A Casa de Parto de São Sebastião — no Distrito Federal — é referência no chamado parto humanizado. Por ele, a gestante determina o momento e a forma como dará à luz, sem ser limitada por metodologias e intervenções médicas convencionais, exceto em caso de algum problema. O centro obstétrico é o único da rede de saúde pública regional em que é oferecido esse serviço, com grande procura por mães moradoras em São Sebastião, Paranoá, Itapoã e Jardim Botânico.
A inauguração da casa foi em 2001, contando à época com um médico obstetra. Em 2009, o atendimento passou a ser prestado, exclusivamente, por enfermeiros obstetras e técnicos de enfermagem, modelo de assistência em vigor atualmente, 15 anos depois.
Ao longo da última década e meia, até maio de 2024, mais de 5,5 mil bebês chegaram ao mundo com a ajuda de profissionais dessa unidade. Nos últimos três anos, houve 37 partos mensais. Um deles foi o do pequeno Caetano, nascido na última quinta-feira.
Ana Júlia Ribeiro de Rezende, 19 anos, mãe desse novo brasiliense, contou haver começado a sentir as contrações na noite do dia anterior. Ela e o marido, o profissional de desenvolvimento rural Luann de Barros Silva, 29, saíram do Jardins Mangueiral, onde moram, e foram para Casa São Sebastião por volta da meia noite. Eles sabiam o momento certo de pedir ajuda devido às instruções dadas em uma das chamadas "rodas de conversa", encontro organizado pelo unidade. Entre outros conhecimentos recebidos, aprenderam a cronometrar os intervalos do movimento uterino.
Outro ponto que a dupla de pais de primeira viagem considerou relevante foi que as reuniões ajudaram a fazê-los entender como seria o processo humanizado no nascimento do filho. Eles foram informados sobre os benefícios do procedimento e como seria o grande momento, além de terem esclarecidas algumas questões, como a do corte do períneo no momento do nascimento. Essa medida deixou de ser um recomendada em partos naturais.
Internada às 4h30, Ana Júlia disse que, como estava com frio, optou por ter o trabalho de parto no chuveiro, com água quente. "Eu escolhi a posição e onde eu queria ficar. Fez bastante diferença saber que eu podia ficar como eu quisesse. É um momento muito difícil e desafiador, e esse apoio é fundamental", relatou a estudante. Ela acrescentou que "quando ele (Caetano) nasceu, eu desabei. Foi muito bonito. Fiquei muito feliz, aliviada e satisfeita com o acolhimento da casa", relatou.
Por sua vez, o pai disse que "ter visto meu filho nascer foi uma experiência única e inigualável. Eu fiquei muito realizado de poder participar e não sabia que isso era possível".
Qualidade
"Mesmo sendo uma unidade pública, nós nos sentimos em uma unidade particular. Tínhamos privacidade, ficamos num quarto só eu, meu esposo e minha filha, com porta fechada. As enfermeiras pediam licença para entrar, se desculpavam por acender a luz. Tinha ar-condicionado em funcionamento dentro do quarto, o que nos deu muito conforto, e até conseguimos descansar", lembrou Ludmilla Feitosa da Silva, 29, que deu à luz a Heloíse, em 6 de janeiro.
A técnica em secretariado contou que foi atendida 10 minutos após chegar à unidade. "Eu já estava em trabalho de parto e tive a Heloíse em meia hora. Não tive nem tempo para pensar bem em como eu queria (o parto) naquele momento", comentou a mãe, que fez questão de destacar a atenção das enfermeiras.
Na Casa de Parto de São Sebastião, a equipe — formada por 14 enfermeiros obstetras e 13 técnicos de enfermagem — trabalha apenas com pacientes consideradas de baixo risco ou dentro de parâmetros que mostrem não estarem com perigo.
A gerente da instituição, Luciana Moreira, explicou que, no parto humanizado, a mulher é quem define como quer passar por esse momento tão importante. "Ela tem a opção de fazer o parto na água, acocorada ou no chuveiro, por exemplo, ou até caminhar e usar exercícios que vão facilitar o trabalho. Esse tipo de parto é preconizado pelo Ministério da Saúde, porque, além de ser mais rápido, também é mais seguro", detalhou.
No entanto, para a interessada ter acesso a esse tipo de procedimento, precisa passar por avaliação prévia e cumprir critérios que garantem a evolução segura do nascimento do bebê. Entre esses requisitos estão ausência de doenças gestacionais e tempo adequado de gestação.
Sobre as rodas de conversa, Luciana esclareceu que a São Sebastião promove dois encontros por mês, um presencial e outro on-line. "Nós explicamos tudo para a mulher: o funcionamento da nossa unidade, quando ela vai entrar em trabalho de parto, quais são os sinais de risco que demandam um atendimento hospitalar, a evolução do trabalho de parto e os recursos que vão ajudar na evolução mais rápida e no alívio da dor", disse.
Indo além
Outra ação realizada pela casa é a coleta de leite humano, com o objetivo de auxiliar mães e bebês com dificuldades na amamentação. Desde março, a casa também passou a oferecer o contraceptivo Dispositivo Intrauterino (DIU) a mulheres que deram à luz na unidade.
A Secretaria de Saúde do Distrito Federal (SES-DF) informou que existe previsão de construção de novos centros de parto normal (CPNs) na capital. Em Ceilândia, a obra foi selecionada pelo Programa de Aceleração do Crescimento (Novo PAC) e, atualmente, se encontra em fase de elaboração de projetos. Também há projeto para implantar um CPN intra-hospitalar no Hospital Regional de Planaltina. A área de obstetrícia da unidade está passando por uma revitalização. Ainda segundo a pasta, a Casa de Parto de São Sebastião será revitalizada. Os prazos para as obras não foram informados.
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