, em paz.

Amor pela profissão

Em uma entrevista concedida ao Correio Braziliense em 2015, o pioneiro falou sobre a chegada na capital. "Aqui era um canteiro de obras. Todo mundo trabalhando para a mesma coisa, com o mesmo objetivo", contou. "Hoje, olhar a capital me dá sensação de recordação. Quando terminou a construção, de repente, tudo mudou. Virou uma cidade e já mudou também o relacionamento das pessoas. Quando vejo um problema ou outro fico sentido, mas as coisas não são estáticas", completou.

Mesmo aposentado, Roberto deixava transparecer o amor pela profissão aos familiares. "Lembro de vê-lo com a trena na mão diversas vezes. Ele era curioso com essas coisas", observa a neta Mariana.

Mariana Campos descreve o avô como uma pessoa super bem humorada, e que, mesmo com poucas palavras, nunca deixou de fazer comentários inteligentes e espirituosos. "Ele jogava baralho com a gente. Ensinou os filhos e netos a tomar gosto pelas cartas, algo que a gente faz hoje em dia como tradição familiar. Claro que era sempre muito difícil ganhar dele, mas, de vez em quando, a gente conseguia", ressalta Mariana.

De acordo com Mariana, o avô sempre foi reservado, mas muito carinhoso. "Ele amava tomar café da manhã com a gente e saía sozinho pelas ruas do Rio para ir ao supermercado comprar pão e frutas para o café. Sempre tinha um sorriso no rosto e era amado por todo mundo", finalizou."Ele era rico em amor, paz interior e sabedoria", reforçou a neta Catarina.

Roberto Mauricio era o nosso pai. Um homem amoroso, doce, que vivia para a família. Teve uma boa vida. Fez muitas viagens, a primeira à Europa em 1959, onde passou dois meses com a turma da universidade. Viajou sob incentivo do pai, Tharsis Campos, quando uma temporada europeia como essa era uma aventura para um recém-formado.

Papai foi muito feliz, construiu uma linda família e se realizou no trabalho. Era uma pessoa simples e conquistou tudo o que quis. Chegou a hora de partir. Mas, para nós que o amamos, é muito difícil e doloroso dizer adeus.

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postado em 26/06/2024 03:00
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